Depois de andar a navegar à deriva pelo Espaço, intrigando a comunidade científica deixando muitos a questionar-se acerca da sua origem, um destroço do que se acredita ser parte da missão lunar chinesa Chang'e 5-T1 vai colidir hoje com a Lua, sendo esta a primeira vez que um destroço desta dimensão, considerado lixo espacial, colide com o satélite natural da Terra.

De acordo com os cálculos de Bill Gray, astrónomo que descobriu a nova trajetória do objeto, espera-se que o destroço colida com o satélite natural da Terra pelas 12h25 UTC, a uma velocidade de mais de 8.851 quilómetros por hora. O impacto ocorrerá na cratera de Hertzsprung, no “lado oculto” da Lua.

Local de impacto do destroço da missão Chang'e 5-T1
Local de impacto do destroço da missão Chang'e 5-T1 créditos: NASA/LROC/ASU/Scott Sutherland (via Space.Com)

O impacto não será visível da Terra, mas a sua observação a partir do Espaço também não será uma tarefa fácil. Em declarações à CNN, a NASA explica que a sonda Lunar Reconnaissance Orbiter não se encontrará numa posição ideal para captar o momento do impacto. No entanto, a equipa responsável pela missão está a determinar se será possível realizar observações da superfície lunar e identificar a cratera provocada.

“A missão pode usar as suas câmaras para identificar o local do impacto, comparando imagens antigas com mais recentes. A procura pela cratera será algo desafiante e poderá levar semanas ou meses”, afirma a agência espacial norte-americana. De acordo com Bill Gray, há ainda uma possibilidade da sonda indiana Chandrayaan-2 conseguir encontrar o local do impacto.

À medida que avançava em direção à Lua, o destroço deixou de ser visível a partir da Terra no dia 8 de fevereiro. Antes de desparecer do campo de visão no nosso planeta Gianluca Masi, astrónomo do Virtual Telescope Project, conseguiu captar o objeto, ainda na altura em que se acreditava que era um destroço de um Falcon 9 da SpaceX. Mais tarde, tendo em conta a nova informação acerca do objeto espacial, o astrónomo atualizou a animação composta por imagens aptadas através de um telescópio robótico.

Destroço da missão Chang'e 5-T1 em rota de colisão com a Lua Destroço da missão Chang'e 5-T1 em rota de colisão com a Lua
créditos: Gianluca Masi | Virtual Telescope Project

Afinal o que vai colidir com a Lua?

Inicialmente acreditava-se que o objeto que vai colidir com a Lua seria o destroço de um foguetão Falcon 9 da SpaceX, usado em 2015 para lançar o Deep Space Climate Observatory (DSCOVR).

No entanto, a 12 de fevereiro, Bill Gray recebeu um email de Jon Giorgini, engenheiro do Jet Propulsion Laboratory da NASA, a indicar que a trajetória do DSCOVR não foi assim tão próxima da Lua e que seria estranho se o módulo do foguetão que o transportou lá fosse parar.

O astrónomo decidiu rever a informação que tinha recolhido, assim como os cálculos que tinha realizado, e apercebeu-se que o objeto que tinha identificado há cerca de sete anos não era o módulo de um Falcon 9, mas o que poderia ser um módulo do foguetão Long March 3C que levou a missão lunar chinesa Chang'e 5-T1 para o Espaço em 2014.

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Mais tarde, a China garantiu que não era responsável pelo objeto em questão. Questionado acerca do tema durante uma conferência de imprensa, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou que, de acordo com análises realizadas por especialistas do país, o módulo superior do foguetão que transportou a missão lunar chinesa para o Espaço desintegrou-se completamente e de uma forma segura na atmosfera terrestre.

Por outro lado, Bill Gray acredita que o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês ter-se-á enganado, confundindo duas missões com nomes semelhantes. Em novembro de 2020, a China lançou a missão Chang’e 5, cujo booster voltou à Terra, reentrando sobre o Oceano Pacífico, uma semana depois do lançamento.

Os riscos do lixo espacial

A colisão do objeto espacial com a Lua não apresenta perigo para a Terra e, no caso da Lua, não estão previstas consequências graves. Aliás, existem mesmo situações em que naves espaciais são intencionalmente lançadas contra a Lua. Recorde-se que o impacto lunar intencional de objetos começou na década de 1950.

Por exemplo, em 2009, a NASA culminou a sua missão LCROSS “contra” na Lua e o mesmo aconteceu com a nave espacial LADEE, no lado “oculto” do satélite natural, em 2013.

Porém, como defendeu anteriormente Holger Krag, responsável pelo Programa de Segurança Espacial da ESA, o impacto de um destroço do calibre daquele que vai colidir hoje com a Lua ilustra a necessidade da adoção de um regime espacial regulatório abrangente, “não apenas para as órbitas economicamente cruciais em redor da Terra, mas também para a Lua”.

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Atualmente, não existem diretrizes totalmente claras para regular a eliminação de naves espaciais ou módulos superiores enviados para pontos de Lagrange e as opções mais comuns passam por colisões com a Lua ou pela reentrada na atmosfera terrestre, onde os objetos são desintegrados.

Um dos grandes desafios da eliminação destes objetos espaciais continua a ser a vasta quantidade de lixo espacial gerado. Segundo especialistas, os destroços que ficam a "navegar" à deriva apresentam sérios riscos para as atuais missões espaciais e são várias as iniciativas que ambicionam combater este problema, incluindo uma nova iniciativa com "mão" portuguesa.