Quando a OpenAI lançou o seu serviço ChatGPT no final de outubro de 2022, assumiu-se como revolucionário na forma de trazer novas possibilidades e realismo à interação de humanos com inteligência artificial. Este sistema de linguagem natural pretende ser uma alternativa aos tradicionais assistentes virtuais, como o Alexa, Siri ou Google Assistant. E bastou-lhe alguns dias para obter um milhão de utilizadores.
A partir daí, developers e entusiastas de IA, ou mesmo curiosos pelo sistema, partilharam projetos em torno do ChatGPT, tornando-se um assunto viral na internet, mesmo com a ferramenta ainda em fase beta. O sistema passou a ter "resposta para quase tudo o que se pergunta" e ainda a criação de textos detalhados sobre os assuntos pedidos. Além de conversar e escrever textos, o ChatGPT pode reproduzir imagens e vídeos compilados de bases de dados das publicações online.
Mas há bastante polémica em torno do ChatGPT, começando pelo receio dos utilizadores que podem pensar que estão a falar com outro humano. Ou os alunos que estão a aproveitar as ferramentas de IA para completar os seus trabalhos, levando as universidades a adotar software para detetar o uso do ChatGPT nos trabalhos e exames. Veja-se outro exemplo de como a tecnologia também é capaz de escrever leis e até criou uma proposta para o Congresso dos Estados Unidos. O congressista Ted Lieu, que pediu ao ChatGPT que escrevesse a proposta, apelou ao Congresso que o desenvolvimento da tecnologia seja feito de forma segura, ética e com respeito nos direitos e privacidade dos cidadãos.
O enorme potencial da tecnologia tem associado o seu perigo de utilização e é a própria OpenAI que manifesta essa preocupação. No seu website oficial, dá conta de como o desenvolvimento da ferramenta pode tornar-se numa corrida competitiva sem o tempo necessário para se criar precauções de segurança. E diz que se algum projeto consciente dessa segurança surgir, antes da ApenAI terminar o seu projeto, assume o compromisso de parar de concorrer e começar a assistir esse novo sistema.
O lançamento do ChatGPT deu início porém a uma enorme concorrência e a corrida está lançada, movendo já as grandes tecnológicas, como a Google e Microsoft, mas também as gigantes chinesas Alibaba e Baidu. As empresas não pretendem ficar para trás, e aceleram o desenvolvimento para atualizar as suas plataformas de pesquisa com ferramentas de IA, como o Google Search e o Bing da Microsoft.
Microsoft e Google "dão boost" de IA aos seus motores de pesquisa
A Microsoft revelou recentemente a atualização do Bing e também do seu navegador Edge alimentados por IA. Neste caso, a Microsoft sendo uma parceira desde cedo da OpenAI, puxou para si um sistema baseado no ChatGPT para alimentar as suas plataformas. Baseado-se no Azure, a gigante tecnológica afirma que a sua plataforma é mais poderosa que o ChatGPT. Promete entregar aos utilizadores melhores resultados, respostas mais completas às questões colocadas, uma nova experiência de conversação e possibilidade de gerar mais conteúdo, desde a ajudara a escrever um email, um itinerário para uma viagem ou preparar uma entrevista de emprego.
Veja algumas das imagens
Sendo o mercado da pesquisa dominado pela Google, a introdução do ChatGPT fez soar os alarmes no interior da empresa, levando-a a definir como urgência o desenvolvimento de uma ferramenta semelhante à da OpenAI. E não foi preciso esperar muito para que apresentasse o Bard, um sistema de conversação experimentar alimentado por inteligência artificial.
Este é alimentado pelo LaMDA (modelo de linguagem para aplicações de diálogo). Este modelo é capaz de conversar, produzir texto baseado nas bases de dados de informação disponíveis na Internet. E dá como exemplo a possibilidade deste poder explicar as últimas descobertas do telescópio espacial James Webb a uma criança de nove anos, simplificando o vocabulário, se lhe for instruído para tal.
E em termos de produtos práticos, a Google revelou novidades para a Pesquisa, o Google Maps e o Tradutor alimentandos pelos seus novos sistemas de IA, previsto para os próximos meses. O Google Lens vai ser expandindo e saltar da aplicação da câmara para o ecrã principal do smartphone. E o sistema multipesquisa vai permitir pesquisar imagens e texto ao mesmo tempo.
Veja os modelos já revelados
Tal como a Microsoft, a Google lançou os primeiros produtos em testes, prometendo o seu lançamento nos próximos meses. A gigante tecnológica diz que existem testes a fazer, prometendo cumprir com os princípios éticos.
O certo é as grandes empresas começam a adotar os modelos de IA generativa, como é o caso da portuguesa Talkdesk, que adotou o mesmo motor do ChatGPT para o seu centro de contactos. O CEO Aaron Levie, disse que praticamente todas as funções de software podem ser melhoradas através da IA. Os sumários automáticos podem reduzir entre 30 a 60 segundos de cada interação, ao fazer um sumário dos pontos principais da conversa com o cliente, além de registar a disposição do próprio. Algo que até agora era feito à mão, registando um sumário do contacto, com notas como “satisfeito com o serviço” ou “demonstração agendada” que são organizadas automaticamente facilitam contactos de sequência com o cliente no futuro.
Os dados obtidos serão também críticos para criar experiências ao cliente que levem o aumento de fidelização e renovar os contratos. Mas também compreender tendências e padrões através das interações, ajudando as equipas a alterarem as suas táticas e pro-atividade para responder às necessidades dos clientes.
Gigantes chineses também entram na corrida
A Baidu é a tecnológica responsável pelo motor de pesquisa mais utilizado na China e também está a reagir ao fenómeno do ChatGPT. A empresa diz que está a concluir a fase de testes de uma plataforma IA semelhante ao da OpenAI, com previsão de lançamento em março. O nome internacional da aplicação é ERNIE Bot. ERNIE deriva da designação em inglês “Enhanced Representation through Knowledge Integration” (representação aprimorada por meio da integração do conhecimento”, em português).
No seu comunicado, a Baidu disse que nenhuma empresa na china tinha o seu nível de tecnologia em inteligência artificial, especialmente no campo do processamento de linguagem natural. A gigante do e-commerce Alibaba já se manifestou, referindo que também quer ter o seu próprio sistema de IA concorrente ao ChatGPT, disse à CNBC. Sem revelar planos concretos de funcionalidades ou de previsões de lançamento, salienta que tem vindo a trabalhar em IA generativa desde 2017 e que se encontra no meio de testes internos.
Além de ser a maior plataforma de comércio eletrónico da China, a Alibaba explora outras áreas, sendo igualmente um dos maiores fornecedores de cloud computing no país. O seu sistema de chatbot poderá ser integrado nos seus produtos e provavelmente expandir-se para outras áreas ligadas à cloud. A CNBC reporta ainda que outra gigante tecnológica está a trabalhar em IA generativa. A NetEase, uma das maiores produtoras de videojogos na China, tem a sua subsidiária Youdao, dedicada à área de educação a trabalhar nesta tecnologia. O objetivo é utilizar os modelos de linguagem em alguns dos seus produtos educacionais, mas sem assumir que pretende lançar mais uma alternativa ao ChatGPT.
Os outros concorrentes e as preocupações em torno da IA
A Anthropic é uma nova startup dedicada a inteligência artificial que foi cofundada por antigos funcionários da OpenAI. A solução que está a investigar, semelhante ao ChatGPT, chama-se Claude e já terá recebido o apoio da Alphabet, casa-mãe da Google, investiu quase 400 milhões de dólares, segundo avança a Bloomberg. A startup irá também utilizar os serviços de cloud computaing da Google na base da sua investigação.
O foco de investigação inclui a linguagem natural, feedback humano e interpretação. O Claude assume-se como uma IA Constitucional, ou seja, treinada para ser útil, sem perigo e honesta, combinando um modelo de auto-supervisão e outros métodos de segurança, como se autodescreveu num artigo da Scale.
O especialista em machine learning Jiang Chen trabalhou na Google e é o cofundador da startup Moveworks. Trata-se de uma plataforma de IA conversacional que procura resolver questões e previne problemas no trabalho. O sistema resolve pedidos de suporte técnico automaticamente, comunica mudanças e aponta à equipa o que é preciso reparar a seguir. Na prática, qualquer trabalhador consegue obter ajuda em segundos. E a IA da Moveworks é descrita como fluente em cerca de 100 línguas, permitindo ajudar as empresas em qualquer ponto do planeta.
Em declarações à Wired, Jiang Chen disse que a ferramenta de IA para pesquisa era excelente para obter todo o tipo de informação de documentos, incluindo moradas e números de telefone, embora muitos deles não fossem reais, destacando a sua impressionante “capacidade de fabricar”.
E essa tem sido uma das preocupações demonstradas, uma vez que as complexas respostas às questões colocadas são fruto de uma sintetização de informação espalhada pela internet e outras fontes que treinam estes algoritmos. E como refere a publicação, a ideia de que os motores de pesquisa estão dependentes da informação online, o que significa que podem absorver dados falsos. E as experiências em torno do ChatGPT têm demonstrado que nem tudo o que escreve é verdade.
Mesmo durante a apresentação do Bard, houve falhas das respostas colocadas, demonstrando dessa forma que as informações online podem conduzir a erros. A Google diz que está a trabalhar nesse problema, listando links com informações adicionais, fora do contexto da resposta do seu assistente de IA, como uma espécie de “double check” para a questão. A gigante tecnológica chama-lhe NORA (No One Right Answer), em que a IA fornece a resposta e a pesquisa fornece mais fontes para a questão.
O fenómeno ChatGPT também está a preocupar os especialistas em cibersegurança e de acordo com um estudo recente da BlackBerry, que inquiriu 1.500 profissionais de TI e cibersegurança, mais de metade acredita que a ferramenta possa ser utilizada em ciberataques nos próximos 12 meses.
O mercado começa a ser preenchido por diferentes startups que também estão a lançar os seus motores de pesquisa alimentados por interfaces semelhantes ao ChatGPT: You.com, Perplexity.AI e o Neeva são alguns desses exemplos. Para experimentar a sua eficácia, colocámos a pergunta aos três: “Quando foi fundado o SAPO TEK?”. As respostas foram diferentes, apresentando resultados insatisfatórios ou com falhas em todos os casos.
Veja na galeria as respostas das plataformas de IA Regenerativa à pergunta colocada pelo SAPO TEK
No caso da You.com, respondeu que foi fundado em 2021 na sua funcionalidade de Chat, falhando claramente no ano, embora tenha elaborado uma resposta sobre o portal tecnológico do SAPO, fornecendo alguns links aleatórios, do website, sem terem a ver com a pergunta. O Perplexity respondeu corretamente à data da fundação, a 11 de fevereiro de 2000, revelando os links com a fonte da informação e com sugestões de perguntas relacionadas, neste caso “quem fundou o SAPO Tek”. Aqui foi dado o crédito ao Celso Martinho, o fundador do portal SAPO, misturando alguma da informação obtida. Por fim, o Neeva forneceu a resposta em forma de link, como um típico motor de busca, apontando para o especial que o TEK preparou para comemorar os 20 anos, onde é descrita a data de lançamento.
Por outro lado, a mesma pergunta colocada ao ChatGPT teve o resultado mais inesperado. Disse que não encontrou informações sobre uma empresa ou organização chamada SAPO TEK, justificando que talvez fosse uma empresa local ou de nicho, sem provavelmente informações disponíveis na Internet. Em resposta à IA, os mais de 20 anos ao serviço da informação e com dezenas de milhares de artigos publicados online, não faltaria informação para alimentar a base das fontes do ChatGPT.
Este é um exemplo dos cuidados a ter em relação às respostas fornecidas por IA, podendo levar a erros, com maior ou menor gravidade. Em muitas situações, quando se pede a biografia de uma pessoa, a IA pode misturar elementos de pessoas com o mesmo nome e criar uma narrativa diferente, como também apontou o Wired, no sistema do You.com.
As máquinas que correm IA não são inteligentes, mas sim programadas para consultarem bases de dados. Até agora, os motores de busca, como a Google, listam resultados do que pesquisa e terá de ser o utilizador a curar a informação e a respetiva fonte. Mas sistemas como o ChatGPT absorvem a informação online e devolvem-a ao utilizador, em textos que podem conter informações corretas ou incorretas, mas que são apresentados de forma credível sem referir fontes. E isso pode alterar os comportamentos dos utilizadores quando procuram informação online, com falta de pensamento crítico e sem questionarem se o que estão a ler é realmente factual, como salienta o professor e especialista de Sistemas de Informação da Universidade IE, Henrique Dans.
E voltando à falha do sistema da Google, foi perguntado sobre as novas descobertas do James Webb, o supertelescópio espacial que está à procura de novos planetas, de forma a contar a uma criança de 9 anos. O Bard afirmou que o telescópio captou as primeiras fotografias de um exoplaneta fora do nosso sistema solar. A resposta foi errada e prontamente denunciada por diversos especialistas de astrofísica, que apontaram o feito anos antes do James Webb operar, desde 2021. Este erro, que poderia perfeitamente ser aceite nas respostas disponíveis por um sistema de IA como o ChatGPT ou neste caso o Bard, custou à casa-mãe Alphabet um afundanço no valor da bolsa em 100 mil milhões de dólares, uma quebra de 9%, segundo relatou a Reuters.
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