Por Tiago Lopes Duarte (*)

As empresas enfrentam um mar de incertezas e procuram sinais que as orientem na definição do seu rumo. Esse rumo corresponde à estratégia que a organização traça para continuar a crescer, evoluir para aquilo que ambiciona ser e cumprir a sua missão.

A estratégia, no entanto, pode revelar-se frágil. Vários estudos apontam precisamente para isso: 80% das estratégias fracassam na fase de execução. O problema é que não são comunicadas de forma eficaz; não são compreendidas para além da equipa executiva e, por isso, os responsáveis pela sua implementação acabam por falhar na sua execução.

Estratégia corporativa

Na verdade, o problema é ainda maior. Esses mesmos estudos revelam que mais de 50% do trabalho realizado pelos colaboradores não está alinhado com a estratégia. Num mundo tão acelerado como o nosso, isso torna-se crítico, já que não temos tempo para o que é realmente importante quando dedicamos metade do nosso tempo a fazer outras coisas. Como diz Victor Küppers, “andamos como galinhas sem cabeça”.

O planeamento é o farol no mar das decisões. É a forma de quantificar objetivamente a estratégia para poder medir o seu cumprimento, de forma a tomar decisões de alinhamento. Como disse Peter Drucker: “O que não se mede, não se pode melhorar”. A estratégia define os objetivos e o planeamento transforma-os em métricas que permitem acompanhar e gerir o seu cumprimento.

As organizações que lideram com base em dados e métricas superam aquelas que não o fazem. Em particular, com a integração da IA nos seus modelos de planeamento, as empresas têm hoje oportunidade de alinhar a estratégia, execução e performance em tempo real, de forma a garantir convergência organizacional, redução de riscos e antecipação de desafios e oportunidades.

Extended planning ou planeamento estendido

Dessa forma, depois de quantificada a estratégia, é possível acompanhar e controlar a sua execução para garantir que está a ser cumprida. Mas como assegurar que todos os colaboradores remam na mesma direção? Como garantir que toda empresa dedica 100% do seu tempo a trabalhar em função da estratégia? O desafio está no facto de a estratégia ser definida a um nível demasiado elevado, o que dificulta a sua aplicação às tarefas do dia a dia. É aqui que entra o conceito de extended planning (planeamento estendido): cada departamento define os seus objetivos de forma a alinhá-los com a estratégia corporativa e elabora um plano para os medir. O resultado é um conjunto de planos departamentais que se unem num planeamento global, alinhando a estratégia corporativa com as estratégias de cada área. Assim, é possível traduzi-las em tarefas concretas para cada colaborador.

Se quisermos abrir um novo mercado, por exemplo, o departamento comercial elaborará um plano de vendas, os Recursos Humanos deverão definir como objetivo a contratação de pessoal local desse país, a Tesouraria analisará o cash-flow e decidirá se será necessário financiamento ou se será feito com recursos próprios, enquanto o Controlling planeará a Conta de Resultados com base nas previsões dos restantes departamentos, etc.

O conceito de extended planning consiste precisamente nisto: estender a estratégia a toda a empresa através de modelos de planeamento específicos para cada departamento, permitindo a cada colaborador medir de forma clara se as suas tarefas estão a contribuir para a estratégia corporativa ou se, pelo contrário, continuamos como galinhas sem cabeça a realizar tarefas menos importantes, perdidos no mar das decisões.

(*) Diretor da Stratesys Portugal