O dia a dia das atletas de alta competição inclui treinos, qualificações, provas internacionais e mundiais. Os dados de desempenho desportivo estão nas mãos dos seus treinadores, mas a vida de uma atleta vai mais além. Agora estão a tirar partido de soluções de Inteligência artificial para analisar dados como sono, nutrição, humor ou cuidados pessoais e melhorar o seu bem-estar, num projeto desenvolvido pela Microsoft com a Parity, uma empresa de marketing e patrocínio desportivo centrada na eliminação da diferença de rendimentos entre homens e mulheres no desporto profissional.
“A IA generativa tem capacidade de democratizar o acesso a muitas funcionalidades, como a análise de dados, que eram, até agora, bastante dispendiosas. E as coisas que são dispendiosas não estão normalmente disponíveis para as mulheres atletas”, afirma Phillippa Thomson, cientista chefe responsável pela área de dados da Parity.
As atletas estão a registar os seus dados no Excel, para posteriormente serem analisados por Phillippa Thomson, e a utilizar o Microsoft Copilot para as ajudar no dia a dia e para “aprender a explorar as tendências dos dados sem terem de ser especialistas em estatística”, com o contributo da cientista.
A Microsoft reuniu um conjunto de testemunhos de atletas de alta competição envolvidas neste projeto de registo de dados e suporte de IA generativa com a Parity.
A halterofilista Jourdan Delacruz já levantou 200 kg num campeonato mundial, ganhou uma medalha de bronze e qualificou-se este ano novamente para os Jogos Olímpicos. Para a auxiliar na sua alimentação, recorre à IA para encontrar as receitas mais adequadas às suas condições físicas. Jourdan Delacruz pede ao Copilot ideias concretas de “jantares ricos em proteínas aprovadas por nutricionistas desportivos”. Além disso, valoriza o acompanhamento dos dados de bem-estar para melhorar holisticamente o seu desempenho (dormir melhor, praticar mindfulness, registo detalhado da alimentação). A atleta também descobriu com o Copilot, novos exercícios de alongamentos.
Jourdan Delacruz é também estudante de nutrição e fundadora da plataforma Herathlete e pretende, com este trabalho, apoiar mulheres atletas em matéria de nutrição desportiva e de desempenho, com base em evidências, e abordar questões que as afetam, como os ciclos menstruais e a densidade óssea. A halterofilista que inspirar mais mulheres a “seguirem áreas STEM ou de ciências do desporto” para explorar este tipo de tópico.
Veja na galeria imagens das atletas e a descrição dos seus registos e objetivos:
Por seu lado, a ciclista paralímpica e campeã do mundo, Samantha Bosco, usa um monitor de sono, regista os seus macronutrientes e analisa os seus dados biométricos e da bicicleta para chegar aos Jogos Paralímpicos de Paris. Os dados analíticos ajudam-na a melhorar incrementalmente o consumo de proteínas ideal para a recuperação ou auxiliar a hidratação necessária para dormir bem.
Samantha Bosco já recorreu ao Copilot para descobrir novos exercícios de mobilidade, piadas para aliviar o stress, canções para treinar, dicas para melhorar o sono e recomendações de restaurantes veganos quando viaja. Também irá utilizar a ferramenta no Excel, o que não é difícil para a atleta que tem um mestrado em contabilidade. “É empolgante ter a ferramenta como o meu assistente de dados para me ajudar a libertar algum tempo e para a aliviar o stress de ter de resolver as coisas sozinha”, explica a atleta paralímpica e defensora das pessoas com deficiência. Samantha Bosco nasceu com uma tíbia arqueada, tendo sido sujeita a várias cirurgias que a deixaram com uma perna mais curta e atrofiada, o que não a impediu de apreciar os passeios de bicicleta com o pai e tornar-se atleta de alta competição. Que mostrar às pessoas que “conseguem tantas coisas”.
Também Kendal Ellis está envolvida neste projeto. A medalhista olímpica (ouro e bronze) e velocista já percebeu que acompanhar o seu estado de espírito e as suas atividades diárias a ajudam a reforçar bons hábitos para a saúde mental. Kendall Ellis já falou abertamente sobre a sua ansiedade, que surgiu na infância sob a forma de ataques de pânico antes das competições e que muitas vezes envolvia muita conversa interna negativa.
O projeto ajudou-a a analisar o seu estado de espírito e o tempo que passa a dormir, a utilizar as redes sociais e a sair com os amigos. Com isto percebeu a importância de se ligar aos entes queridos. O projeto motivou-a a ser mais deliberada e a reunir-se com pessoas que a fazem sentir-se bem, reduzindo também o tempo passado nas redes sociais, explica a Microsoft. “Os dados dão-me apoio para me dedicar às coisas de que gosto e isso ajuda-me a ir para a competição com a cabeça limpa”, afirma a atleta.
Também envolvida no registo dos seus dados de bem-estar, a ciclista de "tandem" (um veículo parecido com uma bicicleta operado por mais de uma pessoa), Skyler Espinoza estava inicialmente cética na relevância desse registo, pois o treino como guia para provas paralímpicas nos EUA já era alvo de muitas medições. A parceira de ciclismo de Skyler Espinoza é Hannah Chadwick, que tem uma deficiência visual.
Ao trabalhar com a Parity conseguiu personalizar métricas adicionais como o ritmo cardíaco em repouso, o estado de espírito e o tempo passado em casa ou na estrada.
Depois de verificar que tinha tendência para ficar de pior humor em viagem, ajustou os seus comportamentos. “Tem sido útil estar mais ciente do que posso fazer para tornar um dia de viagem menos stressante e das ações que posso tomar para melhorar a minha saúde mental”.
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