Está a nascer um novo porto espacial e a ilha de Santa Maria, nos Açores, foi o local escolhido para alavancar as ambições espaciais de Portugal e, no futuro, da Europa. Localizado na Malbusca, ainda está numa fase inicial, mas o TEK Notícias teve oportunidade de conhecer o espaço, numa visita guiada à margem da 4ª edição da iniciativa Astronauta por um Dia.

Ainda em agosto, a portuguesa Atlantic Spaceport Consortium (ASC) viu o seu pedido de autorização para realizar atividades de acesso ao Espaço a partir da ilha de Santa Maria aprovado pela Agência Espacial Portuguesa e ANACOM. A licença é válida por cinco anos e refere-se exclusivamente à operação do centro de lançamento a localizar na Malbusca.

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Nesta fase, o espaço é composto apenas por uma placa de betão de grandes dimensões num vasto terreno, rodeado de verde, vacas e com uma vista desafogada para o oceano Atlântico. Mas, a partir dele, o ASC, que está a trabalhar para o desenvolvimento de um porto espacial aberto, com lançamentos espaciais regulares a partir da ilha açoriana, lançou em 2024 os primeiros foguetões atmosféricos Gama com recurso a plataformas móveis, tendo atingido altitudes a rondar os 5 km.

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Mara Pourré, Chief Safety Officer do ASC, explica que, além do vasto terreno disponível para fazer as infraestruturas do porto espacial, o espaço conta com várias vantagens únicas em relação a outros portos espaciais que estão a ser desenvolvidos na Europa, a começar pelo espaço aéreo pouco “congestionado”, pela ausência zonas de grande densidade populacional nas imediações e pela proximidade ao mar, que facilita toda a logística.

Segundo a responsável, todo o processo de desenvolvimento vai decorrer de forma faseada. Depois dos primeiros lançamentos de rockets atmosféricos vão seguir-se os de foguetões suborbitais.

Neste tipo de foguetão não é necessária a construção de estruturas físicas para o lançamento, sendo possível usar uma plataforma móvel, como aquela que foi construída com o apoio da Agência Espacial Portuguesa para o lançamento dos rockets Gama, num dos primeiros projetos via Agência Espacial Europeia (ESA) para o porto espacial.

Mais tarde, o objetivo passa por avançar para os lançamentos orbitais, que requerem estruturas físicas mais complexas, mas também todo um processo de licenciamento, indica Mara Pourré. Já para esta fase, a ideia do ASC é ter duas plataformas de lançamento integradas na Malbusca.

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Estão a ser consideradas as possibilidades de serem instalados escritórios que vão dar acesso às operações que decorrerão nas plataformas de lançamento, além de um hangar para as equipas responsáveis pelas missões fazerem a integração de lançadores.

Haverá igualmente espaço para um centro de controlo de missão, que, dado às características do terreno, poderá ser localizado num espaço seguro sem perder a visibilidade para os launchpads. O mesmo se aplica à colocação de antenas móveis, que permitirão aos especialistas seguir os lançamentos

Neste contexto, a Agência Espacial Portuguesa está a desenvolver o projeto de um centro espacial tecnológico na Vila do Porto, onde existirão também hangares e escritórios.

Inês d'Ávila, responsável pelos projetos de transporte e segurança espacial da Agência Espacial Portuguesa, detalha que este centro espacial tecnológico será uma infraestrutura que vai não só apoiar o Space Rider, como também outras infraestruturas de retorno.

Segundo a responsável, a maioria destas missões de retorno vai fazer amaragem perto de Santa Maria, sendo depois recuperadas e levadas para o centro tecnológico de modo a retirar a carga útil e recuperar os veículos para que sejam enviados para os países de origem.

Como realça Inês d'Ávila, "há toda uma timeline que está alinhada para garantir o sucesso das operações", mas já existem empresas interessadas em fazer atividades a partir do futuro porto. "Eles olham para o local e conseguem perceber o potencial", realça. Exemplo disso são a Space Forge e a Stellar Kinetics, que já se instalaram nos Açores. 

"Santa Maria terá um papel muito importante para ajudar na autonomia e resiliência da Europa no acesso ao Espaço", afirma Inês d'Ávila

Olhando para o futuro mais próximo, Mara Pourré lembra que o ASC tem um contrato assinado com a polaca Space Forest para lançar o foguetão suborbital Perun a partir de Santa Maria, na Primavera de 2026. Ao que tudo indica, este poderá ser o primeiro foguetão a chegar ao Espaço a partir do porto espacial português.

Este foguetão suborbital de estágio único, oferece quase quatro minutos de tempo de experimentação em microgravidade. O foguetão tem 11,5 m de altura será capaz de lançar cargas úteis até 50 kg até uma altitude de 150 km, além de estabilizar a carga útil para períodos de voo em microgravidade de alta qualidade, indicam dados avançados anteriormente pelo ASC. 

Perun foguetão suborbital da SpaceForest
Perun foguetão suborbital da SpaceForest Perun, o foguetão suborbital da SpaceForest

Tal como já adiantado por Bruno Carvalho, diretor do ASC, Mara Pourré detalha que no âmbito do contrato, o ASC vai apoiar a SpaceForest na obtenção das aprovações regulamentares e das licenças de lançamento necessárias, além de prestar apoio operacional na ilha, incluindo a recuperação do lançador e da sua carga útil do oceano.