Pela primeira vez, a iniciativa Astronauta por um Dia, da Agência Espacial Portuguesa, ruma aos Açores e, hoje, 30 estudantes vão ter a oportunidade de flutuar em gravidade zero, num voo parabólico que, durante alguns minutos, lhes permitirá simular a sensação de estar no Espaço.

Os jovens, que partiram para a ilha de Santa Maria esta quinta-feira, passaram os últimos dias em atividades de grupo para incentivar o trabalho em equipa e reforçar laços, mas também em formações para ficarem a conhecer mais sobre o sector espacial, antes do ponto alto da experiência.

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De acordo com a Agência Espacial Portuguesa, a quarta edição da iniciativa recebeu mais de 500 candidaturas, registando, pela primeira vez, uma maioria feminina. Já no grupo de 30 finalistas selecionados volta a existir um equilíbrio entre géneros, com 15 rapazes e 15 raparigas.

Os jovens passaram por um processo de seleção que envolveu quatro fases eliminatórias onde as suas competências foram postas à prova. Na primeira fase, por exemplo, a motivação e criatividade dos participantes foi avaliada através de um vídeo de candidatura.

Já na segunda fase, onde avançaram 250 candidatos, foram testadas as suas capacidades de percepção espacial e interpretação. Para a terceira fase, onde foram selecionados 100 jovens, a avaliação centrou-se na aptidão física.

50 candidatos passaram para a etapa final do processo de seleção, com as suas competências de comunicação a serem avaliadas perante um júri composto por representantes da Agência Espacial Portuguesa, da Ciência Viva e pela cientista e astronauta análoga Ana Pires.

Astronauta por um Dia está de regresso e ruma pela primeira vez aos Açores
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Dos 30 finalistas que chegaram à derradeira fase, 18 estão no ensino secundário e 12 ainda estão no ensino básico. Segundo a Agência Espacial Portuguesa, Coimbra e Lisboa são os distritos com maior representatividade no conjunto de finalistas. As regiões autónomas também estão representadas, com dois finalistas da Madeira e um dos Açores.

Recorde-se que a edição de 2025 conta com o apoio do Governo dos Açores, assim como das Forças Armadas Portuguesas, Ciência Viva, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.

O que acontece num voo parabólico?

Recordando as experiências das edições anteriores, nos voos parabólicos da iniciativa Astronauta por um Dia, realizados a bordo de um Airbus A310 operado pela francesa Novespace, o avião sobe até cerca de seis mil metros de altitude antes de iniciar uma série de manobras de ascensão e queda, ou parábolas.

Veja na galeria as imagens da última edição

Durante a experiência, que decorre dentro de um espaço de 100 metros quadrados, existem regras de segurança rigorosas. Os finalistas, organizados por grupos, são divididos por zonas, cada uma acompanhada por um especialista de voo que guia os jovens e assegura que, por exemplo, não são realizados movimentos bruscos ou descontrolados de modo a evitar acidentes.

Veja o vídeo da edição de 2024

Ao longo destas manobras são recriados diferentes ambientes de gravidade. Na primeira fase, os passageiros sentem os efeitos da gravidade como se estivessem em Marte e, na segunda, na Lua. Na terceira fase é possível experimentar uma sensação de gravidade zero, em ciclos de cerca de 20 segundos.

Nos voos, com uma duração típica a rondar duas horas, são realizadas 15 parábolas, com os jovens a experimentarem entre cinco a seis minutos de gravidade zero.

Santa Maria no mapa espacial português

Nas palavras de Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, citado em comunicado, “trazer o Astronauta por um Dia para Santa Maria é mais do que uma escolha logística: é um compromisso com a coesão territorial e com o envolvimento ativo das Regiões Autónomas na afirmação de Portugal como nação espacial”.

Ainda em agosto, a portuguesa Atlantic Spaceport Consortium (ASC) viu o seu pedido de autorização para realizar atividades de acesso ao Espaço a partir da ilha de Santa Maria aprovado pela Agência Espacial Portuguesa e ANACOM. A licença é válida por cinco anos e refere-se exclusivamente à operação do centro de lançamento a localizar na Malbusca.

Açores já têm licença para operar o primeiro porto espacial português
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Recorde-se que, em julho, já tinha sido publicada em Diário da República a aprovação prévia do projeto de licenciamento do centro de lançamento da ASC nos Açores.

Anteriormente, ASC tinha dado conta da assinatura de um contrato com a SpaceForest, que prevê o lançamento do veículo suborbital Perun a partir de Santa Maria, na primavera de 2026. Ao que tudo indica, este poderá ser o primeiro foguetão a chegar ao Espaço a partir do porto espacial português.

Segue-se agora o processo de licenciamento das operações espaciais que venham a ser concretizadas no porto espacial. Espera-se que as primeiras operações, em particular, voos suborbitais promovidos pela ASC, possam já ocorrer ao longo de 2026.

Os trabalhos para a criação das infraestruturas necessárias para o retorno de missões espaciais, incluindo o Space Rider, o veículo reutilizável da Agência Espacial Europeia (ESA), cujo lançamento está previsto para 2027, que terá nos Açores o seu local de retorno