Já não há dúvidas de que 2024 vai ser o ano mais quente de sempre, desde que há registos. Os dados voltaram a ser confirmados pelo serviço de alterações climáticas Copernicus da União Europeia e espera-se que tenham impacto nas decisões tomadas na próxima cimeira do clima, que decorre na próxima semana no Azerbaijão.
Para que o recorde não fosse batido este ano, os dois últimos meses de 2024 teriam de registar fenómenos globais extremos e temperaturas próximas de 0. Sem perspetivas de que algo do género aconteça (felizmente), o ano que agora se aproxima do fim ficará para a história como o primeiro com temperaturas mais de 1,5ºC acima das registadas no período pré-industrial, entre 1850 e 1900.
As temperaturas elevadas devem-se sobretudo a alterações climáticas provocadas pela ação humana, segundo os cientistas, que olham para este indicador como um sério sinal de alerta. “Este último recorde envia mais um aviso aos governos na COP29 sobre a necessidade urgente de ação para limitar qualquer aquecimento adicional”, defende Liz Bentley, diretora executiva da Royal Meteorological Society, citada pela BBC.
Recorde-se que 2023 já tinha sido também um ano de recordes a este nível, com as temperaturas a aumentarem 1.48ºC e que as Nações Unidas alertaram recentemente que o mundo está a caminho de um aumento de mais de 3ºC na temperatura média do planeta até ao final do século, se nada for feito para o evitar.
Os fenómenos naturais também têm relevância para estes números, mas em menor escala que a ação humana. O El Niño, por exemplo, que influenciou o clima e a temperatura das águas superficiais do Pacíficio entre meados do ano passado e abril deste ano, nesse período contribuiu para a libertação de calor para a atmosfera.
No entanto, depois disso as temperaturas continuaram acima do registado em anos anteriores. Na semana passada, os dados do serviço Copernicus continuaram a registaram temperaturas médias globais diárias acima da média para esta altura do ano.
A outra face do fenómeno atmosférico El Niño, conhecido como La Niña, provoca o efeito contrário, arrefecendo as águas do pacÍficio, o que também tem efeitos na temperatura da atmosfera. Espera-se que La Niña entre em ação em breve, mas em que medida isso terá impacto no abrandamento da escalada das temperaturas do planeta ainda não é claro.
Enquanto isso, é de esperar que o crescimento do volume de emissão de gases com efeito de estufa continue a contribuir para aquecer o planeta e, consequentemente, para desencadear fenómenos extremos, como tempestades e chuvas com efeitos mais devastadores.
A COP29 voltará a ter o tema na agenda e grandes expectativas em torno do nível de compromisso que será possível obter dos países, para acelerar o combate às alterações climáticas. Os resultados, como se sabe, nem sempre - ou quase nunca - são tão ambiciosos como as propostas iniciais.
Com a iminente chegada de Donald Trump à Casa Branca e as suas posições conhecidas sobre o tema - Trump já disse que não acredita nas alterações climáticas - esmorecem-se as possibilidades de contar com um apoio forte dos Estados Unidos para metas ambiciosas na próxima Cimeira. Também diminuem as possibilidades de a América continuar uma estratégia de incentivo às energias limpas e redução do uso de energias fósseis, como aconteceu durante a Administração Biden, medidas fundamentais para não comprometer as metas do Acordo de Paris.
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