Os telemóveis revolucionaram a comunicação entre as pessoas há 30 anos. A IDC estima que existam atualmente 3,1 mil milhões de smartphones em utilização, muitos já com a introdução de capacidades de inteligência artificial, uma tecnologia que conquistou a atenção do mundo com o lançamento do ChatGPT e das capacidades de IA Generativa (IA Gen), tirando partido de Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLM).
Francisco Jerónimo, vice-presidente Data and Analytics, Devices, na IDC Europe, considera que os smartphones estão à beira de uma nova revolução: a inteligência. Mas, o que é um smartphone IA Gen? A IDC explica que “são dispositivos que apresentam um sistema-em-chip (SoC) capaz de executar modelos Generativos (GenAI) no próprio dispositivo com rapidez e eficiência, tirando partido de uma unidade de processamento neural (NPU) com 30 Tera Operações por Segundo (TOPS) ou mais, utilizando o tipo de dados int-8”.
A oferta de SOC para smartphones aumentará ao longo do tempo, e atualmente já existem chips preparados para o que aí vem, como o Apple A17 Pro; o MediaTek Dimensity 9300; o Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3 e o Samsung Exynos 2400.
Os últimos anos não foram fáceis, com o mercado mundial de smartphones, tendo recuado várias vezes, mas tudo indica que 2024 será marcado pelo regresso ao crescimento, incluindo os smartphones IA Gen. Os dados mais recentes da IDC estimam que as vendas destes smartphones com IA generativa vão crescer 364% em 2024, quando comparado com 2023, alcançando 234,2 milhões de unidades.
Francisco Jerónimo considera que o potencial da IA Gen nos smartphones vai contribuir para uma procura significativa dos smartphones nos próximos anos. As projeções apontam para que os smartphones com IA seja o “segmento de crescimento mais rápido na categoria de smartphones durante o período de previsão, superando o segmento de smartphones sem IA”.
O crescimento continuará em 2025 com um aumento esperado de 73,1%, seguido de um crescimento moderado de dois dígitos para o resto do período de previsão. Em 2028, as vendas mundiais de smartphones com IA Gen vão chegar a 912 milhões de unidades, resultado de um crescimento anual composto (CAGR) de 78,4% entre 2023 e 2028.
Uma nova experiência móvel vai substituir apps
Com a IA as fabricantes vão diversificar a oferta de recursos, de experiências ou de serviços, alguns ainda nem imagináveis, aos utilizadores.
Desde a criação das lojas de apps aquando do surgimento dos primeiros iPhone e smartphones Android, em 2007 e 2008, as apps são o modo de interação com o smartphone. Com a IA, as apps podem tornar-se obsoletas. “Com a IA, quanto menos apps o telefone precisar e quanto mais capaz for de usar dados contextualmente para ajudar o utilizador, melhor será. Este mundo “sem apps” revolucionará a experiência, exigindo que o telefone “conheça” melhor os seus utilizadores, enquanto garante que os dados pessoais permanecem privados e seguros”, antecipa Francisco Jerónimo.
O consultor acrescenta que a “interação com o smartphone passará do toque para a voz, à medida que assistentes de voz inteligentes se tornarem verdadeiros assistentes digitais pessoais”, totalmente integrados nos equipamentos.
E a mudança já está a acontecer, pois menos de 18 meses depois da introdução do ChatGPT e da democratização da inteligência artificial, várias fabricantes começaram a anunciar as suas estratégias de IA e a comercializar dispositivos que já apresentam capacidades inteligentes.
O SAPO Tek destacou alguns modelos que tiram partido de inteligência artificial e Francisco Jerónimo faz também as suas escolhas, referindo o Samsung Galaxy S24 Ultra que inclui funcionalidades de IA como edição de imagens, transcrições e traduções em tempo real e a adição do Circle to Search, que permite desenhar um círculo sobre qualquer coisa no ecrã para iniciar a pesquisa no Google. O Xiaomi 14 Ultra apresenta legendas geradas por IA para chamadas de vídeo e uma funcionalidade de Retrato AI para os utilizadores tirarem selfies e adicionarem fundos diferentes. Outro exemplo é o Google Pixel 8 Pro com funcionalidades que permitem resumir conversas gravadas, sugerir respostas a mensagens e criar papéis de parede gerados por IA. A câmara também beneficia da IA com Magic Editor (mover ou remover objetos); Best Take (selecionar a melhor foto) e Video Boost (melhorar a cor e iluminação do vídeo).
Veja as imagens de smartphones com IA generativa
Envolvida em polémica está a Apple Intelligence, um conjunto de funcionalidades que chegará ao iPhone, iPad e Mac ainda este ano em algumas regiões, com as versões mais recentes do sistema operativo anunciadas na Apple Worldwide Developers Conference. As funcionalidades de IA incluirão reescrever texto e corrigir provas, gerar respostas a mensagens de correio eletrónico ou o resumo de conteúdos. Os utilizadores poderão gerar imagens a partir de texto com base no conteúdo das notas e remover objetos das fotos e o assistente digital da Apple, Siri, tornar-se-á mais conversacional. No entanto, esta tecnologia não chegará para já à Europa.
Francisco Jerónimo destaca ainda a estratégia de IA da Oppo, que pretende incorporar mais de 100 funcionalidades de IA Gen em toda a linha de smartphones, incluindo equipamentos mais baratos, com IA este ano. Já o equipamento Honor Magic 6 Pro promete experiências de utilizador potentes com IA e é a primeira estratégia all-scenario da Honor, apresentando colaboração cross-OS e IA projetada com uma abordagem centrada no ser humano. Finalmente, o Motorola Razr 50 Ultra executará o Google Gemini como o principal assistente digital, com funcionalidades que incluem reconhecimento de fotos, resumo de textos, resposta a consultas de voz e mudança de tons de mensagens antes de as enviar. Inclui a ferramenta de IA da Motorola, Style Sync, que cria um papel de parede com base nas cores e padrões de uma foto específica.
Francisco Jerónimo apresenta ainda alguns casos de uso que podem contribuir para a adoção de smartphones com IA Gen. No trabalho, a IA irá simplificar tarefas como o resumo de conteúdos de reuniões e documentos, o resumo de “threads” de mensagens de correio eletrónico, ou a gestão de calendários.
Na área da saúde e bem-estar registar-se-á uma melhoria na recolha de dados vitais do corpo como pressão arterial, frequência cardíaca e oxigénio no sangue. A IA registar e monitoriza esses dados alertando os utilizadores para potenciais riscos e sugerindo planos de dieta e exercício para um estilo de vida mais ativo. Na educação, a IA contribui parar a pesquisa de conteúdo, tomada de notas e transcrições de aulas, mas também gerir planos de estudo e a entenderem assuntos complexos de forma mais rápida e eficiente.
No que toca ao entretenimento, a IA vai otimizar os efeitos visuais, proporcionando uma experiência mais imersiva, e atuar como um “assistente de jogos”, melhorando a experiência geral e aumentando o envolvimento. Além disso, ao gerar imagens e vídeos a partir de texto no dispositivo, os utilizadores poderão compartilhar conteúdo com mais criatividade. Os equipamentos com IA serão também um copiloto nas deslocações e viagens dos utilizadores, ao analisar padrões de tráfego, trajetos de viagem e destinos frequentes. Poderá inclusivamente ajudar na otimização das viagens com base nos compromissos apontados no calendário.
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