Por Maria Antónia Saldanha (*)
Vivemos num mundo de oportunidades, algumas extraordinárias, mas nem todas acessíveis a todas as pessoas. Infelizmente, o mundo em que vivemos resulta de um modelo que não foi projetado a pensar nas mulheres. Se as identidades se cruzam, – nacionalidade, tom de pele, orientação sexual ou capacidade física – as oportunidades tornam-se ainda mais escassas.
E pelos rankings oficiais mundiais, o panorama parece não estar a melhorar. De acordo com o Global Gender Gap Report, ainda vamos precisar de 136 anos até eliminarmos definitivamente a desigualdade entre géneros, quando, em 2019, os dados apontavam para a eliminação da desigualdade de género em 100 anos.
Este diagnóstico deve fazer-nos parar e pensar.
Em Portugal há indicadores positivos nomeadamente quando avaliamos a evolução registada pelo mesmo ranking: do 53º lugar ocupado em 2013, Portugal ocupa agora o 29º lugar na igualdade de género a nível global. Num estudo sobre Mulheres e Finanças que fizemos na Europa, e que incluiu Portugal, também vemos que sete em cada dez mulheres considerou ser mais independente financeiramente do que as mulheres da sua família de gerações anteriores, uma percentagem ligeiramente acima da média europeia que é de 67%.
Contudo, apesar da grande maioria das mulheres portuguesas sentir-se independente financeiramente (78%), o estudo mostra-nos uma ainda uma dura realidade, porque mais de metade das restantes duvida que possa reverter essa situação no futuro. A mesma percentagem de mulheres (62%) considera que tem menos independência financeira do que os homens.
O momento de agir parece mais certo que nunca. À medida que sistemas e estruturas em todo o mundo estão a ser reorganizados para incorporar a mudança, devemos aproveitar a oportunidade para darmos o impulso necessário para enfrentarmos a desigualdade e a exclusão que ainda impedem as mulheres – e todos nós – de avançar. Algumas medidas que podemos conjuntamente mudar parecem simples: quase metade das mulheres portuguesas (49%) afirma que o trabalho extra não remunerado que fazem, como cuidar de crianças e idosos, é o principal motivo para serem dependentes, além do facto dos homens ganharem salários mais elevados.
Cada organização pode iniciar a mudança de dentro e unir-se para que as políticas nacionais contribuam para definir e promover políticas mais equitativas. Por exemplo, citando de novo o estudo que fizemos, mais de metade das mulheres entrevistadas em Portugal (55%) acha que os seus conhecimentos financeiros são muito básicos ou nulos. Concretamente, 38% afirma ter conhecimentos básicos e 7% nenhum conhecimento, apenas atrás das francesas, italianas ou espanholas. Os dados mostram também que mais de metade das mulheres entrevistadas tem dificuldade em entender vários conceitos económicos como investimentos (59%), tecnologia e aplicações de banca (34%), impostos (27%) e hipotecas (18%).
Na Mastercard estamos empenhados em criar redes e parcerias com diversas organizações para promover a colaboração e a mudança. De governos a empresas e associações do terceiro setor , juntos, estamos numa posição privilegiada para enfrentarmos o problema e construirmos um futuro diferente.
Internamente, o compromisso é real; as nossas políticas já são inclusivas e respeitam ambos os géneros. Apenas a título de exemplo, posso referir que já eliminámos a diferença salarial, e a licença de maternidade e parental é igual entre géneros.
Estamos focados em projetar um mundo melhor para todas as mulheres porque, se o conseguirmos, teremos mais oportunidades e possibilidades ilimitadas para todas as pessoas.
(*) Country Manager da Mastercard Portugal
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