Por Daniel Reis (*)

Um dos temas do momento é indubitavelmente o impacto da Inteligência Artificial (“IA”) nas diversas áreas de atividade humana, e a saúde não é exceção. No recente relatório publicado pela DLA Piper “Life Sciences Index 2024”, que analisa em detalhe o setor da saúde, focando nas perceções prevalentes no mercado sobre inovação e crescimento económico, a Inteligência Artificial tem um papel de destaque.

Salientaremos aqui algumas dimensões que nos parecem especialmente interessantes.

Medicina personalizada

A medicina personalizada é uma abordagem recente que tem como objetivo desenvolver soluções preventivas, de diagnóstico e terapêuticas mais adaptadas às caraterísticas fisiológicas, ambientais e comportamentais de cada pessoa.

A capacidade da Inteligência Artificial de analisar grandes quantidades de dados está, atualmente, a ter um impacto significativo na personalização do tratamento do cancro. Funcionalidades como a análise de dados genómicos para identificar mutações específicas, a prevenção da malignidade da biópsia e a capacidade de distinção de resultados de rastreio atípicos estão a revolucionar a eficácia e adaptação dos tratamentos feitos aos pacientes.

Outro exemplo é a utilização de acessórios inteligentes (Wearable Technology). A Inteligência Artificial pode ajudar a controlar os dados dos pacientes a partir de dispositivos médicos, como monitores de glicose e pacemakers, com o intuito de melhorar a monitorização dos resultados, e alertar os prestadores de cuidados de saúde para potenciais problemas.

Contudo, a medicina personalizada enfrenta adversidades. A obtenção de consentimento informado é essencial. Os doentes devem estar cientes da forma como os seus dados serão utilizados, uma vez que a Inteligência Artificial neste sector se baseia em dados históricos de saúde, dados genéticos e monitorização em tempo real.

Large Language Models (LLM) clínicos – chatbots e assistentes virtuais

A Inteligência Artificial está a transformar o campo da saúde mental, oferecendo soluções inovadoras que melhoram o diagnóstico, o tratamento e a acessibilidade aos cuidados. Os Sistemas Inteligentes são utilizados durante a avaliação de sintomas detetando mudanças subtis nos padrões de discurso e expressões faciais analisando sinais precoces de perturbações a nível mental. Assim, pode formular planos personalizados e apoiar os médicos na tomada de decisões de tratamento.

Também ferramentas digitais como terapeutas virtuais e chatbots programados com tecnologia inteligente permitem a acessibilidade e o aumento de intervenções terapêuticas. Estas ferramentas utilizam o processamento da linguagem natural e a aprendizagem automática para estabelecer uma ligação com os utilizadores em tempo real.

Após uma investigação centrada nos quatro principais problemas de saúde mental – a depressão, a perturbação de ansiedade, a bipolaridade e o stress pós-traumático – foi criada uma ferramenta de apoio para a melhoria da tomada de decisões clínicas. Os estudos revelaram que um sistema de Inteligência Artificial tem a capacidade de diagnosticar cerca de 90% das perturbações mentais, fazendo apenas 28 perguntas ao paciente.

Contudo, nesta área é inegável a exigência de um acompanhamento pessoal e humano. Vários problemas psiquiátricos são doenças para toda a vida e exigem um acompanhamento a longo prazo no que respeita à satisfação dos doentes, à adesão à terapia e ao sucesso desta.  Atualmente, as provas existentes sobre o papel da Inteligência Artificial nos cuidados de saúde mental baseiam-se num acompanhamento de curta duração, o que pode criar uma lacuna de conhecimento significativa para compreender as alterações dos sintomas dos doentes ao longo do tempo. Não obstante, prevê-se uma evolução nesse sentido.

O desenvolvimento da Inteligência Artificial na saúde é inevitável e promete revolucionar o modo de operação e método de trabalho nesta área. O potencial é imenso, e o caminho que temos pela frente pode redefinir completamente a medicina tal como a conhecemos.

(*) Sócio IPT da DLA Piper