Por Luisa Ribeiro Lopes (*)
Chegados à semana de eleição para balanços do ano, também as competências digitais dos portugueses e portuguesas merecem este exercício. É tempo de celebrar o caminho percorrido, reconhecer o que falta trilhar e olhar para 2024 com ânimo revigorado para aproveitar as oportunidades que vão levar os portugueses e portuguesas a um futuro cada vez mais digital, centrado nas pessoas e nos valores da liberdade, democracia e inclusão.
Em 2023, 83% da população portuguesa utiliza a internet, o que representa um aumento de 3 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Estamos cada vez mais próximos da média europeia (87%), encurtando distâncias a um ritmo encorajador. Hoje, 55% dos portugueses e portuguesas entre os 16 e os 74 anos tem pelo menos competências digitais básicas, enquanto 29% tem competências digitais superiores ao nível básico.
Na esfera das infraestruturas digitais, os indicadores de 2023 são motivo de orgulho. Com uma cobertura de rede fixa de 93% nos agregados familiares, estamos notavelmente à frente da média europeia. A expansão da fibra e a rápida implementação do 5G, com uma cobertura de 70% (mais 5 pontos percentuais do que em 2022) refletem também um ano de compromissos sólidos com a conectividade avançada.
No âmbito empresarial há também motivos de celebração. 70% das empresas em Portugal atingiram pelo menos um nível básico de intensidade digital. Além disso, o uso de Inteligência Artificial pelas empresas, que se situa nos 17%, ultrapassa significativamente a média da UE, que está nos 8%. O mesmo acontece com o número de empresas em Portugal que partilham informações por via eletrónica: 52% face aos 38% da média europeia. Estes indicadores revelam, não apenas uma adoção robusta de tecnologias mais avançadas, mas também uma clara predisposição para a inovação, ainda que haja caminho a fazer, como por exemplo na implementação de estratégias de computação em nuvem.
Contudo, não podemos ignorar os desafios que persistem. Em 2023, os 2,5% de diplomados em TIC exigem atenção, sendo uma área onde o país precisa de concentrar esforços para garantir uma força de trabalho qualificada e preparada para os desafios digitais em constante evolução. Quatro em cada dez adultos em Portugal ainda não possuem competências digitais básicas, um défice que choca diretamente com as crescentes exigências digitais no mercado de trabalho: 28% das competências pedidas em ofertas de emprego são digitais e 66% do total das ofertas de emprego em Portugal solicitam pelo menos uma destas competências.
No entanto, para o próximo ano, mais do que falar em desafios, importa falar em oportunidades, e essas estão à nossa frente. A igualdade de género no setor tecnológico é uma delas. Com apenas 21% do trabalho tecnológico em empresas a serem ocupados por mulheres, é evidente que há barreiras a derrubar e uma mensagem a transmitir às nossas jovens. Estudos indicam que se a percentagem de mulheres em empregos tecnológicos duplicasse, o aumento do PIB na UE seria de 600 mil milhões de euros. A igualdade de género, além de ser um imperativo moral, é também um impulsionador económico que não podemos subestimar e para o qual temos de trabalhar no próximo ano.
Em 2024, a cibersegurança continua e aprofunda-se como uma prioridade. A crescente consciência do risco de ataques cibernéticos exige um investimento significativo em qualificações e competências nesta matéria. A aposta na capacitação e literacia em cibersegurança deve ser vista como um vetor estratégico para a proteção das organizações, empresas e pessoas.
Não seria possível chegar ao fim do ano e não falar de Inteligência Artificial. 2023 será sempre sinónimo de um enorme avanço da Inteligência Artificial Generativa, pela sua massificação e disponibilização. Se chegamos a dezembro com uma maior clareza das oportunidades que este avanço significa, temos de entrar em 2024 com o forte compromisso de investir tempo e meios a preparar todas e todos para melhor lidarem com esta tecnologia, por forma a não deixar ninguém para trás.
Enquadrados e inspirados pelo trabalho que se tem feito no contexto europeu, na estratégia nacional para o Digital, espera-se para 2024 estratégias fortes e focadas nos Dados, Inteligência Artificial e web 3.0, permitam ser referências nacionais para o digital, numa cultura de governação transparente, participativa e informada, que promovam e potenciem um ecossistema digital inovador, competitivo e sustentável.
2024 apresenta-se também como um ano em que a governação mundial da Internet se encontra entre uma Internet que se quer global e livre e as tentativas de fragmentação e manipulação. À medida em que a tecnologia se desenvolve, as ameaças à liberdade, democracia e inclusão digitais tornam-se cada vez maiores, o que torna cada vez mais importante e urgente a educação e literacia digitais.
Assim, à entrada de um novo ano, o ano em que celebramos os 50 anos de democracia e liberdade, os desafios são claros, mas as oportunidades vastíssimas. Com uma abordagem colaborativa e foco nas pessoas, na sua formação, inclusão e segurança digital, Portugal está bem posicionado para continuar o trabalho feito nos últimos anos, rumo a uma sociedade cada vez mais avançada e equitativa digitalmente. O futuro digital de Portugal é já em 2024 e o caminho conta com todos e todas! Façamos a nossa parte, exercendo a nossa cidadania.
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