Por Francisco Jaime Quesado (*)

Que Portugal  queremos e podemos ter em 2025, num contexto global de crise e incerteza? Portugal precisa de  um novo paradigma, centrado na procura da excelência e na dinamização de redes globais geradoras de valor competitivo e inovador. Esta nova ambição para a Nação tem que assentar em novas variáveis estratégicas de mudança, muito viradas para os novos fatores críticos de competitividade, como a inteligência competitiva, a inovação aberta e a educação colaborativa. Devem ser eles a base de uma nova aposta coletiva voltada para uma verdadeira ambição de excelência.

Numa conferência realizada na Gulbenkian, Geoff Mulgan apresentou uma excelente visão sobre o papel que a inteligência competitiva tem nas organizações do futuro. Trata-se de uma nova plataforma de articulação entre os diferentes atores, destinada a conhecer as competências centrais da sociedade e qualificá-las duma forma estruturante como vias únicas de criação de valor e consolidação da diferença. Para Portugal a oportunidade é única também. Impõe-se, de facto, um sentido de inteligência competitiva num tempo novo que se quer para o país.

Para Portugal a essência desta nova inteligência competitiva tem que se centrar num conjunto de novas ideias de convergência, a partir das quais se ponham em contato permanente todos os que têm uma agenda de renovação do futuro. Importa acelerar  uma cultura empreendedora em Portugal. A matriz comportamental da população socialmente ativa do nosso país é avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma cultura de dinâmica positiva.  Importa por isso mobilizar as capacidades positivas de criação de riqueza. Fazer do empreendedorismo a alavanca duma nova criação de valor que conte no mercado global dos produtos e serviços verdadeiramente transacionáveis

Na sociedade da inteligência competitiva, a falta de rigor e organização nos processos e nas decisões, sem respeito pelos factores tempo e qualidade já não é tolerável nos novos tempos globais. Não se poderá a pretexto de uma lógica secular latina mais admitir o não cumprimento dos horários, dos cronogramas  e dos objetivos. Não cumprir este paradigma é sinónimo de ineficácia e de incapacidade estrutural de poder vir a ser melhor. Importa por isso uma cultura estruturada de dimensão organizacional aplicada de forma sistémica aos actores da sociedade civil. Há que fazer da capacidade organizacional o elemento qualificador da capacidade mobilizadora.

Pretende-se também um Portugal  de inteligência competitiva mais equilibrado do ponto de vista de coesão social e territorial. A crescente (e excessiva) metropolização do país torna o diagnóstico ainda mais grave. A desertificação do interior, a incapacidade das cidades médias de protagonizarem uma atitude de catalisação de mudança, de fixação  de competências, de atracção de investimento empresarial, são realidades marcantes que confirmam a ausência duma lógica estratégica consistente. Não se pode conceber uma aposta na competitividade estratégica do país sem entender e atender à coesão territorial, sendo por isso decisivo o sentido das efetivas apostas de desenvolvimento regional  de consolidação de clusters de conhecimento sustentados.

A sociedade civil portuguesa tem nesta matéria um papel central. A aposta na excelência, na sua diferença e no seu sucesso, é o resultado duma agenda estratégica que se pretende voltada para um futuro permanente. Apostar na excelência deve constituir um compromisso permanente na procura do valor, da inovação e da criatividade como factores críticos da mudança. Os bons exemplos devem ser seguidos, as boas práticas devem ser percebidas, o caminho tem que ser o da distinção e da qualificação. Na sociedade da inteligência competitiva sobrevive quem consegue ter escala e participar, com valor, nas grandes redes de decisão.           

O papel das novas gerações  é decisivo. São cada vez mais necessários atores do conhecimento capazes de induzir dinâmicas de diferenciação qualitativa um pouco por todo o país.  Capazes de conciliar uma necessária boa coordenação das opções centrais com as capacidades de criatividade local. Capazes de dar sentido à vantagem competitiva do país, numa sociedade que se pretende em rede. É assim que se garante a liberdade que Karl Popper defende e que todos nós queremos cada vez mais para um Portugal 2025 positivo.

(*) Economista e Gestor – Especialistas em Inovação e Competitividade