Em 2009, Portugal foi o espaço de teste de um novo serviço que acabaria por se tornar um dos focos de desenvolvimento do grupo Vodafone, contribuindo para fixar em Lisboa um hub de desenvolvimento e inovação na área de televisão. Foi nesse ano que a Vodafone Portugal lançou o serviço Vodafone Casa TV, com mais de 100 canais de televisão, naquele que seria o primeiro passo de um projeto que consolidava a estratégia de convergência da operadora de telecomunicações, que já tinha começado a investir na rede fixa em 2007, depois de vários anos muito focada no mercado móvel. Agora prepara-se para chegar a 1 milhão de clientes em Portugal, o que pode acontecer no próximo ano, numa operação que soma mais de 22 milhões de clientes em 11 países na Europa.
Na verdade o projeto não começou em 2009, mas três anos antes, como explica Pedro Duarte, responsável pela engenharia de TV no grupo Vodafone, que na altura começou a preparar o terreno e as plataformas para o lançamento do serviço. A administração da Vodafone já antevia a convergência fixo móvel como uma das oportunidades de desenvolvimento e a estratégia de abordagem do mercado de TV resulta do alinhamento com o acionista e a apetência para o mercado de inovação. Portugal, pelas suas características, foi o país escolhido para o primeiro teste de integração de TV na sua oferta, com o serviço Vodafone Casa TV e depois disso foi sempre a acelerar.
“O pilar de TV é relevante, ajuda-nos a construir a base de clientes fixos e a manter a base de clientes móveis e funciona nesta sinergia”, explica Pedro Duarte, sublinhando também que “a atenção e foco no cliente são as imagens de marca da empresa deste que iniciámos e é isso, mais do que a tecnologia ou outra coisa, que distingue a Vodafone”.
A capacidade de inovação nas soluções que eram desenvolvidas em Portugal, e com parceiros locais, permitiu adicionar rapidamente funcionalidades e serviços à oferta de TV, com a integração de aplicações interativas como o Facebook e o Picasa em 2010, lançamento de uma oferta multiscreen que permitia o acesso à TV no computador e acesso ao alojamento na cloud, assim como o comando de voz para controlar a TV através do smartphone, que foi a primeira solução do género disponibilizada por um operador português.
“O lançamento do serviço convergente é uma jogada estratégica, que hoje é obvio que tinha de ser feita, mas o verdadeiro valor está em ver as coisas antes de serem óbvias”, sublinha Pedro Duarte, lembrando que a Vodafone não foi o primeiro operador a colocar a convergência na rua “mas estávamos preparados, e esse ponto é importante”.
Juntavam-se o “cérebro” e os “músculos”, da parte de engenharia e software, para apresentar uma oferta que era vista como diferenciadora e foi conquistando espaço em Portugal de forma orgânica, enquanto outras operações cresciam através de aquisições, como era o caso da Alemanha com a Accor e da Grécia com a Hellas, que começaram também em 2009.
O Vodafone Casa TV foi anunciado em julho e ficou disponível primeiro para os clientes da empresa de forma gratuita, abrindo em setembro a oferta comercial. Mais de 100 canais, dos quais oito em alta definição, gravação de programas até 280 horas e um interface de utilizador desenhado para uma experiência simplificada e intuitiva, assim como um telecomando desenhado pela Vodafone, faziam a diferença. Em 2010 foi lançado o primeiro pacote triple play, em 2011 a primeira oferta multiscreen e em 2013 o acesso à cloud, pontos que Pedro Duarte gosta de realçar e que são marcos importantes na evolução do serviço de TV.
Pelo meio, a experiência e conhecimento acumulados em Portugal permitiram à operação local apoiar o lançamento do serviço Mediaroom na Irlanda, em 2011, que era uma réplica do português, ainda sem uma estrutura verticalizada mas com a equipa portuguesa envolvida no processo, onde Pedro Duarte e João Gonçalves - TV Engineering Manager na Vodafone, foram elementos chave.
O ciclo de inovação não parava num mercado cada vez mais exigente e onde a oferta de TV ganhava mais peso na proposta comercial. Foram sendo adquiridos mais operadores, de cabo e ADSL, a Ono em Espanha e em 2016 foi feito o lançamento da operação em Itália, organicamente mas já com a plataforma interativa que tinha sido desenvolvida especificamente, a VTV, e não uma plataforma legacy como tinha acontecido até então. Era um primeiro passo para uma nova estrutura de serviços, com a aposta na VTV e a reconversão progressiva dos clientes que estão noutras plataformas.
Posicionamento para desenhar o futuro da TV em Portugal
“O crescimento da oferta de TV foi crescendo, de forma orgânica e por aquisições, com mais peso na aquisição, e o facto de Portugal ter sido o primeiro país com lançamento orgânico, onde fomos completamente pioneiros, posicionou-nos para criarmos aqui o TV Hub”, sublinha Pedro Duarte.
Tudo o trabalho realizado em Portugal, com o desenvolvimento das soluções e visão estratégica fizeram com que, em 2016, Portugal tenha sido escolhido pelo Grupo Vodafone para acolher o centro de competências de Next Generation Television. Com quatro áreas de desenvolvimento, o centro arrancou com 80 engenheiros numa equipa de mais de 100 recursos multidisciplinares do Grupo e o objetivo de desenvolver o futuro da TV, numa altura em que o Grupo Vodafone já contava com operações de TV em oito países.
“Aqui em Portugal é que se constrói o futuro da TV”, explica Pedro Duarte. O modelo operativo do Hub conta com quatro áreas, com desenvolvimento de produto, engenharia, integração e certificação e ainda operação e suporte, concentrados no mesmo espaço o que Pedro Duarte sublinha ser uma vantagem. O Hub português trabalha em coordenação com o Hub da Alemanha, que está mais focado na gestão do sistema alemão e das plataformas legacy, que tem um peso muito relevante no país.
O próprio modelo de operação foi evoluindo e cada vetor de produto organiza-se agora em SAFe - Scaled Agile Framework (SAFe), não funcionando como equipas a operar em silo mas como equipas de trabalho constantes e consistentes dedicadas a cada um dos vetores de produto.
O papel da VTV e a inovação que é desenvolvida no Hub em Portugal
A inovação é um pilar relevante de toda a estratégia e o responsável pelo Hub explica que é muito na perspetiva das funcionalidades do interface de utilizador que a Vodaone aposta. E de uma longa timeline destaca alguns momentos relevantes, com orgulho, como o primeiro serviço de video on demand baseado no PC, lançado em Portugal em 2011, e que “é o embrião de todo o OTT [Over-the-top] que se esticou para o móvel, para as Apple TV e Fire Sticks”
“Foi uma oferta que desenvolvemos, como fazemos em muitas destas coisas, com parceiros locais”, explica. O ecossistema de inovação não está limitado ao Hub de TV mas trabalha com forma próxima com parceiros da indústria em Portugal, em concreto com a Cycloid, que agora faz parte da InnoWave, e “foi um processo de co-desenvolvimento e co-ideação”.
Na lista das “estreias” está o lançamento do STBless HD Content, e acesso de controle por voz e aplicações de visualização de fotografias na TV, ou a integração do Netlix em 2015. É a estratégia de “Home of Series” que a Vodafone adotou. “No início a TV era um conteúdo Vodafone, hoje cada vez mais é a agregação do conteúdo Vodafone com o de terceiras partes. Iniciámos esse percurso em 2015 e hoje temos praticamente todos os OTT integrados na ótica de maior integração”, explica. A ideia é criar uma espécie de “guarda chuva” sobre todo o conteúdo vídeo, quer seja da Vodafone quer seja dos nossos parceiros, e isso mereceu vários prémios.
A plataforma Vodafone TV (VTV), referida como a TV de futuro, ficou disponível em Portugal em 2019 com a aposta numa experiência personalizada e adaptada a novos hábitos de consumo, com pesquisa inteligente por voz, um interface mais simples e intuitivo, e um Espaço Kids, com conteúdos selecionadas para as crianças e organizados por canal e personagem. A integração das aplicações HBO Portugal e Youtube, e as apps Youtube Kids e Serviços Públicos, marcaram também a diferença numa estratégia que oi definida a partir de Portugal e que é acompanhada do lado do hardware com a VBox 4K.
A plataforma acompanha a mudança dos hábitos de consumo de TV, mesmo que em alguns momentos ainda seja a televisão linear que ganha mais destaque, em momentos de pico, como em eventos desportivos ou em momentos relevantes da atualidade noticiosa. Mas a operação tem desafios mais vastos, que passam pela instalação da rede em casa dos clientes, e da própria box, assim como as estratégias de billing. “Faz parte do xadrez que é preciso afinar para concorrer de forma eficaz e integrada”.
Nos 15 anos a inovação passa também pelas caixas, as box, que evoluíram muito neste período e que culminaram com a TV PLAY que integra o serviço de televisão com uma coluna de som surround desenhada pela Bang & Olufsen, com Bluetooth, e a assistente pessoal da Google, com interação em português de Portugal, e Android TV com acesso a todas as aplicações na loja Google Play.
Esta box é a primeira com assistente da Google em Portugal a suportar o português europeu. “É a diferença entre fazer isto para um país, que tem a escala que tem, ou fazer o desenvolvimento para o Grupo Vodafone que nos dá outra capacidade e outra escala para interagirmos com os players desta indústria, como a Google, Netlfix, Apple, HBO, e criarmos inovação para os nossos clientes”.
Na verdade, com todos os serviços adicionados, a VTV é muito mais do que apenas um serviço de TV. “Hoje a nossa opção é integrar mais valor à nossa proposta base, que sejam adjacentes ao serviço, e que optimiza o que integramos aos nossos clientes, e acho que isso tem sido uma das nossas alavancas no mercado”, afirma Pedro Duarte.
A ideia de que a TV pode ser o centro de uma casa inteligente está também no centro dessa estratégia, com a evolução para a plataforma Android, com uma escala que traz solidez e que acelera a chegada de inovação ao mercado. “Hoje a box já é o centro do infotainment, e todas as integrações com o assistente da Google que fazemos no smartphone podem ser feitas na caixa e comandar aqui outros equipamentos inteligentes, com a integração do Google Assistante nativa, mas também com a Alexa que pode ser instalada”, afirma.
“Isto é uma área que queremos explorar e desenvolver e acho que acrescenta valor”, admitindo que esta não é uma das mensagens de comunicação porque é preciso encontrar pessoas que sejam suficientemente techies para valorizar essa integração, mas é uma possibilidade que está ao dispor do cliente. Pedro Duarte lembra também que isso vai além do serviço de TV e passa pela rede mais eficiente dentro de casa, na fibra e no Wi-Fi.
E a Inteligência Artificial? “Demos um primeiro passo nas recomendações para sermos mais precisos eficazes nas sugestões, que é uma grande parte do envolvimento que fazemos e é transversal a todos os OTT com os quais temos pesquisa integrada”. Com a integração do Assistente da Google a evolução será também feita para o Gemini, e esse é um futuro que é quase presente, num diálogo entre a tecnologia e o produto.
Atualmente a Vodafone tem em Portugal 886 mil clientes de TV, com um ritmo de crescimento que permite a ambição de em breve poder assinalar 1 milhão de clientes, embora Pedro Duarte admita que não será este ano. “Temos uma proposta muito competitiva e uma taxa de crescimento que é difícil num mercado saturado”, afirma, lembrando que Portugal é um bom test bed para estas soluções pela existência de uma concorrência muito sólida e altamente competitiva. “É um mercado onde existe uma competição saudável e que nos ajuda a todos a evoluir”, admite.
Questionado sobre a previsível entrada de um novo player, com a Digi, Pedro Duarte admite que “quando entra um novo jogador na mesa todos nós temos de nos ajustar”. “A Vodafone Portugal tem os ativos certos para nos permitir ter confiança de que continuaremos a crescer”.
A perspetiva é positiva e o Diretor de TV da Vodafone Portugal diz que espera num contexto de três anos, um crescimento consistente da plataforma de TV, quer orgânico no universo dos clientes atuais e dos argumentos de inovação permanente. “Os passos que demos nos equipamentos vamos continuar a dá-los, e alavancar o crescimento na inovação que podemos trazer do Hub, e em cada mercado, e em particular em Portugal, na atenção ao cliente”.
“O percurso de suportar a digitalização da casa dos portugueses é algo que a Vodafone presta muita atenção, alavancando a capacidade de inovação que é criada no Hub”, diz Pedro Duarte.
Quanto ao futuro do TV Hub, o responsável pela operação afirma que “tal como há 10 anos, a integração do serviço móvel fixo de televisão continua a fazer sentido e a TV continua a ser um dos elementos mais palpáveis que temos ao nosso dispor para suceder na concorrência. É muito visível, é algo que os clientes experimentam diariamente. É uma alavanca de sucesso comercial fantástica”.
Para Pedro Duarte, “o TV Hub, pelas condições específicas e qualidade das pessoas que trabalham aqui, mas também pelo número de parcerias e parceiros em Portugal, cria um circulo virtuoso que torna Portugal, e Lisboa em concreto, um centro de excelência para estas soluções”.
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