O panorama dos centros de inovação e serviços criados por multinacionais estrangeiras em Portugal integra escalas bem distintas e projetos com diferentes níveis de maturidade. Alguns investimentos têm já uma longa história no país, caso do centro da Fujitsu, que foi montado em 2008, num investimento de 10 milhões de euros que começou por empregar 200 colaboradores. Hoje tem mais de 2.000, de 71 nacionalidades.

Como explica Carlos Neves, responsável por este Global Delivery Center, os serviços prestados a partir de Portugal relacionam-se com a “automatização das tarefas de menor valor acrescentado e uma aposta forte no fast IT como Cloud, IoT e Inteligência Artificial, mas também em Data Analytics, metodologias como a Agile e em áreas de valor acrescentado customer facing”. O centro português está integrado num conjunto mais alargado que envolve outras geografias, como o Centro de Competências da Costa Rica ou das Filipinas.

Portugal captou 65 investimentos TI estrangeiros em 2021 e 80% são centros de inovação ou serviços
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A partir dos escritórios em Lisboa, Braga e remotamente (a partir de todo o país), o centro português da Fujitsu presta suporte especializado a mais de 750.000 utilizadores em 60 clientes distribuídos por 150 países, com foco específico no suporte à Transformação Digital nas áreas de Gestão Remota de Serviços (Workplace Services, Service Desk, Gestão de Redes, CiberSegurança e Customer Care), Data Science, Automation, Desenvolvimento Aplicacional (SAP e Service Now), Gestão de Projectos, Marketing, Comunicação Corporativa, Pre e Pos Vendas.

A Siemens é outra pioneira neste tipo de investimentos em Portugal, com um portefólio de serviços bastante diversificado A empresa conta hoje com vários centros em Portugal que servem diferentes fins, sempre numa perspetiva global ou regional. Por cá, o grupo alemão tem centros de competência mundiais nas áreas da energia, indústria, infraestruturas inteligentes, tecnologias de informação e serviços partilhados (financeiros, de recursos humanos, compras, imobiliário, entre outras).

Siemens
Lisbon Tech Hub da Siemens créditos: Siemens

As maiores estruturas são o Lisbon Tech Hub, o centro de competências de Tecnologias de informação, e o Global Business Services, um centro de serviços partilhados, que integram mais de 2.400 profissionais. Nos próximos cinco anos a empresa quer aumentar a equipa local em 500 colaboradores, 250 já está a contratar, e boa parte das posições são para estes centros.

Em 2021, a Siemens Portugal desenvolveu projetos para 37 países e somou um volume de exportações na ordem dos 160 milhões de euros, como revela Ricardo Nunes, CFO, números que também refletem o impacto da inovação feita a partir dos centros locais.

A SAP também partilha números do impacto nas exportações dos serviços prestados a partir do centro internacional que mantém em Portugal. Em 2021, o valor dessas exportações atingiu os 67 milhões de euros, porque 95% dos serviços de consultoria tecnológica e funcional assegurados a partir de Portugal foram prestados a clientes na Europa, Médio Oriente, África e, em menor volume, Américas.

A partir deste Centro de Serviços da SAP em Portugal são implementadas soluções de inovação, baseadas na Cloud e nas mais recentes tecnologias, nomeadamente, analytics, IoT, blockchain, IA, chatbots, automação robótica de processos, entre outras, como explica Luís Urmal, diretor-geral da multinacional em Portugal. “Soluções para uma gestão eficiente dos processos de negócio em áreas empresariais, como o ERP, recursos humanos, vendas, aprovisionamento, redes de negócio, gestão de plataformas e tecnologias, são também exemplos das soluções desenvolvidas a partir de Portugal”, acrescenta ainda o responsável.

Bosch exporta inovação para mais de 50 países

No caso da Bosch, com três centros de inovação em Portugal, que empregam mais de 1000 engenheiros e que este ano devem integrar mais 350 pessoas nas equipas de I&D, a exportação representa 97%. De Aveiro, Braga e Ovar saem soluções com engenharia portuguesa para 50 países. Só no ano que passou, a empresa garante que alocou 50 milhões de euros à criação de soluções tecnológicas inovadoras e submeteu a registo de mais de 50 patentes, relacionadas com os projetos de inovação acolhidos nos seus centros

“Dentro do grupo a nível mundial, Portugal é cada vez mais uma referência com uma clara fórmula de sucesso: Invented in Portugal and Made in Portugal with Portuguese Talents”, assegura Carlos Ribas, que justifica com a frase a intenção do grupo continuar a investir no país.

Fazendo as contas ao investimento já realizado, o responsável diz que desde 2013 as empresas do grupo Bosch em Portugal estabeleceram projetos de inovação em parceria com as universidades do Minho, do Porto e de Aveiro que representam um investimento superior a 300 milhões de euros, 40% subsidiados. Daqui resultaram ainda 90 patentes.

Em maior ou menor escala, a tendência da generalidade dos projetos de investimento que se fixam em Portugal nesta área dos centros de inovação ou de serviços TI é para crescer. Muitos, acabam por se tornar também na semente para novos investimentos, noutras áreas.

É esse o caso da Microsoft. A empresa foi uma das primeiras grandes multinacionais a escolher Portugal para fixar um centro de serviços, que ainda mantém, mas já com uma escala bastante diferente da inicial. Criou entretanto um centro de inovação internacional, noutra área.

Centro da Microsoft serve clientes em 180 países

O Customer Experience & Success Center de Lisboa está em Portugal desde 2003 e foi crescendo gradualmente, a partir dos 40 elementos que compunham a equipa inicial. Com a pandemia acelerou o passo e passou a crescer 33% ao ano. A partir desta estrutura, a empresa dá suporte aos clientes empresariais, a nível mundial, na utilização de produtos e serviços assentes em tecnologia Microsoft, como o Office 365 empresarial, Azure Cloud, Azure Cibersecurity, Azure Identity, Teams, Skype ou Windows.

Paralelamente, a Microsoft escolheu também Portugal para fixar um dos seus quatro centros globais de Business e Artificial Intelligence Operations, onde trabalham neste momento cerca de 50 profissionais especializados em serviços de transcrição e anotação de dados de alta qualidade, para equipas de engenharia.

A equipa que está em Portugal tem a cargo a “reeducação” de modelos de deep learning e Inteligência Artificial em 56 línguas diferentes, nomeadamente português, inglês, francês, espanhol e alemão”, explica a empresa. Os dois centros empregam hoje 1.100 colaboradores - 250 são estrangeiros - e prestam serviços para 180 países. Vão acolher mais 150 colaboradores ao longo do ano.

Mais recentemente, Portugal conseguiu atrair dezenas de novos investimentos de empresas de base tecnológica, entre elas, alguns dos maiores fenómenos de crescimento da última década, como a Google ou a Revolut, que escolheu Portugal para fixar algumas áreas de uma operação global que já serve 20 milhões de clientes.

A funcionar desde maio de 2019 em Matosinhos, o centro de inovação e suporte da fintech (na foto que ilustra o artigo) começou com 20 colaboradores. Hoje emprega 800 pessoas, num espaço de 4.000 metros quadrados, em funções relacionadas com crime financeiro, vendas, data analytics, customer support ou engineering.

Centro de inovação da Revolut em Matosinhos
créditos: Revolut

Como sublinha Ignacio Zunzunegui, head of growth da empresa para Portugal e Espanha, é uma aposta para manter e fazer crescer num país que “tem vindo a consolidar-se como um interessante hub para fintechs e startups na Europa”, de que a empresa se considera parte. Portugal é também “um dos mercados onde a Revolut foi melhor recebida e onde a nossa app é a terceira aplicação de banca mais descarregada”, acrescenta o responsável. A empresa quer por isso, não só continuar a investir no centro local, como estrutura estratégica na Europa, mas também noutras áreas, como o marketing.

Outro exemplo é o do Uber, que no ano passado anunciou que ia fixar um hub de conhecimento sobre utilizadores, motoristas e parceiros para o sul da Europa em Portugal. A estrutura é também um centro de entrega e desenvolvimento de produto e tecnologia, que aumentou para 90 milhões de euros o investimento já realizado em Portugal e para 500 o número de colaboradores, como explica fonte oficial da empresa.

Nesta nova estrutura estão 10 áreas de especialização, como qualidade, formação & desenvolvimento, analytics, gestão de projeto e operações, entre outras, asseguradas por profissionais de 28 países, que dão suporte às operações da empresa em França, Espanha, Itália, Alemanha, Países Baixos e Portugal.

A Uber, no entanto, está em Portugal há mais tempo, e nos oito anos que já passaram tem usado Portugal e a sua estrutura local para testar várias novidades, que depois acaba por escalar a nível global.

“O mercado português tem sido um pólo de inovação e crescimento onde pudemos criar e testar produtos como o Uber Green, ou a expansão do serviço a 100% do território, entre tantos outros projetos e iniciativas inovadoras”.

A empresa garante que “isso tem sido possível graças ao talento de excelência e a uma parceria positiva e produtiva com Portugal e os portugueses”. O Uber Green é a versão do serviço de transporte da empresa só com carros 100% elétricos, lançado em Portugal em 2016.

Com o Uber Eats, Portugal voltou a ser o país eleito para testar a adesão a uma nova categoria de serviços dentro da aplicação - serviços médicos ao domicílio. O piloto é feito com a Ecco-Salva Medical Services, que disponibiliza assistência médica ao domicílio. Foi lançado em janeiro em Lisboa e já está também a funcionar no Porto.

Já em 2022 foram anunciados vários projetos novos. A Capgemini acolhe um dos mais recentes: um centro dedicado à mobilidade, que até 2025 deverá empregar 700 pessoas. A IBM, outra pioneira neste tipo de investimentos em Portugal, anunciou a abertura de mais um centro de competências local em parceria com a Softinsa, desta vez em Vila Real.

A NTT Data, TeamViewer, Evolution ou Airbus (na área do espaço e aeronáutica) são outros exemplos de projetos anunciados também já este ano.

Este artigo integra o Especial Tecnológicas escolhem cada vez mais Portugal para fixar centros de competências globais

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