Nos últimos dois dias, a notícia de que a Microsoft Portugal ia perder autonomia e passar a reportar a um cluster europeu animou a atualidade e gerou reações. A empresa já veio explicar que Portugal mantém autonomia de decisão e de gestão e que a mudança prevista a partir de 1 de julho, tem efeitos apenas ao nível da estrutura regional à qual Portugal está afeto. A Microsoft Portugal continuará a ser liderada por Andrés Ortola, refere a empresa. A subsidiária passa a reportar a uma nova estrutura regional da organização para o Sul da Europa.

Na base da polémica está uma notícia publicada pelo Eco no sábado, 26 de abril, dando conta de que a operação portuguesa da Microsoft ia perder o centro de decisão local e passar a integrar o cluster da Europa do Sul da tecnológica. A informação tem por base um documento interno divulgado pela companhia, informação já confirmada pela tecnológica.

"Recentemente, anunciámos uma mudança na estrutura da nossa área EMEA da Microsoft. A Microsoft Portugal, que atualmente reporta à nossa área da Europa Ocidental, passará - a partir de 1 de julho - a fazer parte de uma nova estrutura de área, denominada Europa do Sul, liderada por Charles Calestroupat”, refere o esclarecimento enviado ao jornal a propósito do assunto, logo após a publicação da notícia. “Portugal continua a ser liderado por Andrés Ortolá", acrescenta-se.

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Portugal passa assim a integrar um grupo de países onde estão também Turquia, Grécia, Chipre, Malta, Albânia, Bósnia, Eslovénia, Sérvia, Macedónia do Norte, Montenegro, Kosovo, Croácia e Bulgária. A alteração acontece no âmbito de uma reorganização de toda a estrutura operacional da empresa na EMEA (Europa, Médio Oriente e África).

Na região, a Microsoft vai passar a organizar-se através de subsidiárias autónomas - para França, Países Baixos e Suíça; duas áreas de subsidiárias duplas: Alemanha/Áustria e Reino Unido/Irlanda; e três áreas multi-subsidiárias. Portugal integra a região do Sul da Europa. Existirão outras duas: Europa Norte e Médio Oriente & África.

A alteração estará a ser vista como uma perda de autonomia e relevância, já que até agora Portugal era uma subsidiária independente. Também não é vista com bons olhos a integração do país num grupo regional com geografias menos centrais e de perfil muito distinto. Fora do universo da empresa, já há críticas públicas à decisão. André Aragão de Azevedo, ex-secretário de Estado da Transição Digital, lançou uma carta aberta a pedir a revisão da decisão.

“A nova configuração agrupa Portugal com países sem continuidade geográfica ou tradição histórica comum. Perde-se, assim, a possibilidade de potenciar sinergias naturais — como acontece, por exemplo, entre Portugal e Espanha, cuja proximidade cultural, económica e histórica é reconhecida e valorizada”, defende a carta citada também pelo Eco.

“A atual decisão parece ignorar a realidade construída ao longo de mais de 30 anos de presença da Microsoft em Portugal“, considera ainda o gestor que trabalhou na Microsoft antes e depois de ter assumido o cargo de secretário de Estado, tendo saído pela última vez da organização em agosto do ano passado.

“Estamos ainda no início desta reorganização. Por isso, gostaria de apelar a que Portugal pudesse ser retirado do South MCC e integrado num cluster mais coerente, ao lado de países como Itália, Espanha e Israel, respeitando a sua verdadeira dimensão estratégica”, sugere. Outra hipótese avançada na mesma carta, seria a criação de um cluster ibérico, “integrando Portugal e Espanha, que respeitaria a história, a cultura e a lógica de mercado que tantas outras organizações globais seguem“.

Historicamente, a operação portuguesa da Microsoft tem sido destacada pela empresa pelo seu peso no contexto europeu, face à dimensão do país e ao peso relativo da economia nacional no contexto regional.

A Microsoft explica aos colaboradores a reorganização prevista como uma medida para responder às exigências atuais do mercado, numa era marcada pela crescente procura de soluções de inteligência artificial e reduzir a complexidade do negócio, “criando mais agilidade”.