A Inclusio foi a startup irlandesa que venceu a categoria Startups nos prémios Altice International Innovation Award 2022, recebendo um prémio de 50 mil euros, que a empresa confirmou ao SAPO TEK que não vão sair de Portugal, uma vez que serão utilizados para ajudar na sua expansão pelo nosso país. A possibilidade de criar um projeto-piloto para a Altice Portugal significa que o seu objetivo passa mesmo por medir e ajudar não apenas a divisão portuguesa, como global, a aferir o seu nível de inclusão e diversidade.

Na viagem feita a Dublin para conhecer o ecossistema de empreendedorismo da Irlanda, o SAPO TEK esteve nas instalações da startup, localizadas no hub tecnológico da Dogpatch Labs, um dos principais polos de inovação do país. A Inclusio emprega atualmente 38 pessoas e provando a diversidade, os colaboradores têm origem de 17 países, incluindo Itália, Brasil, Indonésia, Índia e outros.

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Inclusio Sandra Healy, a CEO da Inclusio, segura o troféu que conquistou no Altice International Innovation Award 2022.

A plataforma da Inclusio combina tecnologia, ciência comportamental e Inteligência Artificial que permite aos empregados de uma organização construir, de forma confidencial, o seu perfil de diversidade. As empresas podem medir e rastrear o nível de experiência e profissionalismo através de políticas mais inclusivas. A ciência comportamental é acompanhada por analítica, ajudando as empresas a compreender a importância da diversidade e inclusão. O objetivo é que os gestores aprendam a criar um melhor ambiente dentro das suas equipas.

Inclusio poderá ser uma ferramenta de benchmark essencial de recrutamento

Sandra Healy, a CEO da Inclusio, refere que passou 20 anos ligada à indústria global das telecoms, com um background de psicologia. Fez o seu mestrado em Psicologia Organizacional, estando envolvida em diversidade e inclusão por 16 anos. Descobriu, durante esse período, que não havia evidências do impacto do seu trabalho. Considerou que havia uma falha na forma como o trabalho poderia ser medido e registado, para compreender a cultura das empresas. Assim, começou a trabalhar para combinar a tecnologia e a psicologia para gerar provas científicas baseadas na abordagem da medição da diversidade e inclusão como parte da cultura da organização.

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E o seu trabalho não tinha nenhuma base para começar. “Era apenas eu e 10 slides em 2016. Toda a ideia mapeada em 10 slides”. O seu passado como engenheira técnica, e como designer gráfica, deu-lhe experiência em pré-vendas, consultaria e engenharia. O primeiro passo foi fazer um pitch a um programa de financiamento a projetos de empreendedorismo feminino. “Recebi respostas tais como o que é que estás a falar? Foi demasiado cedo. As pessoas não estavam a pensar nestes temas de diversidade e inclusão e há muitos anos atrás era algo giro de ter, mas agora é absolutamente imperativo estarem nos negócios”.

A universidade Dublin City University pediu-lhe para traçar uma estratégia para a instituição baseado na diversidade e inclusão. Um projeto que aceitou desde que a sua ideia tivesse uma plataforma tecnológica. E assim nasceu a semente da Inclusio. “Descobri que a Enterprise Ireland tem fundos de comercialização para ideias numa universidade”.

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Inclusio A Inclusio está instalada nas caves do hub de inovação Patchdog Labs, em Dublin.

Uma das primeiras coisas que fez no projeto foi uma investigação com 35 empresas globais, para que tivesse uma base de problemas para resolver, comuns a todo o mundo. E aqui também começaram os seus problemas na recolha de dados de diversidade. “Queremos ser um reflexo dos nossos clientes, das comunidades e das sociedades que servimos. Mas não temos a informação que nos permite fazer isso”. O segundo problema foi não ter uma forma de medir as informações e o trabalho feito de inclusão e diversidade. Por fim, quando entrevistavam as pessoas, tanto os empregados como as empresas, tinham dificuldade em revelar coisas pessoais sobre si e ter isso agarrado aos registos da startup. Acrescenta que havia uma grande falta de confiança na confidencialidade dos dados. “Queremos ser ouvidos, mas mantemo-nos silenciosos”, disse a mentora do projeto.

Para dar a volta ao contexto, a primeira coisa que fez na plataforma foi recolher 100 dados demográficos, desde o género, identidade, sexualidade, deficiências, neurodiversidade, hobbies, trabalho, balanço familiar, entre outros elementos ricos em diferenciação das pessoas numa organização. A segunda coisa foi criar um modelo científico para medir a cultura de inclusão no trabalho.

“Coisas como a segurança psicológica, confiança, comprometimento, relação com o gestor, suporte de trabalho, compromisso com a organização e o bem-estar, para conseguir perceber se este está “dormente” no trabalho. Se está conectado? Se têm a oportunidade para inovar? Se pretendem ficar com a organização?”, refere Sandra Healy

Por fim, o terceiro ponto desenvolvido foi um sistema de gestão para entregar o conhecimento aprendido. “Pretendemos ser a parte da solução para as organizações, ajudar as pessoas a mudar o seu pensamento e saber como é para aqueles que são diferentes”. Para isso, a startup diz que utiliza conhecimento em ciência comportamental. De três a cinco minutos por dia, os utilizadores apenas precisam de clicar e deslizar imagens, recebendo os registos em forma de analítica detalhada, de forma totalmente confidencial, que fica registado em dashboards da organização. Desta forma são construídos os perfis da cultura, com dados agregados para as organizações. A partir daí as empresas têm os dados para melhor compreender e construir a sua cultura de inclusão.

Questionada sobre a importância atual das empresas trabalharem no contexto da inclusão, Sandra Healy afirma que se trata de algo absolutamente imperativo. “Existem várias investigações que mostram que cerca de 80% dos empregados pesquisam ativamente a cultura de uma organização ainda antes de considerarem concorrer para um emprego. E existe outra investigação que mostra que se uma pessoa for referenciada ou recomendada para uma organização, poderá manter-se por mais tempo”.

A especialista explica que uma empresa até poder ter políticas embelezadas e dizer coisas muito boas em torno da cultura de inclusão. “Mas se as pessoas entram para a organização que na verdade não vivem essa experiência, estas saem e por vezes arrastam outras pessoas com elas”. Tudo isso tem impacto na empresa, custando quatro ou cinco vezes mais o salário de uma pessoa a ter que voltar a recrutar alguém para substituir uma saída, entre a contratação, treino, por isso, a plataforma poderá ser uma ferramenta importante na retenção de talento. Ter os gestores a criar um ambiente inclusivo para as suas equipas. “Se tiver um ambiente de equipa com pouca segurança psicológica, onde os trabalhadores não sintam que podem falar para contribuir para a inovação da organização, isso terá impacto na produtividade”.

Na sua visão, o conceito do emprego para a vida já não existe, a geração de millennials quer ganhar dinheiro e ter a flexibilidade para sair e gastar ou viver alguns anos em outro país.

Os colaboradores "querem ter a oportunidade de aprendizagem contínua, a desenvolverem-se. E terem a oportunidade de contribuir e ter um impacto no mundo. E se as organizações não se ajustarem para esta mentalidade, vão estar a fechar a porta ao talento"

Também é preciso haver uma mudança de mentalidade na liderança, a capacidade de liderar por exemplo. “Apenas és um líder se as pessoas escolherem seguir-te. Agora, porque devem as pessoas seguir-te? Liderar pelo exemplo”.

Sobre a sua ligação com a Altice Portugal, o qual vai construir um programa-piloto para toda a organização internacional do Inclusio, Sandra Healy diz que esteve 20 anos na indústria das telecoms, onde começou a trabalhar nas questões de inclusão e diversidade.

Uma coisa que me interessou na Altice foi que notei na liderança sénior das equipas que querem fazer mudanças na direção correta. E que a melhor forma de o fazer é através da tecnologia. É uma categoria imergente, que está a começar e nós somos uma das primeiras plataformas a fazê-lo”.

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Usar a Altice no seu piloto vai ser um desafio, devido à legislação ligada à recolha de dados que necessita. “De um ponto de vista legislativo, não podes pedir às pessoas que revelem estes dados característicos protegidos sobre si mesmas”. A startup tem especialistas em legislação RGPD para trabalhar com os dados protegidos. “Mas o facto de termos construído uma tecnologia que protege as pessoas, conseguimos a confiança e confidência dos empregados, que sabem que nunca vai ser partilhado com os empregadores”. No que diz respeito à proteção dos trabalhadores, afirma-se como a voz dos mesmos, no seu impacto social.

Por outro lado, pretende oferecer às empresas as ferramentas para medirem e tomarem ação, por exemplo, ajudar a identificar quando a segurança psicológica é baixa.

Questionada sobre se o Inclusio poderá tornar-se uma nova ferramenta de benchmark que as empresas possam publicar, esse critério ficará ao cargo das mesmas. Ter informações públicas sobre o nível de inclusão e diversidade, como uma espécie de certificação global. A startup está a trabalhar com o sector financeiro, para traçar o perfil das organizações e funcionários.

Além da localização da plataforma em Portugal, a Inclusio já assegurou o financiamento para internacionalizar em diferentes línguas, nos próximos 24 meses. Não apenas o idioma, mas também são considerados os aspetos contextuais culturais. A startup já leva quatro anos de investigação e desenvolvimento no design da plataforma. A sua chegada em Portugal, em principio em Aveiro, na Altice Labs, será um teste para a internacionalização da plataforma.

Veja na galeria fotografias do Altice International Innovation Award 2022: