A questão já tinha sido abordada na sessão de abertura, mas atravessou transversalmente vários painéis do 28º Congresso da APDC, independentemente do tema. Como é que se conseguem formar, atrair e fixar os recursos humanos para fazer desenvolver a indústria? Se aqui é a falta de recursos que impera, do outro lado há também o problema dos empregos que vão ser destruídos com o avanço da tecnologia, especialmente a robotização e a inteligência artificial/machine learning. São dois lados de uma mesma "medalha" da inovação, que preocupam o sector e que estiveram em destaque em vários painéis.
A falta de profissionais qualificados em TI é clara na Europa, e o custo dos salários está a crescer, mas mesmo assim não há recursos especializados suficientes para colmatar as necessidades, e as empresas acabam por guerrear entre si para conseguir os melhores profissionais.
“A falta de recursos humanos para estas novas áreas é um grande problema. A lacuna existe e no futuro será maior”, avisa António Lagartixo, partner da Deloitte no painel Big Data e Analytics, referindo que as maiores empresas já começaram a fazer os seus programas de transformação digital, o que obriga à mudança dos seus recursos humanos.
A transformação de pessoas é um dos desafios a que as empresas enfrentam actualmente, e António Lagartixo reconhece que não é possível ter recursos humanos com as qualificações necessárias à velocidade que o mercado exige. “Nas empresas tradicionais o problema é muito maior. Temos um gap abismal entre as competências necessárias e as que temos em concreto”, refere.
“Passamos os dias a guerrear-nos pelo talento”, reconhece Manuel Maria Correia, da DXC Technology, no mesmo painel.
A situação agrava-se com a atração de centros de competências de multinacionais para Portugal, como as que têm sido feitas nos últimos anos. “Para um país que tem um problema demográfico muito grave é difícil de recuperar e o facto de se instalarem novos centros de competências de multinacionais está a agravar a situação”, alerta Ricardo Pires Silva, director executivo da SAS.
A questão voltou a ser referida por Miguel Domingos, director de IT e infraestrutura do Novo Banco num painel sobre Cloud | Edge. “Quando olhamos para as transformações tecnológicas, precisamos sempre de pessoas e know-how. Quem sai da faculdade não quer ir para um banco em Portugal”, sublinha, alertando para o facto do modelo de recrutamento ser vital, e ter de ser diferente do actual. “Temos que ser capazes de atrair os melhor talentos e retê-los ou temos que encontrar parceiros, porque não somos capazes de fazer tudo sozinhos”
E os empregos que os robots vão roubar?
Enquanto as tecnológicas e as áreas de TI se preocupam com a falta de recursos, o painel dedicado à inteligência artificial, machine learning e robótica focou mais os riscos de destruição de postos de trabalho com esta nova era de industrialização robótica.
“Haverá uma grande distupção no mercado de trabalho. Há uns que vão desaparecer. Vão ser automatizados. Mas a parte positiva é que há trabalhos que vão mudar e tornarem-se melhores”, defende José Gonçalves, presidente da Accenture, exemplificando com treinadores de robots, para melhorar a eficácia das maquinas, ou os provedores do cliente. “Temos que garantir que as máquinas se desenvolvem, mas de uma forma ética”, justifica, dizendo que mesmo assim não se sabe se o saldo será positivo ou negativo.
Tiago Azevedo, Group IT Director da REN, sublinhou que todos deveremos ter muita atenção à transição que vai acontecer até 2029 na industria, mas “é preciso transformar as pessoas durante este processo de transição. É preciso preparar o processo”, avisa.
Na mesma linha, Paula Panarra lembra que hoje já há muita oferta na requalificação. E defende que preparar quem hoje está no mundo do trabalho para as mudanças que estão a chegar “é uma responsabilidade de todos, empresas, universidades e organizações”.
E o investimento também deve ser dividido, e apoiado pela sociedade. “Há o imperativo de não deixar ficar para trás pessoas que terão os empregos destruídos”, concorda João Nuno Bento, CEO da Novabase, que lança o desafio para que as empresas façam parcerias com as universidades. “Existe muito conhecimento que pode ser aproveitado pelas empresas. E as universidades precisam dessas parcerias e têm o talento. Há uma sinergia fantástica. Faz todo o sentido para os players”, refere.
O 28º Congresso da APDC decorre entre hoje e amanhã, 26 e 27 de Setembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa e conta com várias dezenas de painéis, divididos entre três palcos, e que são complementadas por um espaço de exposição das empresas patrocinadoras e startups.
A agenda completa pode ser consultada aqui e quem quiser pode acompanhar os debates em streaming, nos três palcos, através dos seguintes links : Grande Auditório; Sala Almada Negreiros e Sala Sophia Mello Breyner.
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