Por Catarina Cruz (*)

O setor das tecnologias de informação (TI) é, há muito, uma área altamente competitiva, onde encontrar e conquistar talento é quase uma corrida contra o tempo. Num mundo onde a procura por perfis técnicos qualificados é enorme, e o tempo de resposta pode fazer toda a diferença, a automatização dos processos de recrutamento tornou-se uma aliada fundamental. Agiliza tarefas, dá escala e traz eficiência. Mas com essa eficiência surge também um desafio que não podemos ignorar: como manter o lado humano e próximo num processo cada vez mais automatizado?

Automatizar pode — e deve — ajudar. Ferramentas como os ATS (Applicant Tracking Systems) facilitam a gestão de candidaturas, a marcação de entrevistas e o envio de notificações. E isso é ótimo, porque permite libertar os recrutadores de tarefas repetitivas e dar-lhes espaço para o que realmente importa: conhecer pessoas, perceber motivações e avaliar mais do que competências técnicas. Ainda assim, é essencial garantir que a tecnologia não se transforma num obstáculo. Um processo excessivamente automatizado pode tornar tudo mais impessoal, quase frio — e afastar precisamente o talento que queremos atrair.

Porque quem trabalha em TI já sabe o que quer. Valoriza processos rápidos, transparentes e respeitadores do seu tempo. Quer saber ao que vai desde o início: desafios, stack tecnológico e condições salariais. E acima de tudo, quer sentir que há alguém do outro lado. Que o seu tempo e o seu percurso são valorizados. A ausência de feedback, a comunicação impessoal ou um processo que parece igual para todos são sinais claros de desvalorização. E, numa área em que cada talento conta, estes detalhes fazem toda a diferença.

É aqui que entra a humanização. Quando o recrutamento é feito com escuta ativa, empatia e intenção genuína de conhecer quem está à nossa frente, a experiência muda. Tornamo-nos mais do que uma empresa a contratar — tornamo-nos uma marca que cria relação, que ouve e que se importa. E esse vínculo começa antes do primeiro dia de trabalho. Começa na forma como conduzimos o processo, como damos feedback e como comunicamos. Recrutar é, no fundo, criar ligações.

Por isso, mais do que escolher entre automatizar ou humanizar, o verdadeiro desafio está em encontrar o equilíbrio perfeito. Automatizar o que é repetitivo, sim. Mas continuar a promover o contacto humano onde este faz diferença. Personalizar mensagens, adaptar o tom, responder com atenção.

E, claro, usar também a tecnologia a favor da inclusão, desde que com critérios bem definidos e acompanhados de supervisão humana. O futuro do recrutamento em TI está precisamente nesta junção: uma combinação inteligente entre o melhor da tecnologia e o melhor das pessoas. Porque é assim que se constroem processos realmente memoráveis e equipas ainda melhores.

(*) Diretora de Inovação da Olisipo