Apresentar ferramentas que praticamente eliminam a necessidade de programar numa conferência de programadores é uma boa ideia? A SAP aproveitou o palco da TechEd, a sua maior conferência de developers, para revelar uma série de ferramentas que pretendem facilitar a vida dos programadores, reduzindo o tempo de desenvolvimento de aplicações com geração automática de código, desenvolvimento da lógica e teste dos scripts. Mas que, em última análise, ameaçam substituir pelo menos parte do trabalho de desenvolvimento.
Este ano o TechEd decorre em Bangalore, na Índia, onde a SAP tem o seu segundo maior laboratório de desenvolvimento, logo a seguir à Alemanha. O SAP Labs tem mais de 13 mil pessoas, considerando cinco localizações, está em crescimento, acompanhando a economia do país e a procura dos clientes, e já há planos para expansão até 2025.
Sindhu Gangagharan, Senior Vice President & Managing Director do SAP Labs India, diz que este é o maior TechEd de sempre, com mais de 5.800 pessoas inscritas, e que isso é apenas um dos fatores que mostram a forma como a Índia se está a posicionar no segmento da tecnologia, impulsionando uma nova era tecnológica com potencial para liderar na IA Generativa.
Perante uma plateia composta maioritariamente por programadores, defendeu que a IA generativa é mais uma ferramenta que traz eficiência ao desenvolvimento, mas que a capacidade humana vai ser sempre necessária. E que por isso os programadores não vão ficar sem trabalho.
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O desenvolvimento de código de forma quase automática foi uma das primeiras áreas onde o poder da IA generativa foi usado, com o GitHub Copilot, e desde então a evolução não tem parado, fazendo crescer os receios de que o papel do developer se torne irrelevante.
O SAP Build Code foi uma das novidades que a SAP mostrou no TechEd para acelerar o desenvolvimento de código, tirando partido do Joule copilot para criar aplicações empresariais, automatizar processos e desenhar sites de forma simples e rápida, reduzindo desenvolvimentos dramaticamente, de uma semana para apenas um dia. É uma evolução da plataforma SAP Build anunciada no ano passado e está optimizada para Java e JavaScript, garantindo interoperabilidade com a ABAP Cloud para o modelo de desenvolvimento e gestão dos ciclos de vida da solução.
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“O SAP Build Code é uma evolução na capacidade de desenvolvimento, com as ferramentas de produtividade da Inteligência Artificial e melhora a colaboração com os ‘cidadãos programadores’ que usam soluções low code do SAP Build”, defende Juergen Mueller, Chief Technology Officer (CTO) da SAP.
À frente de uma equipa que conta com mais de 13 mil colaboradores no SAP Labs Índia, a maioria dos quais programadores, Sindhu Gangagharan está confiante de que esta é uma área que vai continuar a crescer e onde não haverá excesso de mão de obra num futuro a médio prazo. A responsável pelo desenvolvimento de produtos e tecnologia do SAP Labs India admite que com a IA generativa o papel do developer está a mudar, mas vê isso de uma forma positiva.
A ideia de que cada developer vai tornar-se um developer de IA generativa está na base de vários anúncios no SAP TechEd, e em entrevista ao SAPO TEK, Sindhu Gangagharan explica que há ainda competências e qualidades especificas que não são substituídas pela IA.
“Cada developer tem de ser um prompt engineer. Não há qualquer questão em relação a isso, mas ao mesmo tempo, um prompt engineer pode realmente desenvolver código num domínio específico? Não”, afirma. Por isso a líder do SAP Labs India diz que é mais um complemento para o developer, mais uma competência, que através do prompt engineering consegue ter um enquadramento e acelerar o desenvolvimento.
O objetivo é que tenha acesso a uma base de código pronta, de forma rápida, quando antes tinha de passar várias semanas a construí-la, mas alerta que os programadores “precisam de ter um conhecimento sólido sobre como escrever código específico. Isso só um hardcore developer poderá fazer”.
À medida que os grandes modelos de IA generativa são treinados vão melhorar também a capacidade de resposta e a SAP está a treinar os seus próprios modelos, mas estão ainda longe de substituir a capacidade humana.
Um Hub de inteligência e mais formação em IA generativa
Entre as novidades anunciadas durante o TechEd para os programadores está a plataforma AI Foundation, que integra o AI Hub, onde a SAP concentrou o acesso a grandes modelos de linguagem que podem ser usados pelos programadores. Walter Sun, o novo responsável de IA que a SAP trouxe da Microsoft, diz que com estes modelos os programadores vão acelerar o processo de desenvolvimento, com capacidades de prompt management e acesso instantâneo aos vários LLM.
Já em dezembro o AI Hub vai contar com o Azure Open AI da Microsoft e o Falcon 40B, mas a ideia é juntar mais modelos, como o Llama 2 da Meta e o Alpha da Wolfram, de uma forma fácil de usar, com o contexto de dados correto e ajudando os developers a atingir melhores resultados.
“Com este acesso os developers podem experimentar e submeter uma prompt a vários grandes modelos de linguagem comparar os resultados da IA generativa e identificar o melhor modelo para cada caso e podem depois controlar e corrigir as várias hipóteses, com controlo e transparência com funcionalidades”, justifica Walter Sun.
Mas isto é apenas o início de uma jornada, avisa o especialista em Inteligência Artificial generativa. “No próximo ano vamos alargar a capacidade de gestão de comandos com a parte generativa, com mais templates de prompts, registos e livrarias. E vamos poder dar recomendações para o melhor modelo para dar assistência a sobre o melhor modelo”, promete Walter Sun, que diz ainda que “vamos integrar cenários mais específico, com conteúdo aprofundado, agentes e plugins e melhor orquestração para respostas mais exatas”.
A longo prazo a SAP vai ter modelos que vão trabalhar com os developers e que vão ter a vantagem de usar dados de negócio e gerar mais conteúdo de negócio. “Estamos a explorar ativamente um grande modelo genérico que possa endereçar uma variedade de cenários de negócio no futuro”, adianta.
Em várias apresentações e entrevistas fica também claro que a visão da SAP passa por promover mais o papel dos programadores, reforçando a sua formação na área de Inteligência Artificial. Foram anunciados vários cursos e certificações e uma parceria com a Stanford HAI (Institute for Human-Centered AI).
Há ainda um guia do programador para SAP BTP dentro da framework e uma certificação baseada na função de AI, que se junta a recursos gratuitos de formação em ABAP Cloud para developers. Nos últimos dois anos as ofertas gratuitas da empresa passaram de sete para mais de 140 recursos em áreas chave do portfólio, incluindo a IA.
A SAP pretende ainda reforçar esta oferta e anunciou que quer fazer upgrade das competências de dois milhões de profissionais até 2025. Para já está no bom caminho e mais de 1,7 milhões começaram cursos este ano.
Nota da Redação: a jornalista viajou para Bangalore a convite da SAP
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