Ainda antes de explodir o conceito de metaverso, naquela que é a tendência atual da presença digital das empresas e utilizadores num espaço comum interligado, sobretudo em realidade virtual, já a Didimo se dedicava a criar “humanos digitais”. Estes são avatares que representam os utilizadores no espaço digital, os quais a startup portuense Didimo tem vindo a melhorar e a expandir. E se inicialmente criava apenas a cabeça dos seus avatares, que podiam ser uma réplica digital do utilizador ou qualquer coisa que quisesse, recentemente a tecnologia recebeu um upgrade e já é possível criar totalmente a personagem.
A Didimo revelou hoje uma nova ronda de financiamento de Série A, no valor de 7,150 milhões de dólares, liderada pela Armilar Venture Partners e com a participação da Bright Pixel Capital, Portugal Ventures e Techstars. A empresa refere que o capital será utilizado para impulsionar o crescimento comercial e global, bem como desenvolver opções adicionais de apoio aos clientes.
Veja na galeria imagens dos avatares da Didimo:
Em entrevista ao SAPO TEK, Verónica Orvalho, fundadora e CEO da Didimo, diz que desde 2016 que a empresa conta com o apoio da maioria destes investidores, que voltam a participar nesta ronda, servindo igualmente de voto de confiança na startup, “algo que vale mais do que palavras podem exprimir”. Destaca que se trata de uma validação do esforço da equipa, “especialmente numa altura em que conseguir fechar uma Série A é um privilégio”.
Quanto a objetivos concretos, a Didimo dividiu-os em dois: a comercialização do seu produto e a visão a longo prazo. Verónica Orvalho explica que no primeiro caso pretende constituir uma equipa comercial e desenvolver a tecnologia necessária para o crescimento do seu produto para mais sectores. “Queremos atrair novos clientes e estabelecer parcerias com empresas na área do entretenimento, moda e metaverso - para que possamos ser a plataforma top of mind para a criação de avatares altamente reconhecíveis para experiências que acrescentem valor”.
"Queremos atrair novos clientes e estabelecer parcerias com empresas na área do entretenimento, moda e metaverso - para que possamos ser a plataforma top of mind para a criação de avatares altamente reconhecíveis para experiências que acrescentem valor".
Sobre a visão, afirma que esta ronda foi mais que um apoio financeiro, mas uma validação que vai permitir continuar a sua missão de “tornar o mundo digital mais humano”. Explica ainda que a empresa vai desenvolver a próxima evolução das capacidades que trazem a emoção humana e “uma ligação mais profunda como uma parte da experiência de utilizador de um avatar”.
A startup pretende assim tomar a boleia na crescente aposta no metaverso, videojogos e experiências digitais imersivas. E como tal, recebeu neste financiamento mais um sinal de confiança dos investidores, naquela que é a capacidade de gerar um gémeo digital baseado num ser humano. Estes podem ser utilizados por criadores, marcas e consumidores nas novas experiências imersivas.
A empresa diz que tem tecnologia patenteada que permite aos utilizadores jogar ao lado e frente-a-frente a Cristiano Ronaldo ou Tom Brady, que permite aos programadores e organizações transformar rostos captados em 2D em versões digitais 3D dessas pessoas. E dessa forma, qualquer pessoa pode interagir com os seus ídolos em videojogos, concertos de música virtuais ou mesmo, experimentar roupa num website.
“Quando a startup foi fundada em 2016, estávamos longe de conhecer este conceito do metaverso”, sublinha Verónica Orvalho. Mas previa-se que a tecnologia em realidade virtual seguisse este caminho. “Sem dúvida que as experiências digitais estão a tornar-se cada vez mais imersivas e personalizadas - são duas tendências que precisam de uma nova abordagem para desbloquear o valor máximo da transformação digital”. Quando a startup foi fundada, a equipa tinha uma compreensão profunda de como as tecnologias de machine learning e computer vision poderiam ser utilizadas para ajudar as pessoas a se representarem digitalmente, assim como construir uma plataforma que as ajudasse a fazer o que quisessem.
Criação de avatares 3D em 60 segundos
Sobre aquilo que mudou desde a fundação da startup e o posicionamento atual da Didimo face ao novo conceito de metaverso, a CEO da empresa diz “estar alinhado com uma das grandes vantagens do metaverso de replicar a realidade física no digital”. E dá como exemplo, a tecnologia que tem vindo a desenvolver que permitirá estar presente no mesmo espaço virtual com personalidades como as referidas figuras do desporto dados como exemplos.
“Na era da digitalização, humanos digitais, tais como os criados pela Didimo, são fundamentais na procura por novas formas de estabelecer ligações com clientes. O uso de avatares realistas permite às organizações transformar os seus serviços, experiências e benefícios de modo a impulsionar receitas e aumentar a fidelização”, realça Verónica Orvalho.
A plataforma da Didimo permite reunir o processo complexo de criação de avatares em 3D, em cerca de 60 segundos. Ou seja, a possibilidade de transformar uma fotografia de uma pessoa num avatar 3D da mesma.
Para a líder da empresa, o metaverso deve estar ao serviço da humanidade, “como qualquer evolução tecnológica”. Nesse sentido, a empresa tem o dever de garantir que a tecnologia vai ter um impacto positivo na vida das pessoas. Mas defende que “o potencial do metaverso neste aspeto é incalculável”.
Para si, o sector da Educação diz-lhe muito e o metaverso vai permitir momentos de formação altamente imersivos para os alunos. “Podemos criar uma sala virtual com um professor e ter 20 ou 30 estudantes espalhados pelos quatro cantos do mundo a assistir, todos ao mesmo tempo, a uma aula. Conseguimos tornar a educação, esta que é uma base indispensável para a vida, verdadeiramente acessível”. E este é um exemplo entre centenas, desde o recrutamento ao acesso a diagnósticos médicos, acreditando que inovações como o metaverso pretendem facilitar o quotidiano das pessoas e que este não irá ser exceção.
Sobre as novidades mais recentes na aplicação de criação de avatares digitais, Verónica Orvalho disse que há sempre um mapa extenso para o desenvolvimento de novas ferramentas. Mas a preocupação em melhorar aquilo a que chama de “semelhança”, a capacidade de um Didimo de parecer e agir como o utilizador, é um trabalho constante. O seu motor tem sido aperfeiçoado, com testes externos regulares, que incluem três de visão de computador e um estudo de rastreio do consumidor. A empresa recolhe dessa forma o feedback necessário para continuar a aperfeiçoar a sua tecnologia e a qualidade dos avatares. “Isto significa que os Didimos vão ficando mais aperfeiçoados e mais realistas ao longo do tempo. Esta é a chave da nossa diferenciação”.
A empresa diz estar atualmente concentrados em lançar um produto para a personalização do corpo inteiro. Isso quer dizer que tem vários “corpos” em stock, mas em breve a empresa vai ser capaz de oferecer aos utilizadores momentos de adaptação das dimensões do seu gémeo digital de um corpo que se pareça ao seu. Há ainda ferramentas para apoio aficional, tal como um SDK para avatares irreais e integrações de fala.
Economia e sociedade digital no metaverso
Sobre a economia digital, como por exemplo gerida por criptomoedas, de forma descentralizada e nas mãos dos utilizadores, Verónica Orvalho acredita que diversos elementos do metaverso serão mesmo descentralizados. E é algo que vê como positivo porque diz que vai permitir a inclusão de mais pessoas. “Pensamos que haverá várias abordagens ao financiamento, através da blockchain como mecanismo de verificação de transações. Acreditamos também que a informação será mais amplamente e livremente partilhada”.
Ainda assim, considera que certos elementos não vão ser tão descentralizados como alguns poderão sugerir. Isto porque há uma tendência de preferir sistemas que funcionam corretamente, inspiram confiança e que são utilizados por conhecidos, “pelo que é provável que haja um conjunto mais pequeno de plataformas criadas para o metaverso que queremos utilizar (como as plataformas de redes sociais atuais). Ou que valorizamos como experiências Web3 de marcas que têm um papel significativo nas nossas vidas”. Acrescenta ainda que esse fator não só vai garantir experiências melhores e mais consistentes no geral, como também vai proporcionar facilidade, consistência e escala nos lugares em que se convive online.
Sendo a Didimo uma especialista na representação visual das pessoas nos mundos digitais, o SAPO TEK procurou a opinião da especialista em avatares sobre as questões de bullyng e abusos a utilizadores, sobretudo a mulheres no contexto virtual. E se é necessário algum tempo de regulamento específico para o metaverso além das normas de conduta já existentes. “O metaverso pretende ser uma realidade digital, paralela ou sobreposta à nossa. Sendo assim, tal como acontece na nossa sociedade, terão que existir regras e regulamentos para que possamos todos conviver em segurança”.
Mas afirma que efetivamente ainda não existe um regulamento geral ou punições para crimes no metaverso, embora acredite que seja uma questão de tempo. “Um aspeto fundamental é o elevado reconhecimento do utilizador - exatamente o que Didimo oferece - quando os utilizadores são reconhecíveis, mesmo no digital, não se podem esconder atrás de um avatar básico e não reconhecível ou através de um tipo diferente de representação”.
Estes elementos permitem melhorar o comportamento dos utilizadores no digital, aumentar a sua integridade, uma vez que sendo avatares identificáveis, estes podem ser responsabilizados. Nesse sentido acredita que isso vai contribuir bastante para minimizar certas formas de conduta que tornam os espaços digitais prejudiciais ou despropositados.
"O metaverso traz-nos muito de bom, mas também abre novas portas para segundas intenções. No caso da Didimo, contribuímos da forma que conseguimos, não somos uma entidade reguladora, contudo, implementámos medidas de prevenção na plataforma".
“O metaverso traz-nos muito de bom, mas também abre novas portas para segundas intenções. No caso da Didimo, contribuímos da forma que conseguimos, não somos uma entidade reguladora, contudo, implementámos medidas de prevenção na plataforma, como por exemplo, o facto de controlarmos o tipo de fotografias que podem ser utilizadas para gerar um Didimo”. Também estabelece nos termos e condições da plataforma o que pode ou não ser feito com a sua tecnologia.
Para o futuro, a empresa quer continuar a inovar no que diz respeito de tornar os Didimos ainda mais fiéis à realidade, para que a experiência do utilizador seja mais imersiva. “Vemos que o futuro exigirá uma maior capacidade de segurança e verificação do avatar Didimo, esta é uma evolução natural com experiências na Web3”. A possibilidade de exibir emoções através de um Didimo é um dos “selling points” da sua tecnologia e a empresa pretende continuar a ser pioneira na representação de novas formas de mostrar emoções e micro-emoções, que diz serem fundamentais “para uma comunicação precisa e realista.
Além dos avatares Didimo que acabam por ser gémeos digitais personalizados de cada utilizador, a plataforma também já é utilizada para gerar NPCs para videojogos. Ou seja, são personagens não controláveis que estão espalhadas pelos mundos abertos dos videojogos. A empresa diz que a sua tecnologia pretende ajudar os estúdios e designers experientes a povoar rapidamente os seus mundos com personagens de alta qualidade.
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