É impossível não ficar de boca aberta a assistir aos vídeos de Filipe Heitor no TikTok: quando bate as palmas tudo pode acontecer, seja uma transformação num super-herói da Marvel ou um Deus Egípcio, saltando do seu estúdio para um cenário de fantasia, futurista ou pós-apocalipse.

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Os dotes de edição de vídeo de Filipe Heitor destacam-se, mas é nas batalhas online, uma ferramenta do TikTok para ajudar criadores a receber “gorjetas” da sua plateia, é onde mais brilha. Praticamente em tempo real, faz de tudo para ganhar: transformar-se com as ferramentas de IA ou, porque não, transformar o seu rival, “transportando-o” para a sua própria transmissão em direto.

O TEK Notícias quis conhecer melhor este autêntico "mágico" do TikTok, qual Mandrake a fazer ilusões recorrendo à inteligência artificial. Nascido na Amadora e a viver mais tarde em Mação, o artista de 39 anos habita atualmente nos arredores de Paris. Emigrado em França, é encarregado de uma das maiores empresas de construção civil do país, responsável pela execução de obras públicas, nomeadamente a rede e estações do metro, incluindo os túneis.

Veja na galeria imagens do Filipe Heitor:

“Fora disto considero-me editor de vídeo, que é o que passo a maior parte do meu tempo a fazer. As IAs são um recurso que não apareceram há muito tempo, nomeadamente as generativas de imagem e vídeo, mas vieram colmatar um dos grandes problemas dos editores que é a contextualização”. Segundo Filipe Heitor, muitas vezes não existem imagens sem direitos que ajudem a ilustrar na perfeição aquilo que se pretende narrar no vídeo. Com uma prompt, consegue-se descrever uma cena e criar o vídeo, “com um realismo quase indescritível, o que torna a criação de conteúdo muito mais fácil”. Destaca a maior facilidade de montagem e edição, que para si não são a mesma coisa, “mas a montagem de vídeo bem mais fácil”.

Filipe Heitor
Filipe Heitor Créditos: Filipe Heitor

Antes do fenómeno da IA já editava vídeos para o YouTube, para os seus projetos pessoais e de clientes. “Eu apaixonei-me pela edição de vídeo, porque esta é ilimitada".

Não existe um patamar em que tu atinges e dizes que és um editor, há uma curva de aprendizagem e as coisas estão sempre a atualizar. E é isso que me fascina, porque há sempre margem para o próximo vídeo ser ainda melhor que o anterior.

Das séries de paródia às batalhas do TikTok

O seu primeiro vídeo foi publicado há 13 anos, mas afirma que não é possível ter relevância no meio se não editar bem os mesmos. Ao longo do tempo começou a editar, as coisas começaram a ficar mais bonitas, até que estreou uma série de vídeos inspirado no Ridiculousness da MTV, onde comenta e cria histórias baseados nos “cromos” do TikTok.

Sobre as batalhas do TikTok, diz que sempre resistiu em fazê-las, porque não acha ético pedir “presentes” ao público que assiste. Considera que as pessoas que assistem, à medida do YouTube e Twitch devem doar para ajudar e não por serem manipuladas por uma “batalha”. Considera que não é fácil estar uma ou duas horas em live a falar e a interagir com as pessoas, a não ser numa batalha, e foi resistindo ao máximo.

Veja uma das transformações do Filipe:

“Um dia estava deitado a ver uma live de um rapaz espanhol com a minha esposa, que no meio se transformou. Disse rapidamente que estava a usar o OBS, esta e aquela ferramenta, pois eu já fazia vídeos com manipulação com IA a transformar-me em heróis para partilhar nas redes”. Com o incentivo da esposa e tendo como base a inspiração desse criador espanhol, chegou à conclusão que em Portugal ninguém estava a fazer algo semelhante.

Considera ter sido a terceira ou quarta pessoa do mundo a fazer transformações nas transmissões ao vivo.

Começou assim a sua jornada nas transformações, em super-heróis e personagens da Disney, como o próprio afirma, “acabei por mudar um bocadinho a forma como se faz em Portugal e pode-se dizer, por esses países fora, os conteúdos no TikTok. Já não é preciso estar ali a falar mal e a espicaçar os outros, há outras formas de fazer conteúdo, e estou feliz por isso”.

O processo criativo e rentabilização do trabalho de edição

Ficando cada vez mais conhecido pelo seu trabalho, é constantemente abordado por seguidores e fãs que lhe pedem “borlas”, seja a fazer animações ou mesmo explicações de como faz. Mas aponta que este “hobby” acaba por ser bastante dispendioso e por isso monetiza os conteúdos através de edições para clientes, assim como mentoria na edição de vídeos.

Filipe Heitor
Filipe Heitor Créditos: Filipe Heitor

Afirma que tem despesas a nível de hardware, energia e as subscrições dos modelos de inteligência artificial e outro software. “Não se consegue utilizar apenas dois ou três modelos, uns são bons para animações, outros para fazer ligações entre frames, etc."

Só em subscrições de IA são pelo menos 400 euros, depois junte-se outro software como as assinaturas do Capcut Pro, as apps do Adobe e outras.

Entre os trabalhos que faz, os vídeos curtos para divulgação de outros criadores de conteúdos, que duram uns 3 segundos. Afirma ainda que criou um tipo de conteúdo para nicho, as animações para os MVPs das batalhas, ou seja, aqueles que mais enviam prendas ao criador, no final são recompensados com uma brincadeira feita com a sua imagem.

Apesar de criar vídeos, a sua grande paixão é, na verdade, o marketing. Diz que leu muitos livros sobre o tema e já trabalha com marketing de afiliados e e-commerce há bastante tempo. A sua ambição é mesmo explorar esta atividade, nomeadamente ajudar as empresas que ainda não entendem o digital, não sabem como o fazer.

Filipe Heitor
Filipe Heitor Créditos: Filipe Heitor

Procura ensinar como conectar as empresas às pessoas, a vender os seus produtos. Gosta desta área e está focado a trabalhar o marketing das empresas. E acredita que as PMEs começarem a explorar o digital vai ser uma tendência. Diz que não existe nenhuma empresa que não esteja no Instagram e Facebook, mas tem experiência a olhar para números, perceber quais os conteúdos que "viralizam" ou não. E se neste momento continua a estar empregado numa empresa francesa, a sua esperança é que em 2028 regresse a Portugal definitivamente para se estabelecer neste meio.

Apesar da IA ser parte da sua atividade diária, considera que em breve vai haver legislação para bloquear muito do que se faz atualmente, sobretudo os canais difamatórios e com mensagens políticas. “É muito fácil colocar o Cristiano Ronaldo a atropelar uma velha, pois a tecnologia está a chegar a um ponto onde não se consegue distinguir a realidade da IA”. Acredita que mais cedo ou mais tarde vai ter que haver um registo para se fazer uma utilização sensata da IA. Mas para si, a IA é uma ferramenta extraordinária para criadores, pois deixou de ser necessário ir para a rua filmar, podendo simular-se com uma prompt e criar. Os equipamentos, como as câmaras são muito caras e podem ser simuladas facilmente. Para si, a IA vem mudar o mercado, substituindo coisas que estavam muito bem instituídas.

Considera que sempre que faz uma transmissão ao vivo, oferece alguma coisa nova. Mas a ideia é fazer menos lives, para não se tornar repetitiva e perder-se o “efeito surpresa”. Diz que o processo de se transformar ao vivo é “simples”, pois tem tudo bem esquematizado e muita experiência a fazê-lo. Por vezes, o tempo que demora é mesmo o modelo a “pensar” a devolver o conteúdo introduzido na prompt.

Filipe Heitor
Filipe Heitor Créditos: Filipe Heitor

Para aqueles que pensam começar a criar conteúdo no TikTok deixa o aviso que em Portugal a monetização é bastante ingrata. Tal como no YouTube e Facebook, quem paga aos criadores são as marcas com publicidade. Mas no país não existem muitas empresas a investir na plataforma e faz a comparação. Em Portugal o CPM é de 7 cêntimos, enquanto em França é de 3 euros. Afirma que no Brasil já se começa a pagar bem, mas nos Estados Unidos pagam muito bem. “Nos Estados Unidos pagam 1.500 dólares por cada milhão de visualizações. Tenho meses que consigo chegar a 1,5 a 2 milhões de visualizações, que se fosse pago pela realidade do país estaria bem”.

Fazendo uma análise à comunidade do TikTok, em relação a outras plataformas, destaca que a plataforma vale a pena pela visibilidade, para vender a imagem. Mas não é muito boa para fazer negócios. Dá o exemplo de como o Estrela da Amadora tem aproveitado o TikTok para brincar com as tendências e promover o clube, mas não é nela que vende bilhetes ou camisolas. A Superbook é igual, mas depois é no Instagram ou Facebook onde vendem os produtos. Por ter sido uma plataforma que explodiu durante a Covid-19, apanhou um público muito específico, de pessoas que não podiam ter contacto físico com outras, como se fosse algo à parte.

Nos seus tempos livres ainda joga um pouco, embora apenas dois títulos em formato competitivo: League of Legends e FIFA (FC) onde diz que no caso do LoL já chegou a Platina. Mas o jogo da sua vida é a primeira versão de Final Fantasy VII.

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