O recurso à Wikipedia para procurar informação está a diminuir e a “culpa” é dos resumos feitos com inteligência artificial, que os browsers passaram a mostrar com os resultados das pesquisas. A conclusão é assumida por Marshall Miller, da Wikimedia Foundation e foi partilhada numa publicação no blog da fundação, onde o responsável também “culpa” as redes sociais pelo desvio de tráfego.

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Na publicação, o responsável assume uma redução no número de pageviews (humanos) da enciclopédia online da ordem dos 8%, comparativamente ao mesmo período do ano passado.

“Acreditamos que essas quedas refletem o impacto da IA generativa e das redes sociais na forma como as pessoas pesquisam informações, especialmente com os motores de busca a fornecer respostas diretamente aos utilizadores, muitas vezes com base no conteúdo da Wikipédia”.

Os resumos que os motores de busca mostram são criados a partir de pequenos programas informáticos (conhecidos como web crawlers), que têm precisamente como função reunir e resumir informação que vai aparecer no topo do ecrã de pesquisa.

Os sites de onde essas informações são obtidas tentam restringir a ação dos web crawlers, numa espécie de jogo do gato e do rato. “Muitos bots que rastreiam sites como o nosso estão a ficar cada vez mais sofisticados e a tentar parecer humanos”, admite Marshall Miller.

Isto faz com que medidas que costumavam ser eficazes para atrapalhar a missão dos bots deste tipo deixaram de ser, pelo menos por muito tempo. No início do ano, a Wikipedia reclassificou os dados de tráfego e descobriu que “grande parte do tráfego invulgarmente elevado durante o período de maio e junho provinha de bots criados para evitar essa identificação”, conta o responsável.

Wikipedia - pageviews
Wikipedia - pageviews créditos: Wikipedia

Um estudo da Pew Internet, realizado junto de 900 americanos, chegou a conclusões idênticas às da Wikipedia sobre o impacto da IA generativa no consumo de informação online. Os resultados da pesquisa, divulgados em julho, indicavam que quando surgiam resumos de informação nos resultados de pesquisa do Google, os utilizadores eram menos propensos a carregar nos links, do que quando esses resumos não eram mostrados.

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A publicação no blogue da Wikipédia também sublinha a mudança de hábitos das gerações mais jovens, no que se refere às fontes de informação consultadas. Essas fontes estão cada vez mais nas redes sociais e em plataformas de vídeo e cada vez menos em sites próprios, a que seja preciso aceder proativamente.

Um estudo do Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação, divulgado no início do ano passado, antecipava precisamente que as redes sociais vão ser cada vez mais dominantes na distribuição de notícias. A tendência tem vindo a consolidar-se nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pelo mesmo organismo no ano anterior concluía que as redes sociais já eram a principal fonte de informação para 87% dos inquiridos.

A publicação da Wikipedia não é só uma constatação, é também uma mensagem de sensibilização. “Com menos visitas à Wikipédia, menos voluntários podem crescer e enriquecer o conteúdo, e menos doadores individuais podem apoiar este trabalho”, alerta o responsável que a escreve.

LLMs, chatbots de IA, motores de busca e plataformas sociais que utilizam conteúdo da Wikipédia devem incentivar mais visitantes à Wikipédia, para que o conhecimento gratuito do qual tantas pessoas e plataformas dependem possa continuar a fluir de forma sustentável”. Fica o pedido.

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