As questões de violação de privacidade de quem usa dispositivos com assistentes pessoais inteligentes têm vindo a gerar preocupações nos Estados Unidos e na Europa. A Apple volta a enfrentar o escrutínio dos reguladores europeus de proteção de dados por armazenar conversas sem o conhecimento dos utilizadores e por ter colaboradores a revê-las manualmente.
Recentemente, Thomas le Bonniec, um antigo prestador de serviços da Apple que ajudou a expor a atuação da empresa da maçã, expressou publicamente os seus receios em relação à falta de cumprimento das leis. Numa carta enviada aos reguladores europeus, o colaborador indica que está “extremamente preocupado com o facto de as gigantes tecnológicas estarem a espiar os cidadãos europeus, apesar de existir a ideia de que a União Europeia tem uma das leis de proteção de dados mais fortes do mundo”.
“Estabelecer uma lei não é suficiente: é necessário impô-la a quem está constantemente a violar a privacidade”, afirma Thomas le Bonniec na carta a que o The Guardian teve acesso. Para o colaborador não há qualquer sombra de dúvida que a Apple e outras empresas continuam a ignorar as regras e a "violar os direitos fundamentais dos utilizadores" ao recolher dados sem o seu consentimento.
Ao Tech Crunch, Graham Doyle, comissário adjunto da Comissão de Proteção de Dados irlandesa (DCP na sigla em inglês), deu a conhecer que a entidade entrou em contacto com a Apple assim que a sua atuação se tornou pública no verão de 2019. Embora a empresa tenha feito algumas mudanças, a DCP ainda está à espera de respostas por parte da gigante tecnológica.
Em 2019, a Apple pôs um “fim” temporário ao programa global que permitia aos prestadores de serviços ter acesso a gravações da Siri. "Enquanto realizamos uma revisão completa, estamos a suspender a classificação da Siri globalmente. Além disso, como parte de uma futura atualização de software, os utilizadores terão a capacidade de optar por participar na avaliação”, avançou a empresa.
Recorde-se que em março de 2020 um estudo da Northeastern University e do Imperial College London, no Reino Unido, revelou que, embora os assistentes inteligentes não estejam constantemente a gravar as conversas, estes podem ser ativados sem o utilizador querer até 19 vezes por dia.
Os especialistas concluíram que as colunas inteligentes com mais ativações acidentais são as da Apple e da Microsoft. No caso do Homepod, a Siri “acordava” sempre que surgiram palavras que rimavam com “hi” ou “hey” seguidas por algo que começava pela letra S, ou ainda por algo que rimava com “ri”. Já a Cortana era ativada quando ouvia palavras começadas por “Co”.
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