Seis em cada 10 adolescentes usam jogos eletrónicos em dias de escola e sete em cada 10 jogam em dias que não têm aulas. As conclusões são do último relatório para o Plano Nacional para a Redução dos Comportamentos Aditivos e Dependências 2021-2030. O documento refere ainda que "os vídeojogos têm vindo cada vez mais a ganhar terreno ao longo dos anos como atividade de lazer, seja online ou offline, mas especialmente online, desde que estão disponíveis as plataformas que permitem jogar com pessoas do mundo inteiro em simultâneo".

Preparado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos e nas Dependências (SICAD) e lançado no final do ano passado, o relatório também mostra que, entre os jovens, a atividade mais habitual para ocupar os tempos livres é a utilização da internet, seja para jogar, ir às redes sociais, conversar em chats ou ouvir música, detalha esta segunda-feira o Diário de Notícias.

Acrescenta que, aos 18 anos, aproximadamente um quarto dos jovens que participam no Dia da Defesa Nacional admite ter tido problemas associados à utilização da internet nos 12 meses anteriores. Em 2017 terão reconhecido esta situação 23% dos jovens e em 2019 já 27%, com destaque para as raparigas. Este dado, no entanto, não se restringe a questões relacionadas com jogos online.

Para contextualizar os dados apresentados, o Diário de Notícias falou com pais de jovens em situação de dependência e com alguns especialistas, como Sónia Leitão, pedopsiquiatra do Centro Hospitalar de Leiria. A especialista reconhece um crescimento das situações de adição relacionadas com os jogos online, com a exposição por longos períodos a alguns serviços online e a transferência de relacionamentos para o mundo digital, que se agravou com a pandemia. Confirma ainda que o número de pedidos de ajuda tem aumentado, um dado que o SICAD também quer quantificar.

Polícia Judiciária impede ação terrorista direcionada a estudantes da Universidade de Lisboa. Jovem foi identificado em chats nas redes e dark web
Polícia Judiciária impede ação terrorista direcionada a estudantes da Universidade de Lisboa. Jovem foi identificado em chats nas redes e dark web
Ver artigo

"O que nós sentimos é que se já há uma tendência para estes adolescentes se isolarem, com a pandemia e os confinamentos veio agravar-se. Como é que comunicam? Através das redes sociais. O que fazem? É tudo online. Com este isolamento todo, os pais inibiram mais os contactos", refere a responsável ao DN.

A mesma especialista destaca situações em que os jovens passam longas horas sozinhos e isolados, ou porque se perderam hábitos de momentos em família, às refeições ou a ver televisão por exemplo, ou casos em que os pais por razões profissionais passam muitas horas fora de casa, como cenários que atrasam a identificação de problemas de isolamento e, nalguns casos, os potenciam.

"As pessoas estão, de uma maneira geral, muito mais impacientes e muitas vezes dá jeito ter os miúdos ocupados num ecrã. E os miúdos também estão assim. Fechados, cada um na sua ilha. Há muitas famílias que não jantam juntas. Os miúdos comem no quarto, vivem no quarto. E isso tem consequências”, alerta a médica.

Outra situação apontada pelos especialistas, pelo impacto nas rotinas dos jovens e adolescentes, foi a paragem de atividades extracurriculares. A generalidade foi suspensa durante a pandemia e, ou levou mais de um ano e meio a regressar, ou acabou mesmo por não regressar, caso dos clubes que deixaram de ter condições para as promover. Os especialistas sublinham que o treino de aptidões sociais que estas atividades permitem fazer está a perder-se e é fundamental.