Ninguém estava à espera de encontrar enxofre, mas a equipa que controla o robot explorador da NASA, o Curiosity, mantém-se atenta ao percurso e foi surpreendida por mais uma descoberta, à medida que continua a explorar alguns dos segredos da história de Marte. Desta vez o robot, que pesa cerca de uma tonelada, passou por cima de uma pedra que se abriu para trazer à luz do dia cristais verdes-amarelados que deixaram os cientistas perplexos.

Ashwin Vasavada, cientista do projeto Curiosity, no Jet Propulsion Laboratory (JBL) da NASA em Pasadena, Califórnia, nos EUA, acredita mesmo que poderá ter sido a descoberta mais estranha e inesperada de toda a missão. “Há muita sorte envolvida aqui. Nem todas as rochas têm algo interessante no seu interior”, disse o cientista sobre a descoberta.

A equipa do Curiosity antecipava com ansiedade a investigação do canal Gediz Vallis, uma formação que parece uma cobra e que deverá ter sido esculpida por um antigo rio, há três mil milhões de anos, talhado por uma mistura de água corrente e detritos. O canal encontra-se no Monte Sharp, com 5.000 metros de altura, que o rover escala desde 2014.

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No dia 30 de maio, Ashwin Vasavada e a sua equipa olharam para o mosaico de imagens do Curiosity e viram uma rocha esmagada no meio dos rastos das rodas do robot. Ao observarem com mais atenção, os cientistas fizeram uma descoberta que que consideraram “alucinante”, disse o líder da equipa.

À distância, os cientistas vislumbraram pedras brancas e quiseram aproximar-se. O Curiosity é conduzido a partir do JPL, na Terra, que enviaram instruções para o rover fazer uma curva de 90 graus, para as câmaras se posicionarem de modo a captar a paisagem circundante.

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Neste link pode ver uma imagem de 360º, que pode observar na totalidade ao movimentar o telemóvel ou o seu rato.

Alguns dias depois, a 8 de junho, o Curiosity captou uma imagem de grande plano de uma rocha a que chamaram “Lago de Neve”, em tudo semelhante à rocha que contém enxofre elementar, esmagada pelo rover no dia 30 de maio.

Algumas das descobertas do Curiosity, como os lagos que existiram durante milhões de anos e a presença de materiais orgânicos, contribuíram para o objetivo final da missão do robot da NASA: determinar se Marte foi em algum momento habitável.

Com a descoberta de enxofre puro em Marte, os cientistas querem agora perceber o que significa essa presença na história do planeta vermelho.

O Curiosity já tinha anteriormente descoberto sulfatos em Marte, ou sais que contêm enxofre, que se formam quando a água se evapora. A equipa encontrou evidências de sulfato de cálcio branco brilhante, também conhecido como gesso, em fendas na superfície marciana, os quais são, essencialmente, depósitos de água dura deixados para trás por antigos fluxos de água subterrânea. “Ninguém tinha enxofre puro no seu cartão de bingo”, disse Ashwin Vasavada, uma metáfora para ninguém antecipava a descoberta de enxofre puro.

A equipa ficou duplamente surpreendida: quando viu a “textura e cor deslumbrantes no interior” da rocha e quando utilizou os instrumentos do Curiosity para analisar a rocha e receberam dados que indicavam que se tratava de enxofre puro, explica Ashwin Vasavada.

Veja o vídeo partilhado quando o Curiosity chegou ao canal Gediz Vallis

Outra descoberta acidental do passado aconteceu quando o rover Spirit, após partir uma roda, teve de voltar para trás. No socalco criado pelo arrasto da roda partida, o rover descobriu solo branco brilhante, que se revelou ser sílica quase pura. Essa descoberta sugeriu a existência de nascentes de água quente ou de fontes de vapor em Marte, o que poderia ter criado condições favoráveis à vida microbiana, caso esta alguma vez tenha existido no planeta. O Spirit operou em Marte entre 2004 e 2011. A recordação da manobra então realizada inspirou a equipa atual a “olhar para trás” e ver o que estava no interior da rocha partida.

“O meu queixo caiu quando vi a imagem do enxofre”, disse Briony Horgan, coinvestigadora da missão do rover Perseverance e professora de ciências planetárias na Universidade Purdue em West Lafayette, Indiana, EUA. “O enxofre elementar puro é um achado muito estranho, porque na Terra encontramo-lo sobretudo em locais como as fontes hidrotermais. Pensem em Yellowstone! Por isso, é um grande mistério para mim saber como esta rocha se formou no Monte Sharp”, local que poderá ser criado por grandes inundações de água e detritos.

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Outra descoberta aconteceu no dia 18 de junho, quando a equipa recolheu amostras de uma grande rocha do canal “Mammoth Lakes”. Uma análise da poeira da rocha, efetuada por instrumentos no rover, revelou a maior variedade de minerais alguma vez vista durante a missão, disse Ashwin Vasavada.

Desde que chegou a Marte, no dia 5 de agosto de 2012, o Curiosity já subiu 800 metros a partir da base do Monte Sharp, a partir da cratera de Gale. A montanha é o ponto central da cratera que é vasto e seco leito de um rio. Cada camada do Monte Sharp conta uma história diferente sobre o passado de Marte, incluindo períodos em que o planeta era húmido e outros em que se tornou mais seco.

Veja as imagens de uma selfie do Curiosity da NASA