A área das Tecnologias da Informação (TI) é, já desde há algum tempo, um dos melhores “cenários” do mercado de trabalho. Como a urgência tem crescido e a oferta é pouca, os profissionais são assediados pelas empresas muitas vezes sem terem ainda completado o seu percurso académico, com um nível de remuneração normalmente equivalente à necessidade de contratar naquele momento.

Os conhecimentos técnicos são uma obrigação exigida, mas nem tudo se limita ao domínio dos sistemas operativos, das linguagens de programação ou das arquiteturas cloud. As empresas valorizam cada vez mais as chamadas softskills, que muitas vezes podem acabar por ser “o” elemento diferenciador, principalmente para evoluir na carreira.

As softskills são um tema que a Capgemini assegura ser muito importante para a empresa. “Razão pela qual, em todas as entrevistas realizadas, estão sempre presentes colaboradores da área de recursos humanos, maioritariamente, licenciados em psicologia”, refere Filipa Meireles, Global Head of Talent Acquisition da CapGemini. A empresa pretende, desta forma, assegurar uma boa avaliação comportamental dos candidatos e o alinhamento dos mesmos com os valores de “honestidade, audácia, confiança, liberdade, modéstia, espírito de equipa e fun da nossa organização”.

À partida, as hardskills estão asseguradas pelos percursos académicos em Universidades de referência nas quais a empresa recruta e pelas classificações obtidas pelos alunos, considera a responsável.

“Estamos certos de que desde que exista humildade e vontade de aprender, todos os conhecimentos técnicos são passíveis de serem adquiridos a seu tempo”, diz Filipa Meireles, CapGemini.

No que respeita às softskills mais valorizados, estas dependerão, naturalmente, da função para a qual se está a recrutar, refere a Global Head of Talent Acquisition da CapGemini. De forma genérica, aponta a motivação, a resiliência, a responsabilidade, a vontade de aprender, a comunicação e a empatia como “características muito valorizadas” nas entrevistas feitas pela empresa.

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A Think Attitude também partilha da opinião de que a grande tendência do recrutamento neste momento se centra muito nas softskills. Proatividade, vontade de aprender e capacidade de abraçar novos conhecimentos, facilidade na adaptação, capacidade de trabalhar em equipa “e, sem dúvida alguma, ser possuidor de uma comunicação/discurso fluído” são apontadas como essenciais por Amílcar Augusto, CEO.

Quando se fala em progressão de carreira surgem “necessidades extra”, como a capacidade de gestão de tempo e de objetivos, assim como a resiliência, a empatia pelo outro, ser capaz de motivar a equipa e uma capacidade de comunicação acentuada, aponta Amílcar Augusto.

A opinião é partilhada por Sílvia Gusmão, da Inetum, que aponta a colaboração, a adaptabilidade e a atitude positiva como algumas das softskills “base” mais valorizadas na empresa, e acrescenta a capacidade de comunicação e a empatia como competências essenciais quando se trata de escolher um líder. Por outro lado, num ambiente em constante evolução, “é necessário que um líder tenha a capacidade de tomar decisões, de resolver conflitos e tenha um pensamento crítico” refere a Diretora de Recursos Humanos, Formação e Qualidade.

Há cada vez mais uma maior integração nas diversas áreas da organização e os colaboradores que não tiverem esta capacidade de adaptação e compreensão das necessidades das diferentes pessoas com quem trabalham, não irão conseguir ser bem-sucedidos, sublinha Marlene Gaspar, da LLYC. E isto é algo transversal a todas as áreas, e não apenas apanágio das TI, aponta a Diretora Sénior Engagement e Deep Digital Business.

Além das competências técnicas, é preciso que qualquer profissional compreenda que somos ‘eternos aprendizes’ e que tem de estar disponíveis para isso. Necessitamos de estar a formarmo-nos constantemente e não é só a nível digital. Serem voluntários em reskilling e upskilling para terem a right skilling”, considera Marlene Gaspar.

A responsável cita dados da EY e do Future for Work Institute, que indicam que 91 % das empresas preveem que a criatividade seja a competência mais procurada nos próximos tempos. Já a empatia foi destacada num estudo da Google. “Estas prioridades não podem ser apenas impulsionadas e exigidas pela empresa. Os profissionais também devem persegui-la”, defende.

Marlene Gaspar destaca igualmente a “enorme discussão” nas empresas tecnológicas de terem pessoas muito boas tecnicamente que também sejam bons gestores de equipas. “A maior parte das organizações estão a investir em profissionais técnicos, mas também com skills de gestão”, observa. A digitalização afeta todas as áreas da organização e os perfis têm que ter capacidade de serem bons técnicos, mas também bons gestores, ou seja, procura-se uma convergência destas áreas, acrescenta.

Gerações diferentes, formas de trabalhar também?

A diversidade geracional é outros dos grandes desafios atuais das organizações, sem exceção para o setor das TI. Atualmente as organizações têm colaboradores que estão a entrar pela primeira vez, nomeadamente como estagiários, até àqueles que estão perto da reforma.

É um facto que as diferenças geracionais na forma de trabalhar “tanto se podem ‘sentir’ como não”, defende Amílcar Augusto. Para o CEO da Think Attitude acaba por depender mais dos traços de personalidade da pessoa que está a liderar/gerir, do que propriamente da faixa etária. “Como também poderá depender da cultura organizacional da empresa: numa cultura mais formal pode notar-se a diferença geracional, já numa mais informal, esse tipo de realidade não costuma existir”.

Ainda assim, vão-se apontando diferenças. “Começamos pela valorização de benefícios, por exemplo, a flexibilidade e a autonomia são muito mais importantes para os colaboradores jovens do que para os mais velhos, e essas diferenças afetam naturalmente as empresas”, diz Marlene Gaspar.

Para a Diretora Sénior Engagement e Deep Digital Business da LLYC será muito importante apostar no engagement entre as diferentes gerações que resulte numa organização feliz que alimente a cultura organizacional.

Temos a Geração Z, Millennials e Baby Boomers que são três gerações distintas. E a pandemia veio acentuar isso. O desafio das empresas é usar esta diversidade para o fortalecimento do propósito das empresas, com o contributo de cada um”, considera Marlene Gaspar.

Em específico, há quem considere que as gerações mais novas de engenheiros de TI têm alguma dificuldade em gerir situações inesperadas ou reagir a problemas, e demonstram alguma impaciência quando não conseguem visualizar, de forma imediata, os resultados de um projeto ou desafio.

Já às gerações mais experientes é atribuída a facilidade de improvisação, muitas vezes sem acesso a todos os meios necessários, que as gerações mais novas ainda não adquiriram, mas menos positiva é a alguma resistência à mudança em geral e, em especial, em gerir as expectativas dos mais jovens, às novas formas destes se relacionarem com o mundo do trabalho e às suas perspetivas de carreira.

Carla Masclans, Associate Consultant, IT&Digital da Robert Walters, considera que atualmente os novos developers são bastantes autodidatas, “estão sempre a apostar na formação, em constante evolução porque o mercado está a evoluir de uma maneira muito rápida”. Por outro lado, as gerações mais novas estão bastante focadas só na parte salarial, “tendo umas expectativas salariais muito altas em relação à sua experiência”.

A opinião de Filipa Meireles é idêntica, com a Global Head of Talent Acquisition da CapGemini a aconselhar as camadas mais jovens a cultivarem a humildade, a vontade de aprender e a ponderação. “Tentarem ver a sua carreira como um edifício que deve ser construído de forma sólida e ao longo do tempo. Não desperdiçarem oportunidades considerando apenas o imediato, mas sim encararem a carreira a médio/longo prazo”.

Entre as camadas menos jovens deve apelar-se, em alguns casos, a uma maior abertura para aprender também com os mais jovens, numa perspetiva técnica, e compreender a sua forma de ver a vida.

Acima de tudo, Filipa Meireles diz “acreditar profundamente” que o sucesso das organizações é baseado na diversidade e na convivência de várias gerações, conciliando novos e mais conhecimentos técnicos e diversas perspetivas de vida, que são típicos dos mais jovens, com a experiência, a sabedoria e a ponderação que só pode ser adquirida com o passar dos anos. “Deste modo, cria-se um equilíbrio geracional e, por outro lado, equipas fortes e multifacetadas, preparadas para darem resposta às necessidades dos clientes dos vários sectores de atividade e das diferentes gerações. Este é um elemento essencial para o sucesso das organizações nos tempos desafiantes em que vivemos”.

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