Por Miguel Gonçalves (*) 

Comemora-se hoje, dia 28 de janeiro, o Dia Internacional da Privacidade de Dados. A mutação do conceito de Privacidade da Informação tem caminhado de forma paralela com a evolução das tecnologias de informação. Tal facto, por um lado, diz-nos muito do sentido para onde a privacidade tem caminhado, mas, por outro, alerta-nos, mesmo que de forma subliminar, para os riscos que a sociedade em geral e o titular dos dados em particular correm nos dias de hoje.

É notório há muito a existência de um fosso crescente entre a perceção de privacidade e a real carência da mesma, o qual é “escavado” diariamente por todos nós, quando de forma inocente potenciamos a monetização dos nossos dados pessoais. Já há 10 anos, um artigo científico (Smith et al. 2011) dava nota da existência de diferentes eras de privacidade. À data do artigo, estaria em curso a 3ª era motivada pela ascensão da Internet, Web 2.0 e pelo ataque terrorista de 11/9/2001 que mudaram drasticamente o conceito de partilha de informação e onde todas as preocupações de privacidade subiram para novos máximos.

Passada uma década, classificaria o ano de 2021 como o porto de entrada para uma 5ª era, em curso há já alguns anos, mas estrategicamente embrulhada na indústria 4.0 e na desejada transformação digital a qual tem caminhado para um conceito que designo de “Internet of Bodies” Não Invasivo. Pelo meio arriscaria a afirmar que a 4ª era, rica em IoT está em extinção… apesar de, para muitos, a mesma esteja ainda agora no início, a verdade é que o conceito surgiu há já duas décadas e a evolução das tecnologias que o moldam têm estado em constante desenvolvimento durante todos estes anos.

Temos hoje equipamentos que comunicam com a “nuvem” e que possuem uma capacidade de processamento capaz de podermos designá-los como “inteligentes” o suficiente para tomarem decisões por nós de forma ponderada, ou seja, considerando um sem número de dados, tornando-os capazes de “prever” inúmeros cenários futuros. É, pois, entre os extremos do tratamento de dados que a 5ª era surge, isto porque existem grandes diferenças num sistema capaz de identificar o nível de pluviosidade e humidade no ar, permitindo efetuar uma rega “inteligente” ou perante um relógio que identifica, de forma constante, o ritmo cardíaco de um indivíduo ou um telemóvel onde é feito o registo do ciclo menstrual de uma jovem a ponderar ser mãe.

É exatamente aqui, nesta linha, onde a necessidade se cruza diariamente com o acessório que o conceito “Internet of Bodies” Não Invasivo vai caminhando a passos largos para uma obrigação social e moral, onde o salto olímpico para o sufixo Invasivo estará eventualmente a uma pandemia de distância, que devemos, mais do que nunca, proteger algo ímpar: o direito à nossa privacidade.

(*) Business Development Manager na Axians Portugal