Por Bruno Castro (*)
Não vale a pena negares, vive-se cada vez mais no ciberespaço. Digas o que disseres, é cada vez mais difícil estar “offline” e não vale a pena continuar em negação. Ora vejamos:
Expressas-te via Facebook, fazes do Instagram a tua tela, apaixonas-te via Tinder e sentas-te à mesa do WhatsApp para iniciar uma discussão com os teus amigos. Ouves música no Spotify e, mesmo quando vais dormir, fazes questão de dizer que “hoje é noite de Netflix & Chill”. Compras as últimas tendências da moda via MB Way e pagas as contas através de um número cada vez maior de aplicações – leia-se Apps - específicas para os cada vez mais comuns pequenos devices intitulados de telemóveis. Já no plano laboral, recrutas e és recrutado via Linkedin; não consegues trabalhar sem o Microsoft Office e tens um problema sério se a conference call do Skype estiver com má ligação!
A questão já não é mais sobre como “desconectar”, mas sobre como se deve estar “ligado”. Será que ages de forma consciente e segura nesta infinita cidade digital?
É segunda-feira de manhã e esperas o transporte que te vai levar até ao trabalho. O metro está novamente atrasado. Para matar o tempo, “sacas” do teu telemóvel e fotografas o aviso “perturbações na linha vermelha”. Escolhes o melhor filtro da tua próxima InstaStory, acrescentas meia dúzia de GIFs e rematas com a identificação da localização da tua casa e um irónico “adoro viver no Saldanha”!
Chegas ao trabalho, ligas o teu computador – nome de utilizador: Admin; password: Admin - e consultas o teu correio eletrónico. Entre meia dúzia de pedidos de fornecedores e clientes, dás com umas ofertas da Booking bem interessantes. Ficas sempre surpreendida/o como parecem saber exatamente o que tu queres! Aproveitas a última promoção, marcas o código do teu cartão de débito ou crédito e, meia dúzia de cliques depois, já tens umas férias incríveis por uma pechincha.
Vem a hora do almoço e, como algo que chama por ti, aproveitas para fazer scroll down pelas redes sociais para ver o que se passa pelo mundo. Ativas a internet pública e aproveitas para descarregar uma app de que te falaram e que te faz parecer um velhote. Enquanto isso, aderes a meia dúzia de eventos, fazes meia dúzia de likes e partilhas outros tantos memes em que marcas os teus pais, a tua mulher ou o teu marido, os teus filhos, os teus amigos e até o teu animal de estimação. Uma vez descarregada a app, é só dar as permissões de acesso aos contactos, vídeo e áudio do telefone, preencher o nome, número de telefone, correio eletrónico e número do cartão do cidadão e clicar “Li e Aceito os Termos e Condições e a Política de Cookies”.
Passaste a tarde entre Ubers para aqui e para ali e pedidos de ajuda para trocar o teu NIF pessoal pelo da empresa. A última coisa que te apetece quando chegas a casa é cozinhar, pelo que chamas um Glovo para te acompanhar na sessão de séries com que pretendes terminar a tua noite. Parece que o último episódio da tua série favorita ainda não está disponível…mas isso não é um problema, estará certamente disponível no PopCorn.... Acordas horas depois em frente à Smart TV, com um número interminável de mensagens e fotografias por ver no grupo da família no Viber e mais não sei quantas notificações. Arrastas-te cansada/o para a cama e preparas-te para o dia de amanhã.
O Homem criou a Internet e a Internet apoderou-se dele! Há que fazer o volte-face! Estás preparado?
Outubro é o mês da Cibersegurança e uma oportunidade para sensibilizar para os riscos do ciberespaço. O ciberataque foi considerado pelo World Economic Forum a principal ameaça ao negócio na Europa e, no segundo trimestre de 2019, Portugal foi o 5º país do mundo que mais sofreu ataques de Phishing! Se te relacionas com o cenário descrito e tens dificuldade em identificar os comportamentos de risco, está na altura de apostares na tua Cibersegurança!
(*) CEO da VisionWare
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