
Por Miguel Oliveira (*)
Estamos prestes a entrar numa nova fase da revolução digital. Se 2023 foi o ano em que todos falaram da inteligência artificial, 2025 será o ano dos agentes. Não é apenas mais uma tendência — é o início de uma mudança profunda na forma como o trabalho será organizado e executado.
Mas o que são, afinal, estes agentes? São formas avançadas de inteligência artificial que combinam compreensão, planeamento e ação. Diferem dos chatbots tradicionais porque não se limitam a responder, usam ferramentas (tools), tomam decisões e executam tarefas de forma autónoma. Já existem agentes capazes de trabalhar durante horas seguidas sem intervenção humana, completando cadeias de tarefas complexas que podem durar até sete horas, como demonstrado pelo Claude 4 da Anthropic. Em vez de um sistema que espera ordens, temos assistentes digitais que percebem o que têm de fazer, escolhem como o fazer e acompanham o processo até ao fim. Mais do que responder, estes agentes agem — e fazem-no com crescente autonomia e sofisticação.
Nas organizações, isso significa que muitas tarefas deixarão de ser feitas por pessoas ou por softwares isolados e passarão a ser geridas por conjuntos de agentes — como uma equipa digital invisível, que opera nos bastidores para manter tudo a funcionar. Planeamento, análise, comunicação, verificação: tudo será partilhado entre humanos e sistemas inteligentes.
Neste novo ecossistema, não basta pensar em código. É preciso pensar em comportamento.
Saber como os agentes tomam decisões, como respondem a incentivos, como aprendem com o erro ou como reagem a conflitos — são perguntas que pertencem tanto à engenharia como à ciência psicológica. A literacia em IA torna-se essencial. Mas atenção: não se trata de saber programar, mas de saber perguntar, interagir, avaliar. Quem dominar a chamada engenharia de prompts, terá um papel estratégico — será o elo entre o humano e o artificial.
Além disso, os agentes operam com base em incentivos, ou funções de recompensa. Se forem mal desenhadas ou não forem usados os melhores prompts, estes agentes podem tomar decisões ineficazes ou até perigosas. Mas se forem bem definidas, tornam-se aliados poderosos.
Outra dimensão crítica destes sistemas é a sua capacidade de se ajustarem com base nos efeitos das próprias decisões. Observam o impacto, corrigem trajetórias, refinam estratégias. Este tipo de iteração constante não é apenas um avanço técnico — é um novo modo de aprender, de melhorar com a experiência e de se adaptar em tempo real. Uma forma de progresso que, até agora, era reservada aos humanos.
É essa partilha de competências — entre o que antes era exclusivamente humano e o que agora também pode ser feito por máquinas — que redefine a forma como olhamos para o trabalho. A transformação que se aproxima não é só tecnológica; é organizacional, cultural e relacional. As equipas do futuro serão compostas por pessoas e agentes que colaboram, cada um com as suas forças: a intuição e a criatividade de um lado; a velocidade, consistência e memória do outro. A liderança deixará de ser apenas coordenação de pessoas — será também a gestão de inteligências distribuídas, humanas e artificiais.
Por isso, mais do que instalar sistemas, será essencial redesenhar os ambientes de trabalho. Um dos primeiros passos será fazer um balanço claro: que competências podem — e devem — ser delegadas aos sistemas de IA, e quais permanecem centrais nos humanos. A chegada dos agentes obrigará a dotar os trabalhadores de um novo leque de competências, centrado não apenas no uso da tecnologia, mas na arte de delegar com discernimento, gerir a resistência à fadiga de decisão, interpretar outputs automatizados e manter o julgamento crítico em contextos de elevada automação. Não se trata de competir com as máquinas, mas de saber onde confiar nelas — e onde ser insubstituível.
Criar condições para esta convivência exige mais do que eficiência. Exige ambientes que favoreçam a clareza, a confiança e a responsabilidade partilhada. Onde a presença da tecnologia amplifique — e não dilua — a qualidade do contributo humano.
(*) Coordenador do Programa PsicologIA na Transformação Social da Ordem dos Psicólogos Portugueses
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