Por Félix Lopes (*)

O Ano Novo está aí e com ele emerge toda a aura inerente a um novo (re) começo. Sobretudo, depois de termos estado, pelo 2º ano consecutivo, estritamente focados no COVID, toda a humanidade anseia por uma nova realidade, diferente, mas simultaneamente "normal". O ano de 2022 tem todos os condimentos para ser especial. Senão, vejamos:

2022 será o ano da tão aclamada BAZUCA, e este objeto militar figurativo, poderá ser o instrumento financeiro de que Portugal necessita para se transformar e se potenciar no panorama mundial. O próximo ano poderá vir a ser apenas comparável à época áurea dos Descobrimentos no sec. XV (e subsequentes). Se nesse período a riqueza provinha da exploração do ouro no continente africano e das especiarias da Ásia, agora em pleno séc. XXI, a fonte de riqueza advém do nosso próprio continente - a Europa.

No entanto, para que 2022 venha a ser (re)conhecido nos livros de história, não apenas como o ano dos fundos comunitários, mas como um período fundamental de transformação em Portugal, é preciso que toda a sociedade esteja empenhada na real aplicação dos respetivos fundos em projetos e medidas efetivamente estruturantes.

É essencial não apenas aplicar os fundos, mas sim elevar o seu potencial e aproveitar os mesmos para uma transformação efetiva da nossa sociedade e da Administração Pública, de forma a prepararmos a mesma para um novo futuro. Um futuro certamente digital, mas também ágil, inovador e focado no cidadão.

Se com esta pandemia foi notório o impacto da digitalização nas diversas organizações públicas, nomeadamente no trabalho remoto e colaborativo, foi também significativa a digitalização dos serviços, tais como a educação online, os serviços de eHealth e os serviços de eJustice.

No entanto, existem diversos estudos que permitem antever um conjunto de (novas) áreas tecnológicas fulcrais para um futuro mais digital. Um estudo recente da Capgemini, de âmbito europeu, focado apenas nas tendências tecnológicas para o sector público, identificou 5 eixos prioritários:

  • DevOPs;
  • Gestão MetaData;
  • Arquitetura MultiChannel;
  • Open APIs;
  • Analítica preditiva.

Ainda que Portugal no eGovernment Benchmark 2021* tenha sido posicionado no top 12 Europeu dos países mais avançados, ocupando o 8º lugar da lista, é necessário continuar a trilhar o caminho da digitalização e adaptar os serviços públicos às necessidades concretas dos seus cidadãos, independentemente de serem nativos ou cidadãos que escolhem o nosso país para viver de forma temporária ou permanente. Portugal, é atualmente um país de imigrantes, cada vez mais multicultural e com uma comunidade internacional crescente quer seja por motivos de trabalho, quer seja porque simplesmente as pessoas escolhem o nosso país para viverem.

Justamente por isto, é crucial preparar as plataformas e os processos para estarem capacitados de forma a responderem às crescentes necessidades. Temos de preparar os processos de eID (identificação eletrónica) para responderem adequadamente à nova realidade, e as plataformas para poderem interagir com estes cidadãos estrangeiros nas suas línguas nativas. Adotar políticas de inclusão, passa também por dotar as diversas plataformas com níveis de acessibilidade que permitam, a qualquer cidadão (independente do seu grau de incapacidade), aceder e interagir com as mesmas.

No entanto, e ainda que a transformação digital e tecnológica seja importante e inegável, existem transformações tão ou mais importantes que carecem de tempo de maturação e que não conseguem ter impacto e resultados no imediato. Nomeadamente ao nível da literacia digital que continua abaixo da média europeia. A parca literacia digital que temos em Portugal tem um impacto fortíssimo no nosso tecido empresarial, maioritariamente constituído por PME (em Portugal, como no resto da Europa, as PME equivalem a 99,9% das empresas). Esta combinação, leva a que a digitalização, e a consequente capacidade de internacionalização e a competitividade, sejam reduzidas.

É crucial definir uma estratégia de longo prazo assente numa população digitalmente qualificada, na transformação digital das empresas (e respetivos negócios) e numa Administração Publica digitalizada.

Em 2022 iremos certamente assistir à entrada de diversos milhões de euros na nossa economia. O que vamos fazer com eles, como os vamos aplicar e se privilegiaremos projetos estruturantes, dependerá de todos nós.

Ao contrário do que lemos diariamente na comunicação social, confesso que não anseio pela BAZUCA. O que precisamos verdadeiramente para 2022 é que os fundos comunitários sejam usados para permitir alavancar a economia, a sociedade e a Administração Pública portuguesas. Percebo que face a outros períodos homólogos da nossa história, o termo BAZUCA e o seu efeito militar figurativo possa ser adequado ao nosso passado. Não obstante, e face ao momento que atravessamos, bem como à experiência adquirida em momentos anteriores, é importante que tenhamos apreendido com os erros então cometidos e que se apliquem corretamente os novos financiamentos para que possam ter um verdadeiro efeito de TRANPOLIM para uma nova dimensão.

A todos um bom ano do trampolim.

(*) responsável pelo Sector Público, Capgemini Portugal

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