O leilão para a atribuição das licenças já está a decorrer há 3 meses, se olharmos para a primeira fase que foi dedicada aos “novos entrantes”, operadores que ainda não têm rede em Portugal, que começou a 22 de dezembro e que durou oito dias, com Natal e Ano Novo pelo meio. A fase principal chega hoje ao 48º dia de licitações depois de ter começado a 14 de janeiro, e está oficialmente atingida a duração do leilão mais longo, o da Alemanha, que durou uns “épicos” 3 meses e valeu um encaixe de 6,55 mil milhões de euros.
Por cá a polémica tem alimentado o processo de preparação do regulamento que norteia a distribuição do espectro, naquilo que a própria Anacom diz que é um dos procedimentos mais completos em termos de licitação das frequências nativas do 5G e de outras faixas que podem ser relevantes, como os 2,1 e 2,6 GHz. O interesse dos operadores também alimenta a duração do leilão, já que continuam a fazer licitações de pequenos valores em lotes selecionados, concentrando-se nos últimos dias nas faixas dos 3,6 GHz, mas desembolsando valores controlados a cada dia.
No total, a fase principal do leilão já vale mais de 246 milhões de euros de encaixe potencial para o Estado pelas licenças a atribuir, e se somarmos a componente de valorização das licenças na primeira fase o valor está nos 346,1 milhões de euros, 108 milhões acima dos 237,9 milhões de euros que a Anacom tinha previsto para o leilão. É um valor muito longe dos 6,5 mil milhões da Alemanha e ainda abaixo do que foi angariado no leilão do 4G em Portugal, em 2012.
O SAPO TEK tem acompanhado diariamente a evolução do leilão, que tem normalmente 6 rondas de licitação segundo os dados que são partilhados. A valorização é feita a conta gotas, aumentando em média cerca de 1 milhão de euros por dia, e raramente ultrapassando este valor.
Mesmo assim há lotes que se destacam no interesse dos operadores, como o dos 2,1 GHz que foi o que mais valorizou durante o processo, subindo o preço mais de 400% face ao valor de reserva, enquanto os 2,6 GHz também valorizaram mais de 200%. As 40 faixas dos 3,6 GHz, uma das faixas nativas do 5G, já valorizaram também cerca de 160% face ao preço inicial.
Não se sabe quem são os licitantes, sabendo-se que participa, a MEO, a NOS e a Vodafone, que confirmaram ir a jogo apesar de discordarem das regras, e a Más Movil que será um dos novos entrantes, mas tudo o resto está sob segredo do concurso e mesmo os operadores não têm feito comentários, mantendo-se em silencio durante o processo, como confirmaram ao SAPO TEK.
Hoje mesmo houve uma exceção com um novo pedido de suspensão do leilão, como escreve o ECO que diz que a Altice terá enviado uma carta à Anacom afirmando estar preocupada com as notícias que surgiram e que apontam para uma possível fusão entre a Másmóvil e a Vodafone, a ter lugar até ao fim do semestre. A carta terá sido endereçada pela direção de regulação e pede a suspensão caso o negócio se concretize.
Já na semana passada, na conferência de resultados da Sonae, a presidente executiva da empresa, Cláudia Azevedo, criticou as regras do leilão do 5G, afirmando que "este concurso não tem pés nem cabeça" e lamentando a atuação do regulador que “faz uma reserva de espectro para os novos entrantes e impede os operadores que têm investido de terem espectro suficiente para melhorar o 4G e investir no 5G”.
Os riscos de dispersão do mercado foram também apontados na semana passada, durante uma conferência da APDC, por Alessandro Gropelli. O diretor de Estratégia e Comunicações da ETNO - Associação Europeia de Operadores de Redes de Telecomunicações criticou as opções de se abrir o mercado do 5G na Europa a novos players e se multiplicar o número de operadores, um problema real que vai aumentar a concorrência e obrigar à redução da rentabilidade, que já está abaixo da que existe noutros mercados.
Operadores preparados e com publicidade “no ar”
Enquanto o leilão se prolonga, fica mais longe a possibilidade de termos serviços comerciais ainda no primeiro trimestre de 2021, como estava previsto no calendário da Anacom. Mesmo que as licitações sejam encerradas, há ainda vários procedimentos a cumprir até à entrega das licenças que permitem avançar com os serviços aos clientes.
Depois de encerrado o concurso, há ainda a fase de consignação, em que os vencedores das fases de licitação escolhem a localização exata dos lotes ganhos, em cada faixa de frequências, e finalmente a atribuição, a fase final do leilão que inclui a atribuição dos direitos de utilização de frequências, a divulgação dos resultados do leilão, o depósito do montante final a ser pago por cada licitante vencedor e a emissão dos títulos habilitantes.
Mesmo sem o jogo estar fechado, os operadores têm confirmado ao SAPO TEK que estão preparados para avançar. Nos últimos anos foram feitos diversos testes de rede com serviços que têm potencial de serem diferenciadores e provas de conceito, e Portugal foi até reconhecido como um dos países com mais testes. Agora falta tornar os serviços uma realidade para os clientes.
“Antecipando o lançamento comercial da tecnologia 5G em Portugal, para o qual está pronto, o MEO, também aqui mantém a liderança que detém em todos os produtos e serviços de telecomunicações em Portugal”, explica a operadora do grupo Altice em resposta ao SAPO TEK, lembrando que no início de 2021 foi o primeiro operador a lançar uma oferta comercial disponível para todos os clientes que queiram aderir ao 5, a opção de net móvel 5G à máxima velocidade. “Numa parceria exclusiva com a Samsung apresentou, ainda, o mais sofisticado smartphone 5G (Samsung Galaxy S21) desta marca com a oferta promocional de 12 meses de serviço. Estes 12 meses de serviço 5G, bem como o tarifário móvel, terão início na data de lançamento comercial da tecnologia 5G na rede MEO”, refere a mesma fonte.
Também a NOS confirma categoricamente estar preparada. “A NOS está pronta para lançar serviços comerciais de 5G a partir do momento em que sejam emitidas licenças para o efeito”, afirmando que “tem vindo, ao longo dos últimos anos, a preparar a sua rede para a chegada da nova tecnologia móvel. A nossa ambição é entregar o melhor 5G às pessoas e às empresas”.
Do lado da Vodafone a posição é mais cautelosa, e a operadora "não disponibiliza informação sobre tarifários que não tenham data prevista de lançamento comercial para utilização por parte dos clientes".
Mesmo assim todos os operadores têm nas suas ofertas vários equipamentos preparados para o 5G, sendo que o SAPO Tek verificou que já existem 14 smartphones e 1 router com preços para (quase) todos os gostos.
O certo é que o 5G já se começou a insinuar de forma mais clara mesmo para quem não pertence à indústria das telecomunicações e não acompanha as movimentações à volta do leilão e das decisões regulatórias, ou de investimento.
As campanhas de publicidade que estão no ar e online criam o interesse pelo 5G, mesmo que não se saiba ainda quando os serviços estarão disponíveis, preparando o terreno para uma adoção gradual da tecnologia pelos consumidores e pelas empresas que poderão tirar partido da maior velocidade e da menor latência da quinta geração móvel. O passo seguinte será perceber se há cobertura geográfica e se os preços serão apelativos para sustentar este interesse e transformá-lo em assinaturas como os operadores desejam.
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