A scaleup portuguesa Sensei inaugurou hoje uma nova loja autónoma de retalho, aquela que considera ser a maior da Europa. Localizada na zona das Laranjeiras, em Lisboa, esta loja não vai estar aberta ao público, mas servirá para inspiração e de uma espécie de cartão de visita para os profissionais do sector do retalho, a nível nacional e internacional, assim como para investigadores universitários e tecnológicos. É aqui que vão ser testadas as novas tecnologias e soluções da Sensei antes de chegarem às lojas finais em todo o mundo e a empresa abriu hoje portas aos jornalistas para experimentarem a solução.
A loja foi criada em parceria com a Hewlett Packard Enterprise e tem uma área de cerca de 500 metros quadrados. A Sensei refere que se trata de uma loja equipada com tecnologia “state of the art”, com o objetivo de demonstrar o futuro das lojas de retalho. A scaleup q1uer demonstrar, através da loja, a sua tecnologia e como esta pode ser escalável para qualquer espaço ou dimensão.
A cerimónia de inauguração contou com o presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, autarca que é responsável pelo programa “Fábrica de Unicórnios” na capital do país, que reuniu oito scaleups que vão ser instaladas na nova fábrica. A primeira anunciada foi precisamente a Sensei.
Experiência de loja autónoma
A loja das Laranjeiras não é a primeira equipada pela Sensei. A empresa portuguesa, em parceira com a Sonae, criou a primeira loja autónoma do Continente. Outro projeto foi a criação da loja para a Galp. Recentemente expandiu-se para a América Latina, juntamente com o Grupo Muffato, mais em concreto em Curitiba, no Paraná, no Brasil, com a mesma experiência de compras simplificada e sem filas.
Veja na galeria imagens da inauguração da loja-modelo da Sensei
A tecnologia da Sensei permite implementar uma rede de sensores geridos por inteligência artificial para acompanhar os produtos que cada cliente retira das prateleiras na loja. O valor dos produtos escolhidos é cobrado automaticamente aos clientes quando estes saem do espaço, sem esvaziarem o saco de compras ou passarem numa caixa. Esta é a solução da Sensei para acabar com as intermináveis filas de pagamentos nas caixas dos espaços comerciais.
Todos os dados recolhidos pela experiência das compras são registados em tempo real, o que permite aos decisores das lojas terem acesso a dados das operações, incluindo o controlo dos stocks de produtos, itens que foram perdidos ou mesmo a gestão do inventário. A tecnologia da empresa processa todo o percurso, desde a gestão do cliente assim que entra na loja, até ao fim do processo, quando sai com as compras. Entre as vantagens da tecnologia estão os ganhos nos recursos humanos, o facto de deixar de haver ruturas de stock e a promessa que não existem roubos nestas lojas.
A loja nas Laranjeiras chama-se Sensei Dojo e Joana Rafael, COO da Sensei, explica que atribuiu o nome numa alusão à tradição japonesa onde os senseis desenvolvem e treinam as suas técnicas. Este espaço será um laboratório autónomo, onde vão ser introduzidas novas funcionalidades que ainda não chegaram a outras lojas mas também o escritório da scalup. A HPE foi a responsável por disponibilizar os sensores e os servidores que equipam a loja.
Conforme explicou a empresa, esta não é apenas a maior loja que abriu até à data, como também é a mais próxima do modelo final. Não é necessária qualquer aplicação, quando o utilizador chega ao ponto de saída não tem de tirar os produtos do saco ou passar por uma caixa. Tem apenas um terminal com um código QR associado a um cartão de pagamento, aplicação da loja ou, caso prefira, pode pagar em dinheiro.
“Você acabou de entrar na loja e já está registado no sistema”, disse-nos o representante da scaleup quando entrámos no espaço. Isso significa que os utilizadores entram, compram e saem, sem barreiras ou interações. Os clientes têm a hipótese de instalar uma aplicação, onde constam os seus dados pessoais e de pagamento. Na saída há um ecrã com a lista dos produtos e as respetivas formas de pagamento. Tudo isto sem passar pelas habituais caixas de pagamento onde se registam, produto a produto, os respetivos códigos de barras dos produtos.
Veja o vídeo
Produtos como a fruta ou a charcutaria, que funcionam por peso, quando são colocados na balança a informação é passada ao sistema e o cliente só tem de aceitar para continuar a compra. No caso do sair da loja com compras e resolver voltar atrás porque se esqueceu de algo, não precisa de as mostrar ao segurança ou provar que são suas. O sistema identifica o que sai das prateleiras e não o que entra na loja. As prateleiras têm sensores e balanças que identificam quando os clientes retiram os produtos, associando-os ao seu carrinho de compras virtual.
Na experiência de inauguração, o sistema bloqueou porque todos os jornalistas e convidados se concentraram no mesmo local, o que não é normal no uso final da loja, explicaram os responsáveis. E quando o sistema reiniciou e encontrou um grande grupo já dentro da loja, ou seja, sem o "check in" inicial, também não reagiu bem. Situação normalizada, com a possibilidade de testarmos a experiência.
O sistema deteta cerca de uma pessoa por cada 1 ou 2 metros quadrados, mas 150 pessoas para uma loja de 500 metros quadrados é o ponto ideal. Um ecrã gigante montado para o teste mostrava um mapa da loja, com a circulação das pessoas em tempo real e com os produtos que cada uma levava na mão.
Durante a apresentação, Carlos Leite, CEO da Hewlett Packard Enterprise, disse que pretende ajudar a Sensei a automatizar e melhorar a experiência nas compras das pessoas. A solução computacional e a rede sem fios são soluções da HP, referindo que tem como “segunda missão promover a própria Sensei pelo mundo fora. O que bom fazemos no país para mostrar ao mundo”.
Carlos Moedas destaca como a Sensei foi uma das oito empresas a serem escolhidas para a Fábrica dos Unicórnios, “ideia que foi ridicularizada”, mas que acabou por receber muitas propostas. “Tenho a certeza que a Sensei vai ser o próximo unicórnio português”. Acrescenta que o percurso passa pelas grandes empresas ajudarem ou abrirem o caminho às mais pequenas, dando o exemplo de como a HPE (a grande) está a ajudar a Sensei (a pequena). Mas refere que a HPE também tem muito a aprender com a Sensei. O "mentorship", o crescimento por etapas, são ideias-base que Carlos Moedas diz que a fábrica representa e que espera ter mais “senseis” a trabalhar no futuro.
Trabalhar para a loja do futuro
Vasco Portugal, CEO da Sensei, esclareceu ao SAPO TEK que o sistema está preparado para comportamentos “anormais”, ou seja, as pessoas podem simplesmente tirar da prateleira e consumir na loja, como uma garrafa de água. A partir do momento em que retira e já não pode devolver à prateleira, esta é debitada. Mas por outro lado, se decidir não levar um produto e voltar a colocá-lo na prateleira, é dado como devolvido e não cobrado.
Relativamente a eventuais roubos, o sistema deteta se a pessoa sair sem pagar, tocando um alarme, como em qualquer loja convencional. A diferença é que nenhum produto tem um sensor, o sistema reconhece o produto, sabe que o cliente tem na cesta e que está a sair sem pagar, explicou Vasco Portugal.
A loja que foi hoje inaugurada tem também todos os sistemas de inclusão ativos. Seja um público mais jovem ou mais velho, não precisa de ter cartão ou aplicação, pode pagar em dinheiro. A diferença é que não tem de passar cada produto numa caixa e por isso, Vasco Portugal afirma que o sistema é mais cómodo para idosos.
“Esta é uma loja autónoma que é 100% inclusiva. A minha mãe ou avó poderiam comprar aqui como sempre fizeram, mas com a diferença de que quando chegam à caixa, o cesto com as compras aparece todo, não precisam de fazer scan a cada produto. No fundo estamos a melhorar a experiência para as pessoas que hoje em dia fazem as suas compras da forma mais tradicional possível”, sublinha.
Nos planos para o futuro, Vasco Portugal disse que tem várias implementações a serem introduzidas em diversas lojas na Europa e na América Latina (que depois da primeira loja tem outras a caminho).
A Sensei tem trabalhado com estações de serviço, estruturas junto das praias, universidades, supermercados, micro markets como hospitais, escolas ou hotéis. “Na prática, estamos a levar o retalho mais seamless e mais próximo do cliente final, oferecendo-lhes uma experiência mais simples, sem esperas em filas ou qualquer tipo de fricção. As coisas estão a correr muito bem”, explicou ao SAPO TEK.
Sobre as questões “complicadas” da verificação das contas e da fatura, Vasco Portugal afirma que “as pessoas precisam de confiar no sistema”, dando a garantia de que depois da primeira vez que experimentam e testam, não param para verificar, refere com base em dados recolhidos das suas implementações anteriores.
Acrescenta que a taxa de assertividade do sistema está acima dos 99%. É da responsabilidade da tecnológica garantir que tudo funciona como deveria ser, diz o CEO da empresa, com a possibilidade de o cliente poder fazer as suas reclamações caso tenha tido algum débito indevido ou qualquer outro problema, tal como acontece nas lojas normais. A própria aplicação tem uma opção de suporte onde pode tratar de tudo.
“Estamos a colocar as pessoas num papel muito mais ativo dentro da loja”, explica Vasco Portugal sobre o potencial da IA deste sistema poder assumir o emprego dos operadores de caixa e outros cargos de um supermercado. As lojas passam a ter maior capacidade de ajudar os clientes, tal como acontecia nas mercearias de bairro, onde havia mais atenção pelas pessoas, “que te dizia qual o peixe ou a carne mais fresca ou a que horas o pão tinha saído do forno”.
Pela sua experiência, nas lojas onde o sistema foi colocado, há uma combinação de pessoas mais focadas no cliente final, a explicar como o sistema funciona, do que com trabalho mecânico, “estamos a humanizar o trabalho da pessoa em loja e não o contrário”.
Apesar de não poder partilhar números com o SAPO TEK, a empresa diz que está a “crescer cinco vezes mais do que aquilo que fez no ano passado”. E adianta que há mais retalhistas que vão anunciar em breve as suas lojas inteligentes.
Para quando é que o sistema se vai tornar um standard nas lojas? De uma loja, para um conjunto de várias lojas, umas que já abriram, outras por abrir, Vasco Portugal projeta que daqui a cinco anos o sistema seja o novo standard na experiência de compras nos supermercados. “O conceito de lojas autónomas começa a espalhar-se por diferentes formatos, desde os mercados mais pequenos aos grandes supermercados”.
O CEO da Sensei afirma que quando um cliente entra num Continente Labs não está a pensar que está numa loja tecnológica, mas sim numa mais conveniente. A loja da Galp no Técnico, por outro lado, está aberta 24/7, tornando-se uma alternativa para estudantes que precisam de estar na escola de noite.
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