Os centros internacionais que várias multinacionais têm fixado em Portugal, na área das tecnologias, servem diferentes propósitos. Alguns prestam apenas serviços para clientes das empresas que os suportam em vários pontos do mundo. Mas muitos desenvolvem inovações e tecnologias que são usadas à volta do globo, por milhões de consumidores ou empresas. Os exemplos são dos mais diversos.
Na área da mobilidade elétrica, por exemplo, o novo modelo do carregador para veículos elétricos utilitários desenvolvido pela Siemens - o Sicharge UC - foi inteiramente desenvolvido em Portugal, pelo hub de mobilidade elétrica da empresa, um dos vários centros da multinacional alemã no país, que tem estado em expansão acelerada, garante Ricardo Nunes. Como explica o CFO, esta é uma estrutura que funciona como “um ecossistema da mobilidade elétrica. Junta capacidade produtiva, assegurada pela fábrica de Corroios, investigação e desenvolvimento e um centro de competências de vendas, engenharia, gestão de projeto e service”.
A partir do Cranes Engineering Hub, outro centro local que opera para toda a zona EMEA (Europa, Médio Oriente e África), a Siemens já modernizou cerca de 100 pórticos ou gruas em portos e terminais de contentores de dez países. Mais recentemente, no Lisbon Tech Hub, a empresa passou a contar com uma equipa de 100 especialistas que dá suporte a toda a empresa e implementa soluções de deteção e análise de ciberameaças, reais e potenciais, em ambientes de TI e industriais.
Em Portugal, a Siemens conta ainda com um centro de serviços partilhados, onde Ricardo Nunes explica que são desenvolvidas há décadas plataformas para todo o ciclo de prestação de serviços financeiros. “Um excelente exemplo é a NextGenP2P, uma plataforma digital que ajuda a automatizar processos - da compra ao pagamento – e a aumentar a eficiência dos utilizadores”, exemplifica.
TV da Vodafone chega a 10 mercados a partir de Portugal
Numa área completamente diferente, o serviço de televisão da Vodafone também foi desenvolvido a partir de Portugal e com ele funcionalidades inovadoras, como a pesquisa inteligente por voz e outras, que permitiram levar a experiência na plataforma para múltiplos ecrãs. O TV Hub é um dos três centros de competências que o grupo britânico tem em Portugal, com um total de 500 pessoas, e é também o mais recente. Os desenvolvimentos feitos aí refletem-se em 10 mercados e para 18 milhões de clientes.
Em Portugal, a Vodafone tem também o Atlantic Network Operations Center (ANOC), criado em julho de 2012, e vocacionado para a supervisão permanente, manutenção e operações de rede em Portugal, Espanha, Reino Unido e, num futuro próximo, Alemanha e Holanda. Incluem-se aqui operações na vertente do acesso móvel (2G, 3G, 4G e 5G), acesso fixo (FTTH e ADSL) e também as componentes da rede core e das plataformas de serviços, para servir mais de 50 milhões de clientes.
Como explica a empresa, as equipas locais do ANOC da Vodafone têm trabalhado em “soluções específicas na área de automação, desenvolvidas in-house, que permitem integrações e resolução de incidentes de rede de forma mais célere e autónoma para os três mercados”.
Asseguram também o core da gestão das comunicações IoT, trabalhando de forma transversal para diferentes sectores, com destaque para o automóvel (ex: Internet in the Car), saúde e utilities.
Cá está ainda um dos centros de Internet of Things (IoT) do grupo britânico, a funcionar desde 2013, com parte de uma equipa alargada que se distribui por Europa, África e Ásia e que é responsável pelo design, engenharia e desenvolvimento da plataforma de IoT da operadora. Esta pode não ser a primeira área a vir à memória com o nome Vodafone, mas é um segmento onde a empresa tem investido em força nos últimos anos e onde é reconhecida como líder pela Gartner, no Quadrante Mágico para Managed IoT Connectivity.
Routers desenvolvidos na Altice Labs usados em todo o mundo
O Centro de Inovação, Investigação e Desenvolvimento do Grupo Altice também está em Portugal. Os produtos e soluções desenvolvidas nos Altice Labs são utilizados por mais de 300 milhões de pessoas em 60 países.
Entre os desenvolvimentos feitos em Portugal nestes laboratórios de inovação, destaque para os routers, que são comercializados em vários pontos do mundo “de Nova Iorque a Paris, passando por geografias tão distintas como as ilhas Fiji, Guam ou o Alasca”, como exemplifica a empresa. A Altice assegura, por exemplo, que o primeiro router fibre gateway WiFi 6 de operadores de telecomunicações foi lançado na Europa em agosto de 2019 em França na SFR” e conta com engenharia portuguesa.
O serviço de fibra ótica multigiga, lançado pela dona da Meo em março deste ano, capaz de garantir velocidades simétricas até 10Gbps, também resulta de inovações desenvolvidas na Altice Labs, concretizadas em ofertas comerciais agora disponíveis em França, Estados Unidos e Portugal.
Em 2008 (ainda PT), a empresa foi também pioneira no desenvolvimento de uma plataforma de TV interativa multidispositivo, que acabou por exportar para países como o Brasil, onde ainda é usada, ou a República Dominicana, “onde recentemente foi contratada para implementar um inovador serviço de media OTT (over-the-top)”.
Esta unidade portuguesa da Altice faz ainda uma aposta forte no fornecimento de sistemas de gestão de infraestruturas de fibra ótica. Presta este tipo de serviços a operadores como a Telefónica, tem clientes no Brasil e novas oportunidades em análise nos EUA e na Europa. A Altice Labs estrutura assegura 475 postos de trabalho diretos e outros 300 indiretos.
A tecnologia dos carros do futuro passa por Braga
Dos três centros de I&D da Bosch em Portugal também saem soluções e tecnologias inovadoras para todo o mundo, em áreas como a mobilidade inteligente, casas inteligentes, cidades seguras e indústria 4.0.
O centro de Braga está centrado em projetos na área da condução autónoma, “desenvolvendo soluções inovadoras que constroem não só a consciência do veículo, como a forma com que este perceciona o ambiente que o rodeia, através de sensores interligados que comunicam com tudo o que o que está à sua volta”, explica Carlos Ribas, que dirige o grupo alemão em Portugal.
Em Braga desenvolvem-se inovações para os sensores LiDAR, tecnologia crítica para que os carros autónomos consigam recolher informação geométrica detalhada do ambiente à volta do veículo, bem como sensores para aferir as condições de piso ou dotar os veículos de uma capacidade de perceção a 360º. Trabalha-se também em Sensores Automotive Precise Positioning - para a capacidade de localização; em sensores para a monitorização de condutor e passageiros no interior do veículo autónomo e em sistemas de comunicações entre veículos e infraestruturas. Muitas destas tecnologias já foram aliás demonstradas pela empresa num evento na capital minhota.
No centro de engenharia de Aveiro, a empresa desenvolve aparelhos de aquecimento de água quente, mas também soluções de IoT como mobile apps, soluções de web e aplicações de diagnóstico remoto de veículos, a par de uma nova geração de produtos e serviços da marca Bosch nos domínios das bombas de calor, tratamento de ar, sistemas de aquecimento a gás, sistemas de aquecimento elétrico, tratamento de água e serviços de interface e controlo residencial. Outro foco de desenvolvimento em Aveiro são as soluções para a indústria 4.0.
Finalmente, em Ovar, a Bosch “desenvolve e produz algumas das mais inovadoras tecnologias eletrónicas de segurança” a nível global, exportando 90% do que ali produz para diferentes países europeus, para os Estados Unidos, África e Ásia. Recentemente este centro acolheu também novas equipas que estão a desenvolver soluções para eBikes e casas inteligentes, sendo que todos os centros tiram partido de fortes ligações a universidades. Destaque para as parcerias com a Universidade do Minho, Universidade do Porto e Universidade de Aveiro.
BMW vai transformar experiência de venda de veículos. Solução está a ser criada em Portugal
Voltando aos veículos, muita da tecnologia que é hoje possível encontrar nos carros da BMW é também desenvolvida em Portugal.
“Podemos destacar o novo theatre screen no centro do carro e os ecrãs de controlo laterais nas portas do novo modelo topo de gama i7, que permitem também uma maior imersão nos modos de condução da BMW”, refere Pedro Vieira da Silva, Chief Technical Titan da Critical Techworks.
O painel de infotainment mais extenso e em curva do mesmo modelo tem também a assinatura da Critical TechWorks, “assim como a nova versão digital do famoso relógio QlockTwo, que nos indica as horas com recurso a expressões que refletem a oralidade”, acrescenta o responsável. A versão mais recente da My BMW app, já usada por mais de sete milhões de utilizadores, foi também integralmente desenvolvida em Portugal.
A Critical TechWorks nasceu em 2018 de uma joint-venture entre o BMW Group e a Critical Software e foca-se em exclusivo no desenvolvimento de soluções inovadoras para a gigante alemã. Incluem-se neste leque soluções dentro e fora do veículo, mas também para a atividade das fábricas, para a logística e para serviços de venda e pós-venda.
Recentemente, por exemplo, arrancou um projeto relacionado com a venda dos automóveis. “Vamos ter uma equipa com uma dimensão muito significativa, e que se espera continue a crescer, para implementar um novo modelo de venda de automóveis, que pretende revolucionar a experiência de compra de um BMW”, adianta Pedro Vieira da Silva. O objetivo é criar uma maior proximidade com o cliente e uma experiência premium de todo o processo.
O centro de desenvolvimento da BMW em Portugal é na verdade o único a nível mundial que congrega projetos focados no desenvolvimento de software e na produção de soluções. Conta já com quase 2 mil colaboradores, um número que tem crescido mais depressa que o previsto pela própria empresa. “Os nossos projetos evoluem à medida dos desafios da BMW, por isso o nosso foco está sobretudo no crescimento sustentado”. Ainda assim, no final de 2021 já tinha sido ultrapassado em 50% o número de colaboradores inicialmente previsto para essa altura.
Para já a estrutura divide-se por dois escritórios, Lisboa e Porto, com planos de expansão para um novo escritório em Lisboa e de “conquistar a confiança para desenvolver outras áreas core da BMW”. “Portugal tem a capacidade comprovada de se tornar e posicionar como um centro de inovação tão relevante como qualquer outro reconhecido a nível mundial e na Critical Techworks queremos acompanhar esse leque de oportunidades muito promissoras para o crescimento do BMW Group”, assegura Pedro Vieira da Silva.
Entre as empresas com centros de desenvolvimento ou serviços internacionais em Portugal vários são também os exemplos de investimentos que cresceram para novas áreas, que a prazo vão colocar o país na rota do desenvolvimento de produtos de alto impacto, no mercado em que se inserem.
A SAP, com um centro de serviços internacional a funcionar em Portugal desde 2012, escolheu também o país para implementar, no ano passado, um Centro de Tecnologia e Inovação, focado em engenharia de software e no desenvolvimento dos futuros produtos e soluções da Plataforma de Tecnologia de Negócio da SAP.
“A equipa local colabora e integra a estrutura de Tecnologia e Inovação da empresa, uma unidade que desenvolve produtos de grande relevância estratégica, com o objetivo de reduzir a complexidade para os clientes e apoiá-los na integração e ampliação do seu cenário de TI”, explica Luís Urmal.
“Diga-se que o investimento da SAP e a criação desta nova área de desenvolvimento em território português é um passo subsequente do rápido crescimento do sector nacional de Tecnologias de Informação”, acrescenta o diretor-geral da multinacional em Portugal. Os perfis de talento que a SAP integra neste centro são diversos e vão desde a formação em engenharia de software, a arquitetos e programadores de software.
Este artigo integra o Especial Tecnológicas escolhem cada vez mais Portugal para fixar centros de competências globais
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