Até final de junho, a Madeira recebeu 3 mil nómadas digitais no âmbito de um projeto que pôs a ilha nas bocas do mundo e a atirou para o top 10 dos melhores destinos mundiais para este tipo de visitantes. No início de setembro estavam na ilha 500 nómadas, sendo que desde o início desta “aventura” promovida pelo Governo Regional da Madeira e pela Startup Madeira, a ilha recebeu 8.500 candidaturas de nómadas de 105 países.
O Digital Nomads Madeira começou a ser testado na Vila da Ponta do Sol, em fevereiro de 2021, num piloto pensado para seis meses. O sucesso da experiência ditou a intenção de estender o projeto a toda a ilha - foram entretanto já criadas comunidades noutros pontos da ilha - e também ao Porto Santo, já em outubro.
A iniciativa arrancou com um investimento público de 30 mil euros e rapidamente atraiu uma rede de parceiros que criaram uma oferta de serviços talhada para estes viajantes, que trabalham enquanto conhecem o mundo. Desta rede fazem parte comunidades de nómadas digitais; empresas locais, como hotéis e proprietários de alojamento locais; empresas de animação turística; serviços de restauração; rent-a-cars; serviços de saúde, consultoria, advogados entre outros. Na Ponta do Sol foram já montados três espaços de Cowork: Centro Cultural John dos Passos, Nini Design Center e Hub Remotely @ Hotel Vila Galé.
A Madeira apurou que os nómadas na ilha gastam, em média 1.800 euros, gerando um forte impacto na região numa altura em que o turismo convencional quase desapareceu
As estimativas do Governo Regional apontam agora para que o segmento possa passar a ter um impacto anual na economia da Madeira de 18 milhões de euros. Desde fevereiro, esse impacto ronda já 1,5 milhões de euros mensais, que refletem uma estimativa de gastos mensais por nómada de 1.800 euros, numa altura especialmente difícil para o turismo da região e em resultado de uma aposta que acabou por abrir novas portas.
“Julgo que fizemos a leitura correta do momento e soubemos aproveitar o facto da pandemia estar a acelerar as novas formas de trabalho e isso foi importante para a Região, sobretudo durante um período mais crítico da pandemia, quando vários países impuseram restrições à circulação dos cidadãos, gerando um impacto muito negativo para o sector do Turismo”, admite Rui Barreto, secretário regional da economia.
A intenção agora passa por diversificar a base económica do projeto, aproveitando este segmento que está em franco crescimento. “Esta é também uma excelente promoção do destino Madeira, da qualidade de vida, das suas gentes e da sua cultura”, acrescenta o responsável.
O sucesso do Digital Nomads Madeira atirou o projeto para uma segunda fase, onde a Ponta do Sol e os seus três espaços de coworking continuam a brilhar, mas o grande foco está agora na expansão do conceito. “Nesta segunda fase, a expectativa do Governo Regional é a de que sejam entidades privadas a escolherem os melhores locais, avaliando localmente o custo de oportunidade para realizarem os seus investimentos, procurando criar e dinamizar comunidades à volta da ilha”.
Para trás fica o esforço bem-sucedido de desenvolver uma estratégia integrada de atração deste mercado, promovendo a Madeira como um dos melhores locais no mundo para trabalhar remotamente, que partiu da adaptação de um conjunto de infraestruturas às necessidades dos nómadas.
Açores e Madeira desenham hub de comunidades nómadas digitais
Mas a Madeira não é o único destino português a atrair nómadas digitais. Lisboa lidera há cerca de dois anos a tabela dos melhores locais do mundo para nómadas digitais da Nomad List, uma referência nesta área. O Porto preenche a 7ª posição desta tabela e a Ericeira ocupa o 1oº lugar. A Madeira caiu entretanto alguns lugares na lista, mas Gonçalo Hall, consultor que trabalhou com a Startup Madeira para lançar o projeto, acredita que o destino tem condições para se manter nos lugares do topo da tabela, sobretudo porque soube criar uma envolvente indispensável para atrair nómadas digitais. Manter o sucesso passará agora por continuar a atrair parceiros para dinamizar o ecossistema.
Várias outras cidades portuguesas têm também já comunidades de nómadas digitais, que acolhem não só estrangeiros que passam por Portugal, como portugueses que descobriram os encantos deste estilo de vida durante a pandemia e continuam a aplicar a receita, na medida do possível. É o caso de Sofia Soares, que experimentou a vida de nómada na Ponta do Sol, quando o teletrabalho era a única opção na multinacional onde trabalha em Lisboa, e acabou por perceber que a partilha de experiências e vivências nestas comunidades e espaços de trabalho partilhados abrem horizontes.
Portugal tem várias cidades na lista das melhores do mundo para nómadas digitais. Lisboa lidera, Porto e Ericeira também se destacam.
“Não ia com grandes expectativas e talvez por isso tudo me surpreendeu. O tipo de pessoas com quem convivi, tanto no âmbito pessoal como profissional, fez-me pensar”. Regressou ao continente a saber que quer continuar “a partilhar para que a minha forma de trabalho seja melhor” e convicta de que, alargar horizontes para além do mindset da empresa onde trabalha, favorece esse crescimento também em benefício da empresa. Vai compensando a impossibilidade de voltar para já a manter o full remote, passando algum tempo a trabalhar em comunidades de coworking que foi conhecendo pelo país.
Para quem vem de fora o bom tempo, a envolvente, o custo de vida e a coesão são normalmente fatores a favor das comunidades nómadas mais populares do país. Um potencial que na opinião de Gonçalo Hall, ele próprio nómada digital, podia ser melhor aproveitado, se Portugal tivesse uma estratégia clara e integrada nesta área. O aspeto mais crítico, na sua opinião, passa pela criação de um visto especial para nómadas digitais, “uma medida que a maior parte dos nossos concorrentes já têm”, Espanha incluída.
“O que temos até agora são iniciativas regionais ou privadas. Falta uma estratégia nacional, integrada. Temos todas as condições para sermos líderes mundiais deste mercado”. Se mesmo sem uma estratégia Portugal tem várias cidades entre as melhores do mundo para nómadas digitais, onde seria possível chegar se existisse uma e se um organismo central, como o Turismo de Portugal, sugere, se ocupasse da promoção do país neste segmento, coordenando esforços para criar um roteiro nacional para nómadas, que listasse serviços, espaços de coworking e outros.
Ainda assim, novos projetos continuam a surgir. Um dos próximos vai nascer nos Açores já em outubro, alinhado com a experiência da Madeira. O ponto de partida é São Miguel, mas o objetivo é lançar vários micropolos nas diferentes ilhas, integrados num hub que vai ligar Madeira e Açores, adianta também Gonçalo Hall que está a trabalhar com o Governo Regional dos Açores para lançar o projeto.
Este artigo integra o Especial O futuro do trabalho já chegou e tem várias formas.
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