O mercado de trabalho na área da tecnologia continua a mexer. Emprego no sector não falta e, em algumas áreas, continuam a existir mais vagas que candidatos, mesmo no clima de incerteza de 2023. Atualizar ou adquirir novas competências abre portas para muitas destas oportunidades de emprego e as escolas de formação têm adaptado a oferta, multiplicando as opções para quem quer abraçar novas funções na tecnologia, ou ingressar nesta área profissional.
Como sublinha Luís Silva, “quem pensa em fazer uma reconversão profissional deve ter em mente que este será um processo difícil, visto que terá de voltar a investir tempo e dedicação na sua qualificação”. A maior parte dos cursos disponíveis tem um programa exigente, não só pelo investimento de tempo e dinheiro, como pelo nível de envolvimento que exigem.
A boa notícia é que quem se lança na aventura, volta à escola “com mais maturidade, mais assertividade e mais direcionamento, pelo que o output será muito mais rápido e mais eficaz”, reconhece o presidente da Porto Tech Hub. Ou seja, de impossível a missão não tem nada. Exigente é, mas pode ser abordada de diferentes formas, consoante os objetivos definidos. (Veja na galeria abaixo, alguns conselhos de quem está à frente de programas muito usados para reconversão profissional).
Os bootcamps, orientados para o ensino da programação de software, são um dos modelos de formação que se tornaram populares. Hoje existem vários em Portugal. São uma boa opção para quem vem de outras áreas, porque por norma não exigem formação de base em áreas tecnológicas - inglês é preciso saber porque ou é a língua de base ou há conteúdos no idioma.
Apostam em modelos imersivos, entre formatos online e presenciais. Não são baratos, mas apregoam taxas de empregabilidade superiores a 90% e têm diferentes opções de financiamento para amortecer os custos. Nalguns casos é possível inclusive ter acesso a bolsas de apoio, como a promovida pela Fundação José das Neves, para estudar primeiro e pagar depois, quando já existir um salário.
Este modelo de formação é muito usado por quem quer mudar de vida e ganhar bases para assumir novas funções profissionais em áreas tecnológicas, por opção ou falta de emprego na sua área profissional de base, mas também por quem quer progredir na carreira.
A Ironhack é responsável por algumas destas formações. Está em Portugal desde 2019 e já formou mais de 800 alunos. A maioria foi à procura de uma oportunidade para “mudar de carreira e de vida, mas também assistimos a muitos casos de sucesso de upskilling”, como explica Catarina Costa, responsável pelo Campus de Lisboa.
A Le Wagon, que explora o mesmo tipo de formato, também confirma que, entre os alunos portugueses, cerca de metade procuram a escola com intenção de mudar de área de trabalho. Como refere Nuno Loureiro, responsável pelas operações da Le Wagon no sul da Europa, “muitas vezes vêm incentivados pelas histórias de sucesso de antigos alunos nossos, provenientes dos mais diversos backgrounds, por exemplo, com carreiras em gestão, engenharia, hotelaria, restauração ou saúde".
Parcerias com ensino superior entre as opções de formação certificada
Além destas escolas, existem hoje várias outras iniciativas orientadas para a reconversão de competências, promovidas por diferentes tipos de entidades, que oferecem a mesma possibilidade de ingresso, mesmo sem formação prévia em tecnologia.
A Porto Tech Hub, associação criada em 2015 com o objetivo de promover o Porto como centro tecnológico e de inovação, tem duas. O SWitCH Dev e o SWitCH QA foram criados em parceria com o Instituto Superior de Engenharia do Porto, pelo que oferecem uma certificação de ensino superior, para além de assegurarem estágios em empresas da região, que também participam na componente mais prática da formação e ajudam a identificar as necessidades que deram origem aos programas.
O SWitCH QA, que é o programa mais recente, é um exemplo desse esforço. Como explica Luís Silva, “vem colmatar a cada vez maior procura por profissionais dedicados a testar a segurança e qualidade de aplicações tecnológicas”.
As empresas de formação mais tradicionais são outra opção para quem procura especialização ou competências básicas em alguma área tecnológica. A Rumos, conhecida pela extensa oferta de cursos na área das tecnologias, é uma das empresas que tem aberto o leque, para diversificar as propostas à medida de quem vem de outras áreas profissionais.
Aposta num formato Academia, ajustável a diferentes perfis e carteiras (disponibiliza opções de pagamento faseado até 18 vezes).
“As Academias são programas completos de diversas áreas de formação em TI, desenhados segundo a procura que as organizações espelham nas oportunidades de emprego que apresentam e complementados com certificações técnicas relevantes” explica Inês Vacas, responsável de marketing.
Estas Academias, procuradas por particulares, mas também cada vez mais por empresas que chamam a si o reskill e upskill dos colaboradores, são compostas por duas ou três partes, que correspondem a diferentes níveis de conhecimento, do iniciado ao avançado. Quem frequenta, pode optar por fazer a formação completa ou por partes, de acordo com o nível de conhecimento e objetivos. A primeira parte não exige conhecimentos técnicos específicos, para além de informática na ótica do utilizador e conhecimentos de Inglês.
Além de servir as necessidades de quem está a começar na tecnologia, o modelo tem sido amplamente usado por quem quer aprofundar competências, garante a empresa. Alguns exemplos mais frequentes serão os de quem quer complementar os conhecimentos de infraestruturas de redes, com competências na área de cibersegurança; acrescentar a competências na área das bases de dados outras que lhe permitam criar soluções de Data Science; ou evoluir do Desenvolvimento para uma abordagem DevOps.
Fabricantes de software também promovem formação
Quem pretende começar uma nova carreira na tecnologia deve ainda estar atento às oportunidades de formação que vão sendo promovidas pelas empresas do sector, de forma aberta e acessível a qualquer interessado. Algumas optaram por ter um papel mais ativo no combate à escassez de recursos e promovem elas próprias, ou empresas parceiras, programas de formação centrados nas suas tecnologias, abertos a quem tenha interesse em inscrever-se.
O software de gestão é uma das áreas onde isso se verifica com frequência. Só a Cegid (que integra a Primavera) tem duas iniciativas. O (Re-Start) está orientado para a formação básica em programação, de quem vem de outras áreas profissionais, enquanto o Score forma e certifica futuros consultores no ERP Primavera. Mais de metade dos 800 formandos que por lá passaram não faziam parte do ecossistema Primavera, garante Susana Teixeira, Academy Head Manager do Grupo Primavera, A Cegid Company.
Estas são apenas algumas opções para quem procura uma nova vida na tecnologia, ou quer potenciar a oportunidade de progredir na carreira, num mercado promissor mas exigente. Como sublinha Catarina Costa, a área da tecnologia “está em constante progresso, logo exige uma, também constante, aposta na formação”.
No universo das empresas que falaram com o SAPO TeK para este artigo estes são, dos próximos cursos em agenda, os mais procurados por quem se prepara para uma futura carreira na tecnologia, aqui listados para informação mais detalhada sobre formato, âmbito ou preços. São algumas opções, existem muitas outras.
Bootcamp de Web Development da Ironhack
É o programa mais popular desta escola de formação, que garante ter taxas de empregabilidade associadas aos seus cursos, acima dos 90%, muito graças às parcerias que já existem com diversas empresas.
Próximas datas: 27 de março (online) e 10 de abril (presencial)
Duração / Regime: 24 semanas em tempo parcial - 18h30-21h30 + sábado / 9 semanas em tempo integral - 9h-18h
Onde: Lisboa
Preço: 6.500€ (presencial); 7.500€ (online)
Condições de acesso: Não requer formação ou experiência prévia. Teste de raciocínio e entrevista interna de competências pessoais
Bootcamp Data Analytics na Le Wagon
Esta formação é a mais recente na oferta da Le Wagon, que até aqui se manteve fiel à dupla de opções Web Development e Data Science. A novidade é uma resposta à crescente procura do mercado. A Le Wagon garante que as suas taxas de empregabilidade rondam os 97% e que o salário médio anual de partida, de quem encontra um novo emprego depois da formação ronda os 25 mil euros.
Próxima data: 17 de abril
Duração /regime: 2 meses - 9h às 18h (presencial); 24 semanas (online)
Onde: Lisboa ou Porto
Preço: 6.500€
Condições de acesso: Sem requisitos técnicos de acesso. Entrevista vídeo 30 minutos; passar num quizz que avalia raciocínio lógico e capacidades de aprendizagem
SWitCH Dev da Porto Tech Hub
Ensina engenharia e programação de software; Metodologias, ferramentas e técnicas de apoio e desenvolvimento ágil de uma solução de software em contexto empresarial. Integra estágio remunerado e nas sete edições já realizadas ajudou colocar mais de 200 profissionais de TI no mercado
Próxima data: Maio
Duração / regime: 1 ano, presencial
Onde: Porto
Preço: 2.950€
Condições de acesso: Ter uma licenciatura completa, em qualquer área
Academia Quality Assurance Tester da Rumos
Esta Academia é composta por duas partes, esta é a primeira. Nas seis edições já realizadas recebeu profissionais de enfermagem, consultores, vendedores e desempregados, que acabaram a trabalhar na área de Software Testing. Está direcionada para quem quer desenvolver o currículo e a carreira profissional na área do Desenvolvimento de Software.
Próxima Data: 10 de março até 26 de julho
Duração / regime: 112 horas, durante 4 meses. Pós-laboral, em dias alternados da semana
Preço: 2.300,00€ (que podem ser pagos em sete prestações)
Condições de acesso: Sem requisitos de formação prévia
Score da Cegid (Primavera)
Dá a conhecer os principais módulos do ERP Primavera, a metodologia de implementação de projetos da fabricante e acesso à certificação Technician – Primavera ERP, que vai permitir implementar e dar assistência à utilização do software de gestão. Da rede de parceiros Primavera hoje fazem parte mais de 500 empresas, o que ajuda a explicar a taxa de empregabilidade de 95% da formação.
Próxima data: 6 de março até 21 de abril
Duração / Regime: 164 horas / online
Preço: 1860€+IVA
Condições de Acesso: Sem requisitos técnicos específicos.
Quem já trabalha em tecnologia pode vir a encontrar na própria empresa oportunidade para progredir na carreira, através da formação. A Claranet é um dos fornecedores de serviços TI que decidiu fazer uma aposta forte nesta área, dirigida aos seus próprios colaboradores e aos clientes a quem presta serviços, procurando assim colmatar a escassez de competências em algumas áreas.
No ano passado lançou a Ignit “para criar, formar, recrutar e colocar nas empresas profissionais com elevado know-how e competência em tecnologias de informação”, explica Catarina Graça. Um dos instrumentos geridos pela nova marca do grupo é o IGNÍT University. Como explica a responsável de recursos humanos da tecnológica, abrange o segmento de formação corporativa interno e externo, com as Academias BuildNOW - estruturadas para as equipas internas da Claranet e as Academias reIGNITE - orientadas para a otimização de desempenho ou reajuste de competências de equipas de clientes ou outras.
Outras empresas encontram resposta às necessidades nesta área, através de parceiros externos, como a Rumos confirmou que verifica cada vez mais, ou a Le Wagon, que já tem uma divisão Business com formação customizada às necessidades das empresas, no mesmo espírito de Bootcamp dos cursos abertos.
“Apesar de um investimento ainda tímido das empresas do Sul da Europa na formação dos seus colaboradores, temos vindo a trabalhar com players líderes nos seus sectores como Bain, Chanel, IKEA ou Total, entre muitos outros”, revela Nuno Loureiro.
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