Em 2016, a Airbus viu-se envolvida num escândalo de corrupção e coube à Forensic Risk Alliance (FRA), uma empresa especializada na investigação de casos forenses complexos, encontrar provas de subornos numa autêntica “montanha” de documentos, emails e mensagens da gigante aeroespacial.
Para conseguir dar conta da missão e encontrar provas fulcrais entre múltiplas mensagens inócuas, a FRA recorreu a “ajudantes” informáticos dotados de inteligência artificial, explica Yousr Khalil, especialista da empresa que liderou a equipa responsável pelo caso, à BBC.
Ao todo, a equipa de 70 pessoas viu-se a braços com uma coleção de 500 milhões de documentos e registos de transações. Além disso, mais informações poderiam estar espalhadas pelos equipamentos, como portáteis, discos externos e drives USB, dos 800 funcionários internacionais da Airbus.
Os investigadores também tiveram de prestar atenção a materiais sensíveis, uma vez que os negócios da Airbus também envolvem projetos de aeronaves militares europeias. Nesses casos, o software utilizado permitiu recolher os dados necessários, sem “tocar” nas informações que deveriam permanecer secretas.
Para garantir a segurança da operação, os computadores usados, cada um com um custo de 100 mil dólares, não estavam ligados à Internet. Depois de a equipa eliminar documentos duplicados ou irrelevantes, reduzido a “montanha” para 60 milhões de ficheiros, o sistema de IA começou a procurar por determinados padrões fora do comum,
O sistema foi treinado para reconhecer subornos combinados através de códigos. “À medida que se identificavam cada vez mais exemplos de pagamentos secretos, a IA aprendia rapidamente”, indica Greg Mason, founding partner e responsável pelo departamento de análise de dados da FRA. A equipa implementou também um sistema de pontos que lhe permitiu diferenciar os aspetos que precisavam de uma maior investigação.
O responsável da FRA estima que apenas 5% de todos os documentos foram, de facto, avaliados por pessoas, embora a percentagem seja equivalente a 3 milhões de ficheiros. “A IA não é um remédio para todos os males, mas o ritmo a que aprende é extraordinário”, sublinha Greg Mason.
Embora tivesse de convencer os reguladores britânicos da validade da sua abordagem investigativa menos tradicional, que toma o nome Technology Assisted Review, a FRA conseguiu receber aprovação.
O projeto de investigação anticorrupção, que se estendeu ao longo de quatro anos, acabou por ajudar a Airbus a chegar a um acordo em 2020 com os reguladores britânicos, norte-americanos e franceses, no qual a empresa pagou 3,6 mil milhões de dólares pelos atos que cometeu.
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