Será o aperfeiçoamento do corpo humano através da tecnologia uma oportunidade para a Humanidade ou um sonho perigoso? Foi esta a questão que esteve sobre a mesa de debate do mais recente Kaspersky Next, o evento anual da empresa russa de cibersegurança.
É verdade que a procura por formas de melhorar o corpo humano data desde o início dos tempos e hoje temos um conjunto de tecnologias disponíveis que permitem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Na era digital, o conceito do aperfeiçoamento humano ganha uma nova dimensão e são múltiplos os desafios que têm de ser considerados.
Para abrir a sessão, Davis Jacoby e Marco Preuss, ambos membros da Equipa de Pesquisa e Análise Global da Kaspersky (GReAT) afirmam que uma das grandes questões levantadas pelo desenvolvimento do aperfeiçoamento humano prende-se com o fosso entre pessoas no acesso à tecnologia.
A regulamentação das tecnologias de melhoramento humano é, para os responsáveis, um ponto essencial. Caso contrário, o mercado ficará inundado de produtos que poderão colocar sérios riscos à vida humana. A questão afigura-se ainda mais complicada quando pensamos que as regulamentações precisam de ser aplicadas de forma consistente a nível internacional.
De acordo com Marco Preuss, esta é a altura ideal para discutir o impacto que estas tecnologias poderão ter na nossa vida e para começar a estabelecer regras para que não aconteça uma situação semelhante à do ecossistema IoT, amplamente explorado por cibercriminosos.
“Qual é o preço a pagar por todos os benefícios que o aperfeiçoamento humano pode trazer?”, questiona David Jacoby, afirmando ainda que “temos nas nossas mãos a oportunidade de evitar que o futuro seja uma distopia”.
Os desafios do aperfeiçomanto humano na sociedade
A Davis Jacoby e Marco Preuss juntam-se depois Zoltan Istvan, Autor e Fundador do Partido Transhumanista, e Julian Savalescu, Professor da Universidade de Oxford e Catedrático em Ética Prática no Uehiro Centre for Practical Ethics, para um debate acerca de todas as portas que o aperfeiçoamento humano poderá abrir.
Para Julian Savalescu, as tecnologias de melhoramento humano vão desenvolver-se através da força dos mercados. O cenário não é o mais ideal, podendo ser mesmo catastrófico, e o especialista afirma que é necessária uma “bússola” que seja capaz de guiar este desenvolvimento tendo em vista o benefício da Humanidade.
Já Zoltan Istvan acredita que o mercado será um dos grandes impulsionadores das tecnologias de melhoramento humano. O fundador do Partido Transhumanista sublinha que é necessário “deixar que as pessoas decidam”, isto é, desde que “não causem algum tipo de dano aos outros”.
“Estamos a melhorar-nos não só por motivos de saúde, mas também para não «perdermos terreno» em relação às máquinas”, enfatiza Zoltan. “A minha grande preocupação é que sejam postos limites ao desenvolvimento desta tecnologia e aos benefícios que ela pode trazer”.
Por outro lado, Marco Preuss explica que a liberdade é de facto importante, mas temos de pensar como é que ela pode ser exprimida neste âmbito. “Como é que uma única pessoa é capaz de prever o impacto das suas ações na totalidade da sociedade?”, questiona o responsável, lembrando que vivemos num mundo ainda muito “centrado em si próprio” e que a perspetiva apresentada por Zolton pode tornar-se perigosa.
Mas como regular as tecnologias de aperfeiçoamento humano? David Jacoby e Marco Preuss defendem que é necessária uma estratégia a nível internacional, uma vez que esta é uma questão que tem um forte impacto na totalidade da humanidade. Permitir que cada país crie as suas próprias regras poderia aumentar ainda mais as desigualdades entre a população. “A sociedade precisa de definir qual é a direção que quer seguir em conjunto”, enfatiza Marco Preuss.
No entanto, tanto Zoltan Istvan como Julian Savalescu defendem que cada país deverá estabelecer um conjunto de regras, tendo sempre em vista o benefício da sociedade em geral. O professor da Universidade de Oxford relembra as “tentativas desastrosas” de entidades internacionais como a OMS ou a ONU a nível de regulamentação.
O “comboio” do aperfeiçoamento humano está já encaminhado, e embora ainda haja muito caminho para percorrer, todos os membros do painel concordam que é necessário que a sociedade abra o debate em torno dos benefícios e dos riscos destas tecnologias.
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