A história da Via Láctea acaba de ganhar novos contornos com o contributo da missão espacial Gaia da ESA, que descobriu duas surpreendentes correntes de estrelas que se formaram e entrelaçaram há mais de 12 mil milhões de anos.

Chamadas Shakti e Shiva, as duas correntes ajudaram a formar aquilo que os astrónomos encaram como a “infância” da Via Láctea. São ambas tão antigas que provavelmente se formaram antes mesmo dos braços espirais e do disco que a galáxia apresenta atualmente.

Cada um destes fluxos contém a massa de cerca de 10 milhões de Sóis, com estrelas com 12 a 13 mil milhões de anos de idade, todas movendo-se em órbitas muito semelhantes com composições idênticas.

“A forma como estão distribuídos sugere que podem ter-se formado como fragmentos distintos que se fundiram com a Via Láctea no início da sua vida”, refere Khyati Malhan, do Instituto Max Planck de astrofísica, na Alemanha, principal autor do estudo publicado no The Astrophysical Journal, citado pela ESA.

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Usando observações do Gaia, os investigadores foram capazes de determinar as órbitas de estrelas individuais na Via Láctea, juntamente com o seu conteúdo e composição.

“À medida que descobrimos partes surpreendentes da nossa galáxia, como as correntes Shiva e Shakti, estamos a preencher as lacunas e a pintar um quadro mais completo não só da nossa morada atual, mas da nossa história cósmica mais antiga”, diz Timo Prusti, Cientista do Projeto Gaia na ESA.

Há cerca de 12 mil milhões de anos, a Via Láctea era muito diferente da espiral ordenada que vemos hoje. A nossa galáxia foi-se formando à medida que múltiplos filamentos longos e irregulares de gás e poeira se fundiram, todos formando estrelas e envolvendo-se para desencadear o nascimento da Via Láctea como a conhecemos. Parece que Shaki e Shiva são dois desses componentes, explica-se.

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“Revelar mais sobre a infância da nossa galáxia é um dos objetivos do Gaia, e está certamente a alcançá-lo”, sublinha Timo Prusti. “Precisamos de identificar as diferenças subtis, mas cruciais, entre as estrelas da Via Láctea para compreender como a nossa galáxia se formou e evoluiu. Isto requer dados incrivelmente precisos - e agora, graças ao Gaia, temos esses dados”.