Depois de números mais “contidos” no primeiro semestre de 2020, as vendas de smartphones em Portugal voltaram a animar este ano, e a crescer, mostrando uma dinâmica que ainda não pode ser atribuída ao 5G e que acontece mais por força dos novos lançamentos e da renovação de equipamentos por parte dos utilizadores.
Segundo os dados da IDC, foram vendidos 563 mil smartphones no segundo trimestre do ano, mais 8% do que no mesmo período do ano passado. A GfK dá indicadores mais otimistas, com um crescimento de 13% em unidades e 22% em valor, mas não revelou números concretos ao SAPO TEK.
É nas quotas de mercado que se sentem porém as maiores diferenças. Nas últimas semanas, em diferentes conferências e comunicações, o SAPO TEK observou diferentes frontes de indicadores com posicionamentos díspares para algumas marcas, e isso fez com que procurássemos respostas para os vários indicadores.
A IDC é a empresa que avança de forma mais clara com a informação e com os indicadores de mercado, citando números, quotas de mercado e taxas de crescimento. Francisco Jerónimo, vice presidente da IDC EMEA para a área de equipamentos (Devices) explicou ao SAPO TEK que os números são obtidos juntos dos fabricantes, dos operadores e dos retalhistas, mas que pode haver metodologias diferentes, até na forma como se classificam os telemóveis.
A longa experiência de acompanhamento do mercado português é uma das bases de confiança nos números da IDC por parte dos fabricantes com quem falámos, sustentada também na análise europeia e mundial, mas mesmo estes números podem por vezes ser influenciados por fatores como o chamado “grey market”, com unidades que saem de Espanha para Portugal, ou vice versa, e que não são reportadas no país onde são efetivamente vendidas.
Do lado da GfK a empresa só forneceu ao SAPO TEK dados de vendas do trimestre, indicando um crescimento de 13% em unidades e 22% em valor, acrescentando que até agosto o mercado de smartphones está a crescer 9% em unidades e 13% em valor, desde o início do ano. “Por questões éticas e de modo a manter a sua imparcialidade, a GfK não partilha dados de resultados de fabricantes”, acrescentou a empresa em resposta às nossas questões. São números que a consultora comunica aos seus clientes, mas que estes não estão autorizados a divulgar.
A mesma fonte da GfK adianta ainda que na sua metodologia audita todas as marcas enquanto marcas individuais e não enquanto grupo, por isso “a Alcatel é uma marca distinta da da TCL, assim como a MI é uma marca distinta da REDMI, ainda que, e particularmente no caso da Xiaomi, aos olhos do consumidor MI e REDMI sejam Xiaomi”.
Outra fonte de dados que tem sido utilizada é a Canalys, onde existe uma diferença em relação à IDC para o segundo trimestre, com a Samsung a perder 4% em vendas enquanto a Xiaomi cresce 129% para 19% de quota de mercado e a TCL sobe 289% para os 16% de quota de mercado. Recorde-se que a nível global a Canalys já tinha colocado a Xiaomi em segundo lugar na venda de smartphones no 2º trimestre, em dados divulgados em julho deste ano.
O SAPO TEK tentou contactar a consultora para mais informação mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo.
Samsung segura liderança, Xiaomi e Oppo desafiam pódio
Os dados da IDC mostram que a Samsung mantém a liderança no segundo trimestre no mercado português, com 29% de quota de mercado, mas perdendo 3% face ao mesmo período no ano passado, enquanto a Xiaomi passa a deter 27%, num crescimento rápido face aos 9% registados em 2020. Em terceiro lugar está a Apple, que perde 1% de quota de mercado para os 14%, seguindo-se a Oppo que passa de 1% em 2020 para 12% do total de vendas em 2021, seguida da TCL/Alcatel, com 9%. A saída da Huawei da equação, passando a integrar o grupo de outros, é uma das principais diferenças a assinalar.
Francisco Jerónimo admitiu ao SAPO TEK que a Xiaomi vai chegar rapidamente a número 1, captando o espaço que a Huawei deixou no mercado, e que isso vai acontecer em Portugal e no resto da Europa. “Se não chegar a número 1 no terceiro trimestre vai fazê-lo no próximo ano, mas não no quarto trimestre por causa da Apple”, afirma o vice presidente da IDC EMEA para a área de equipamentos.
Mas se falarmos em termos de valores, as posições mudam e a Apple salta para a primeira posição. “A Apple tem 70% quota de mercado em todos telemóveis acima dos 700 dólares. É impressionante e não tem alterado substancialmente nos últimos anos”, explica Francisco Jerónimo, sublinhado que os novos iPhone 13, que foram anunciados na semana passada, vão permitir manter a mesma lógica.
“A Apple está a trabalhar para os clientes de há 3 anos atrás [atualizarem os smartphones]”, acrescenta o analista, lembrando que a inovação tem de estar pelo menos ao nível do que se faz em Android e fazendo um upgrade face aos modelos anteriores, até porque “o cliente quer garantir que está a comprar um dos melhores telefones nesse ano”.
Analisando a evolução da Xiaomi, Francisco Jerónimo lembra que a marca tem um posicionamento muito agressivo, mais focado na venda e na conquista de uma base instalada, e não na margem, e isso faz também com que seja mais difícil à Samsung responder a este crescimento, porque tem de ser lucrativa.
O SAPO TEK falou também com as principais marcas, e os operadores, sobre a evolução das vendas e do mercado, e em relação aos dados dos analistas.
José Correia, diretor de marketing de produto mobile da Samsung Portugal diz que, no total do primeiro semestre 2021 a Samsung ganha quota face a 2020, em unidades e em valor, em Portugal. O responsável afirma que “A análise que advém da Canalys não nos parece trazer um retrato fiel da realidade do mercado, porque desconsidera critérios que para a Samsung são críticos, como os números de sell-out oficiais”, mas sublinha que “em todo o caso, o mercado está claramente ativo e dinâmico e a concorrência é sempre salutar”.
“Sabemos o caminho que trilhámos até aqui e o que queremos fazer daqui em diante. O objetivo é continuar a manter a liderança no mercado nacional, que neste momento se situa na ordem dos 33% em termos de unidades vendidas, de acordo com os dados de que dispomos”, afirma José Correia, diretor de marketing de produto mobile da Samsung Portugal
A empresa faz a sua análise com base em números de sell-out oficiais, reportados semanalmente com todo o detalhe possível que é fornecido diretamente pelos retalhistas à GFK, que audita sensivelmente 50% do mercado português - retalhistas, pure players, lojas próprias fabricantes, sendo a restante amostra o canal dos operadores bem como B2B e alguns distribuidores mais pequenos, como explicou ao SAPO TEK.
“De acordo com os dados que recolhemos junto dos 3 operadores, as nossas quotas internas em cada um deles situam-se entre os 40% e os 50%”, adianta ainda José Correia.
Do lado da Xiaomi a confiança do crescimento registado é também sustentada na nova equipa que está a trabalhar o mercado português, considerando que este é ainda um ano de apresentação da marca em Portugal. “Fizemos um crescimento de uma forma muito rápida e uma conexão com as equipas locais dos parceiros uma evolução muito rápida. Conseguimos expandir e duplicar na maior parte dos retalhistas o nosso portfólio de equipamentos e o ecossistema […] daí que tenhamos um crescimento em Q2 muito acima do que cresceu o mercado”, explicou ao SAPO TEK Tiago Flores, responsável pelo mercado português.
As expectativas são positivas e passam pela liderança do mercado muito rapidamente.
“Temos todas as condições para continuarmos este crescimento rápido da marca em Portugal e alcançar a liderança muito rapidamente, ainda este ano”, defende Tiago Flores, lembrando que esta é uma época tipicamente forte em vendas, com a Black Friday e o Natal.
“Não estamos focados apenas nos smartphones, estamos muito empenhados em alargar o ecossistema e vamos trazer para o Q4 propostas muito significativas no que diz respeito a TV”, explica.
A mesma confiança no crescimento do mercado é partilhada pela Oppo, e ainda na apresentação do novo modelo Reno6, Javier Palacios, Diretor de Marketing da OPPO Mobile Espanha e Portugal lembrou que a empresa cresceu muito rapidamente e já é 4º no mercado mundial e na Europa.
“Tivemos um crescimento de 193% no primeiro trimestre de 2021 na Europa”, sublinha Javier Palacios, referindo que em Portugal a Oppo está no top 4 com 11% do mercado, com base em dados da GfK referidos na conferência de imprensa.
“Ainda estamos no princípio e a desenvolver o mercado”, afirma, lembrando que a Oppo abriu oficialmente o seu escritório há um ano em Portugal.
A TCL/Alcatel é outra das marcas que refere um crescimento significativo nos últimos meses, com base em dados da Canalys para o 2º trimestre do ano.
“O crescimento da TCL no mercado nacional de smartphones é reflexo da forte aposta da TCL em Portugal e do reforço das parcerias com os operadores móveis e retalhistas”, explica Tiago Sá Key Account Manager da TCL em Portugal.
“As vendas das marcas Alcatel e TCL têm crescido sustentadamente e conheceram uma nova dinâmica com a introdução da marca TCL e o excelente acolhimento dos modelos das series TCL 10 e TCL 20, que constituem uma oferta de valor incomparável”, sublinha.
Operadores reforçam aposta e lideram em volume de vendas
No último ano e meio o mercado assistiu a um reforço da posição dos operadores na comercialização de equipamentos, com os smartphones a ganharem mais peso na estratégia de angariação e fidelização de clientes.
“Os operadores nunca perderam totalmente liderança dos volumes vendidos. Sempre foram o canal mais forte, mas antes da pandemia os retalhistas ganharam muito peso”, explica ao SAPO TEK Francisco Jerónimo, da IDC EMEA.
O tempo de testes de produtos e de processos de certificação feito pelos operadores fez com que algumas marcas direcionassem parte do portfólio para os retalhistas, que usando as regras do mercado aberto conseguem importar diretamente e fazer preços mais competitivos com margens superiores, o que fez com que as lojas ganhassem uma posição mais forte no mercado.
Mas a estratégia dos operadores está a mudar, e com o 4P há campanhas mais agressivas, em que o objetivo é conquistar o consumidor para a rede. O objetivo deixou de ser vender cartões SIM e passou a ser mais relevante alargar negócio. “Estamos a passar para serviços digitais e é ai que operadores têm de controlar o negócio”, afirma.
Em resposta ao SAPO TEK, fonte da MEO afirma que “apesar do contexto social e económico nacional continuar a ressentir-se dos efeitos pandémicos, de forma genérica, as vendas de smartphones têm corrido bem, com o canal digital a crescer de forma significativa”, sublinhando que “o consumidor português é cada vez mais exigente com o evoluir da tecnologia, a facilidade da compra multicanal e o acesso a um volume crescente de informação”.
Por isso a marca da Altice Portugal acredita que o digital vai continuar a crescer mas o retalho físico continuará a ser muito importante em Portugal onde temos o hábito de ir ao centro comercial e fazer compras de rua. Nesse sentido “a MEO tem procurado um equilíbrio entre o valor da sua marca, traduzido na confiança; o fator experiência no ato da compra (online, com a melhoria contínua da experiência de utilização desde o momento de pesquisa de informação até a entrega do equipamento ao cliente e presencial - com a remodelação das suas lojas eliminando as barreiras físicas no atendimento e privilegiando a experimentação); o preço, cada vez mais competitivo e a conveniência na distribuição face às necessidades dos seus clientes”.
A entrada de novas marcas no mercado ajudou ao dinamismo, referindo a mesma fonte da Altice Portugal que tem “crescido de forma significativa a venda de smartphones 5G durante este ano”.
Da mesma forma a Vodafone Portugal refere que apesar da tecnologia 5G não estar disponível em Portugal, tem a rede pronta e que se nota “uma evolução mais rápida na disponibilização do 5G, seja ao nível dos chipsets, seja ao nível dos equipamentos que suportam esta tecnologia, ao ponto de, atualmente, cerca de 50% dos modelos disponibilizados na oferta da Vodafone já ser com a tecnologia 5G”.
A operadora sublinha também, em resposta ao SAPO TEK, que “a venda de smartphones continua a ter um peso bastante representativo na oferta de equipamentos da Vodafone e, ao contrário do que inicialmente se previa, o contexto pandémico não teve um impacto tão negativo no volume de vendas deste tipo de equipamentos”.
A mudança mais significativa é “dos canais típicos de venda, privilegiando-se cada vez mais o e-commerce, sendo que esta já era uma tendência na Vodafone, que a pandemia apenas veio acelerar”.
Fonte da operadora adiantou ainda que em termos do “mix” de produtos “a comercialização de equipamentos na Vodafone segue a tendência do mercado, com três marcas muito fortes e consolidadas – Apple, Samsung, TCL/Alcatel – e com o crescimento de “novas” marcas como a Xiaomi e a Oppo, a ocuparem o espaço deixado em aberto por outras marcas que existiam no mercado nacional”.
“Em alguns segmentos de preço estas novas marcas podem ser bastante fortes, colocando enormes desafios às marcas consagradas”, sublinha em resposta ao SAPO TEK, adiantando ainda que a pandemia e a crise de chipsets também têm provocado uma enorme instabilidade no mercado, nomeadamente ao nível da disponibilidade de stock, o que, em determinadas situações, representa uma oportunidade para novos players. Ainda assim a Vodafone Portugal refere que “além das marcas mencionadas, a Vodafone mantém no seu portfólio de equipamentos marcas como a ZTE ou Huawei”.
O SAPO TEK contactou também a NOS que não conseguiu responder em tempo útil para este artigo.
Para o último trimestre a expectativa é positiva e todos os players, de fabricante a operadores, acreditam que será um momento de crescimento das vendas, animado pelo lançamento os novos topos de gama da Samsung e Apple, e novos modelos da TCL, Xiaomi e Oppo.
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