Depois da declaração do estado de pandemia a 16 de março de 2020 com a COVID-19, as pessoas ficaram presas em casa, as escolas fecharam, os serviços essenciais pararam e passaram a fazer-se online e o “novo normal” passou a reger-se mais pela tecnologia, com o teletrabalho, a telescola, o ecommerce e serviços digitais a dominarem o quotidiano. Mas isso trouxe novos níveis de pressão e stress, como mostra o estudo desenvolvido pelo Observatório de Liderança e Bem Estar da Nova SBE.
A análise “Tecnostress – Uso da Tecnologia e Bem Estar no Contexto do Trabalho”, dos investigadores Filipa Castanheira, Pedro Neves e Inês Dias da Silva, revelam que uma parte substancial dos inquiridos sentem níveis elevados de tecnosobrecarga e tecno-invasão, com 47% a reconhecerem ter de mudar os hábitos de trabalho para se adaptarem às tecnologias móveis e 52% a sentirem que a sua vida pessoal é invadida devido a estes dispositivos.
Através de um questionário online a equipa procurou perceber como o stress ligado à tecnologia móvel, em contexto laboral, tem impactos na saúde e no bem-estar dos trabalhadores, assim como identificar os grupos demográficos em maior risco de desenvolver efeitos secundários adversos como a dependência da tecnologia, exaustão e outros sintomas físicos e psicológicos.
“Estas formas de tecnologia de informação e comunicação (TIC’s) têm o potencial de criar uma cultura organizacional sempre ligada, com fronteiras cada vez mais esbatidas entre a vida pessoal, familiar e laboral”, avisam os investigadores. Recorde-se que Portugal foi pioneiro a avançar com uma definição de um enquadramento de proteção aos trabalhadores, com o direito a desligar, que pretende impõe limites aos horários em que as empresas podem enviar emails e fazer chamadas para os seus colaboradores.
Apesar de já ter sido ultrapassada a fase de crise pandémica que tornou o teletrabalho obrigatório ou recomendado sempre que possível, muitas empresas estão a adotar modelos híbridos, que se tornam o novo normal, compatibilizando as deslocações ao escritório e a permanência em casa durante alguns dias. São estratégias de que o SAPO TEK deu conta e que agradam a muitos profissionais que já não se revêm no modelo tradicional “das 9 às 5”.
O estudo que hoje foi divulgado indica que esta situação de uso das tecnologias tem efeitos que podem ser negativos. Entre as principais conclusões o estudo revela que uma parte substancial dos inquiridos sentem níveis elevados de tecnosobrecarga (35%) e tecno-invasão (42%), sendo que são os homens quem reporta maiores níveis de tecnosobrecarga e tecno-invasão.
Veja os dados do estudo em maior detalhe
“Os níveis de tecnostress têm também expressão na saúde e bem estar, estando a invasão e sobrecarga das tecnologias associadas a queixas psicossomáticas e exaustão emocional uma a duas semanas mais tarde face à exposição”, indica o estudo.
Juntas, estas duas questões explicam mais de 25% da variabilidade dos indicadores de saúde e bem-estar analisados.
Segundo os dados, efeito resulta principalmente do aumento da dependência das tecnologias e não da redução da motivação dos indivíduos, sendo que a dependência manifesta-se em comportamentos tais como negligenciamento de actividades importantes, incapacidade de descansar, discussões sobre o uso da tecnologia e empobrecimento da vida social.
Como evitar o Tecnostress?
O Observatório de Liderança e Bem Estar da Nova SBE reuniu algumas recomendações ao nível sistémico, organizacional e individual, baseadas na evidência empírica, no sentido de melhorar a saúde e o bem-estar no contexto do trabalho. Fruto da investigação realizada, a equipa sugere:
- Desenvolvimento de politícas organizacionais para gerir o papel das tecnologias na sobrecarga e invasão, através de legislação e regulamentação interna em linha com a que foi publicada em Portugal que regula o contacto do empregador fora de horas de expediente.
- Formação das chefias sobre o potencial impacto negativo das culturas sempre conectadas, através da sensibilização para as consequências nefastas na saúde e no bem estar do mau uso da tecnologia no trabalho. Uma cultura que premeia respostas rápidas pode estar a premiar dependência e não engagement.
- Capacitação dos indivíduos para a gestão ativa das fronteiras entre o trabalho e a vida pessoal e familiar, fomentando métodos de gestão da interface trabalho e vida pessoal, contemplando o uso adequado da tecnologia móvel em trabalho e nos momentos de lazer.
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