Os bootcamps são uma tendência que se tem afirmado na formação em tecnologia, sobretudo na área da programação. Quem procura estas formações imersivas e intensivas, que aliam teoria e prática, tem os perfis mais diversos e as motivações também podem ser bem distintas. Predominam os candidatos com background de gestão ou engenharias não informáticas, à procura de melhores oportunidades de carreira e também se destacam empreendedores a querer desenvolver produtos de base tecnológica.

Mas, nos dois últimos anos, com a COVID-19, o leque abriu-se e a diversidade de pessoas interessadas nestes cursos aumentou. Muitos profissionais de áreas especialmente afetadas pela pandemia, como o turismo ou a aviação, viram aqui uma hipótese para substituir o emprego que perderam. Profissionais da área da saúde também passaram pelas últimas edições dos cursos da Le Wagon, uma das escolas internacionais de código com presença em Portugal. Não estavam à procura de emprego por não terem um, nem de um salário melhor. Quiseram mudar de vida essencialmente por questões de saúde mental, admite Nuno Loureiro, que dirige as operações da Le Wagon no sul da Europa, e decidiram apostar numa formação em web development.

O formato Bootcamp tem vindo a ser cada vez mais usado e procurado também para facilitar evoluções na carreira, quando isso passa pela necessidade de adquirir competências tecnológicas em áreas específicas, como Data Science, com a importância que a análise de dados ganhou em muitos sectores.

Parte dos alunos que passam pela Le Wagon para fazer formação nesta área não estão à procura de um novo emprego, mas de novas ferramentas para responder a evoluções na sua área de trabalho, embora alguns acabem na mesma por mudar de profissão, como o médico que foi recrutado por uma consultora.

Lisboa é um tech hub que atrai empreendedores de vários países também para fazerem formação

Neste mix de perfis e motivações estão os cerca de 800 alunos que já passaram pela Le Wagon em Lisboa nos últimos seis anos. Muitos são portugueses, muitos não são. A escola de Lisboa tem uma forte procura de estrangeiros, entre empreendedores e nómadas digitais, que juntam uma necessidade profissional à oportunidade de vir conhecer uma cidade com todos os atrativos de lazer que se conhecem.

O boom do empreendedorismo em Portugal e a necessidade de quem lança um negócio de base tecnológica, ou dirige uma área de negócio com essas características, aprender os passos necessários para lançar um novo produto, já tinham dado um forte impulso na procura de bootcamps nos primeiros anos deste tipo de escolas.

Clique nas imagens para mais detalhes

Esse perfil continua a ter um peso importante entre os alunos nacionais da La Wagon e também se destaca em quem vem de fora, a olhar para Lisboa como uma cidade com um ecossistema forte de inovação. Há muita curiosidade sobre os temas da Web 3.0 (NFT ou blockchain, por exemplo) e as vantagens fiscais para negócios à volta disso em Portugal, admite Nuno Loureiro.

A Le Wagon nasceu em França e hoje está em mais de duas dezenas de países. A escola de Lisboa é a quarta maior e em breve não será a única no país. Estão a ser fechados os últimos detalhes para criar mais um polo no norte, possivelmente no Porto.

Vai ser crítico para fazer crescer o projeto em Portugal, já que a formação aposta sobretudo na componente presencial, na proximidade (em média, há um formador por cada sete alunos) e no networking.

A estratégia desta escola em concreto tem passado por manter uma oferta concentrada apenas em dois cursos, que foi aperfeiçoando - web development e data science, em versão full e part-time - direcionados a adultos, que podem ter diferentes backgrounds, sem requisito específico de grau académico. A média de idades de quem frequenta ronda os 28-29 anos, mas também já aparece quem tenha decidido mudar de vida aos 68 anos.

Nuno Loureiro admite que há intenção de alargar a oferta formativa atual, mas para apostar em cursos mais curtos e mais especializados, sem sair das mesmas áreas e mantendo a premissa que fez nascer a escola: orientação ao produto e não tanto às linguagens de programação que vão ajudar a criá-lo. A ideia é que o aluno saia do curso a saber criar um produto do princípio ao fim, aprendendo a programar uma web app sozinho, ou, no caso da formação em Data Science, a saber fazer e colocar em produção um modelo de deep ou machine learning.

Taxa de empregabilidade de 97% até seis meses após bootcamp

Para quem procura uma formação deste tipo com intenção de abrir caminho para novas oportunidades profissionais, as estatísticas são atraentes. Até seis meses depois de acabarem o bootcamp, 97% dos formandos que passaram pela escola encontraram um novo trabalho com um salário que, em média, ronda os 25 mil euros anuais no primeiro emprego.

Para facilitar esse salto para o mercado de trabalho, a Le Wagon tem vindo a estabelecer parcerias com empresas da área do recrutamento. Neste momento tem cerca de 30 parcerias deste tipo ativas. A última semana dos cursos está também desenhada para preparar essa transição. Conta com vários workshops, dados por formadores internos e parceiros, que ajudam a preparar um currículo, uma entrevista de emprego, um perfil no LinkedIN, ou a resolver um technical challenge, por exemplo. A semana termina com uma MyJob Fair, uma feira de recrutamento onde alguns parceiros vão mostrar ofertas de emprego.

Poderão no futuro os bootcamps das escolas de código privadas virem a ser uma opção na formação financiada pelo Estado para reconverter competências? Nuno Loureiro defende que as taxas de empregabilidade deviam ser motivo para considerar opção e sublinha que em países como a Alemanha o apoio a este tipo de formação já existe e tem sucesso.