Por Lars Montelius (*) 

O ano de 2020 foi especial em tudo o que teve de mau e de bom. Todos nós temos testemunhado como toda a sociedade foi duramente afetada pela pandemia causada pelo vírus Sars-Cov-2, com consequências trágicas em todos os países. Todos nos vamos lembrar disso por muitos anos.

No INL, agimos como uma família que assumiu o compromisso de lidar com a situação criada pela Covid-19 com clareza e eficiência, sempre tendo a segurança dos INLers como nossa principal prioridade, mas também servindo a sociedade a todo o vapor e continuando a fazer o que fazemos melhor, que é entregar o nosso conhecimento e competências à sociedade, desbravando novos caminhos, e expandindo o nosso espaço de conhecimento.

No início da primavera, montámos rapidamente uma produção interna de milhares de viseiras de proteção que durante a primeira vaga de Covid-19 foram distribuídas pelos sistemas de saúde no Norte de Portugal e na Galiza, tendo chegado a hospitais, lares, corporações de bombeiros e forças policiais.

O ano de 2020 foi também caracterizado por um grande aumento do financiamento externo e tivemos assinalável sucesso em grandes projetos europeus e nacionais. Não poderia deixar de salientar o aumento das atividades relacionadas com a luta contra a Covid-19. Aqui, vale a pena mencionar o projeto de financiamento em cascata INNOV4COV-19, liderado pelo INL, e que vai acelerar um total de 30 projetos nesta área.

Além disso, no INL, desde o início, estabelecemos uma ação conjunta e interdisciplinar relacionada com a detecção do vírus Sars-Cov-2, tendo rapidamente identificado formas inovadoras de diagnóstico e triagem da doença. Algumas delas estão, após um notável esforço interno de investigação e engenharia, praticamente prontas para serem lançadas no mercado. Além disso, as nossas ambições nas áreas do Green Deal, Baterias e Hidrogénio colocaram o INL numa posição favorável no contexto europeu.

Resumindo, o ano de 2020, embora ensombrado pela pandemia, foi um ano de sucesso para o INL. Estou, por isso, muito grato a todos os INLers pela sua paixão e trabalho árduo, que fazem com que o INL se desenvolva continuamente e consiga gerar novos conhecimentos em benefício da sociedade.

Uma outra forma de olhar a ciência

Estou convencido de que este ano nos trouxe uma compreensão inigualável sobre a importância da ciência e do seu papel como uma das peças centrais para permitir a construção de uma sociedade próspera. A necessidade de trabalharmos juntos, além das fronteiras nacionais, também se tornou óbvia. A cooperação e a partilha de conhecimento são ingredientes essenciais para o sucesso da sociedade em geral. Por isso, também se tornou evidente que a ciência, sozinha, não é a resposta. Há uma crescente necessidade de integração eficiente do conhecimento científico na construção sistémica. Acima de tudo, cabe-nos um papel do qual não podemos abdicar. É o nosso comportamento que faz a grande diferença. Testemunhámos isso de forma clara durante este ano pandémico através de coisas tão simples como lavar as mãos, manter a distância física, ou usar máscara.

Devido ao surto de notícias e de informação relacionada com a Covid-19, este ano também marcou a mudança no debate e nas discussões científicas, que passaram a ser feitas nos meios de comunicação social. Normalmente, a ciência é comunicada nos media apenas depois de os cientistas discutirem internamente as novas descobertas e concordarem com o novo conhecimento entretanto gerado. Esta nova forma de debate científico público veio, provavelmente, dificultar o entendimento sobre a ciência e pode ter transmitido a ideia de que a comunidade científica não estava unida, podendo ter contribuído negativamente para criar um sentimento de insegurança na sociedade. No entanto, no fim de contas, estou certo de que o debate científico público criou uma compreensão geral mais ampla sobre a necessidade de integrar a ciência na vida quotidiana e de que nós, na sociedade científica, simplesmente não temos todas as respostas. Por isso, temos de trabalhar juntos.

A lição aprendida é que os passos dados por cada um de nós contam. Nesse contexto, o maior desafio que temos pela frente é a questão do clima. E temos de agir agora. As gerações atuais são as últimas que podem fazer alguma coisa. Estamos num ponto crítico. Juntos, podemos fazer as mudanças necessárias, permitindo que o planeta continue a ter condições que assegurem a nossa sobrevivência. E a ciência é, obviamente, uma necessidade absoluta para resolver este problema.

No início do próximo ano vamos lançar tecnologias inovadoras e também Start-Ups. Entre elas, vão estar novas formas disponibilizar o diagnóstico da Covid-19 como um serviço, permitindo que cada um de nós possa ter a confiança de não ser um propagador da doença, bem como sistemas para testes rápidos. Além disso, com base nos nossos clusters de investigação estabelecidos em 2020: NanoSistemas Digitais Inteligentes, Materiais e Computação Avançados, Energia Limpa, Tecnologia de Saúde de Precisão Personalizada, Ambiente Sustentável e, por último, mas não menos importante, FoodTure (Alimentação para o Futuro), vamos dar os próximos passos para atingir os objetivos da Visão Estratégica INL 2030.

Além disso, iniciámos já o processo para construir uma competência sólida no campo da nano-segurança e estamos agora na fase de estabelecer uma equipa de suporte de engenharia que vai ser fundamental para alcançar a nossa ambição para a próxima década no que diz respeito a um aumento substancial da atividades de investigação em ligação com a Indústria.

Como parte integrante desta ambição, simplificámos ainda mais o acesso às instalações científicas do INL: o Laboratório de Micro e Nanofabricação, o Laboratório de Nano-fotónica e Bioimagem e o Laboratório de Microscopia Eletrónica Avançada, Imagem e Espectroscopia, capazes de assegurar serviços internos e externos. Além disso, vamos continuar a impulsionar os processos de digitalização, nomeadamente das conferências científicas organizadas pelo INL.

No início de 2021, o lançamento do novo quadro de apoios da União Europeia (EU), Horizon Europe, é uma grande mudança de paradigma na Europa. O facto de passar a ser o Estado anfitrião da UE dá a Portugal muitas possibilidades de organizar encontros importantes que vão permitir que a investigação científica desenvolvida no País se torne ainda mais visível e floresça. Em particular, o Green Deal, com o desenvolvimento sustentado de uma maior eletrificação da nossa sociedade, oferece amplas oportunidades para Portugal nas áreas das Baterias e do Hidrogénio, no sentido de se tornar um importante player no cenário europeu através da integração de toda a cadeia de valor, desde a mineração de Lítio, passando pela refinaria e produção de baterias em Portugal (e na vizinha Espanha), bem como pelas oportunidades para a produção de células a combustível de hidrogénio.

A situação atual criada pela Covid-19 vai reduzir de forma bastante acentuada as viagens de negócios, o que pode, à primeira vista, ser percebido como algo que vai dificultar a possibilidade de capitalizar a Presidência Portuguesa da União Europeia. Por outro lado, isso dá a Portugal a oportunidade de assumir a liderança e se destacar na digitalização e na abertura de novas fronteiras nas reuniões digitais, abrindo caminho para o novo normal que vai estabelecer-se após o esperado fim da pandemia. Esta é uma grande oportunidade para Portugal se tornar um ator de alto nível na indústria da digitalização.

No nosso campo, o da Nanotecnologia e da Nanociência, um dos encontros mais importantes e pelo qual estamos muito ansiosos, o EuroNanoForum 2021, vai realizar-se em maio, organizado e acolhido pelo INL. Devido à Covid-19, o encontro será, muito provavelmente, um evento totalmente digital e pretendemos aproveitar ao máximo esta possibilidade, criando o maior evento de sempre, que irá colocar Portugal definitivamente no mapa mundial neste importante domínio da ciência, que é, desde 2008, a razão de ser do INL.

(*) Diretor-Geral do INL – Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia

Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021. Leia aqui todas as análises e artigos deste especial