TikTok conseguiu evitar, no último minuto, o cenário de interdição total em solo norte-americano que pairava sobre a plataforma há vários meses. No preciso dia em que expirava o terceiro e último prazo concedido pelas autoridades de Washington para a alienação das operações, a ByteDance anunciou a assinatura de contratos vinculativos com um consórcio liderado pela tecnológica Oracle e pela firma de investimento Silver Lake.

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Este desfecho, que só agora foi confirmado, deverá ser formalizado a 22 de janeiro, colocando assim um ponto final numa saga jurídica e política que começou com uma lei aprovada em abril de 2024, e que ameaçava deixar 170 milhões de utilizadores americanos sem acesso à rede social, transformando uma crise diplomática num acordo de partilha de capital e controlo técnico.

A nova configuração acionista dita que a ByteDance mantenha uma participação minoritária de 19,9%, enquanto a maioria do capital passa para as mãos de um grupo de investidores que inclui, além da Oracle e da Silver Lake, a empresa MGX, sediada em Abu Dhabi. Uma das componentes mais críticas deste entendimento prende-se com o algoritmo de recomendação, o motor de inteligência artificial que dita o sucesso da plataforma.

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Para mitigar as preocupações de segurança nacional levantadas pela Casa Branca, a Oracle passará a licenciar este algoritmo, que será sujeito a um novo processo de treino e auditoria num ambiente controlado, garantindo que os dados dos utilizadores dos Estados Unidos permanecem isolados de qualquer tentativa de manipulação externa ou acesso por parte do governo de Pequim.

Este compromisso surge após um período de intensa pressão política, marcado por sucessivos adiamentos e negociações diretas entre Donald Trump e o presidente chinês Xi Jinping. O acordo é visto por especialistas como uma solução de compromisso que permite a ambas as potências reivindicar uma vitória. Washington garante que o controlo dos dados e do algoritmo passa para mãos americanas, enquanto Pequim evita a humilhação de uma venda forçada total ou do encerramento da sua aplicação mais bem-sucedida no estrangeiro.

No entanto, o processo não está isento de críticas, com algumas vozes no Senado a questionarem se esta estrutura de licenciamento é suficiente para proteger a privacidade dos cidadãos a longo prazo. Para o ecossistema digital, o impacto deste anúncio é imediato e profundo, visto estarem em causa não só os milhões de criadores de conteúdos, mas também cerca de sete milhões de pequenas e médias empresas que utilizam o TikTok como a sua principal ferramenta de marketing e vendas.

Ao garantir a permanência da aplicação nos Estados Unidos, a ByteDance dissipa o espetro de um apagão digital que teria consequências económicas imprevisíveis. A partir de agora, o foco da indústria vira-se para a implementação técnica desta complexa segregação de dados, que servirá de barómetro para futuras disputas tecnológicas entre o Ocidente e o Oriente.

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