Depois da Counterpoint, também a IDC está a revisitar as estimativas de crescimento do mercado de smartphones e computadores. A consultora acredita que se a escassez de memórias persistir e os preços continuarem a subir - e provavelmente vão continuar - os fabricantes terão de aumentar significativamente os preços dos seus produtos, reduzir as especificações ou ambos.

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No que toca ao impacto nos preços dos produtos, por causa destes constrangimentos de mercado, a IDC avança com dois cenários mais pessimistas que os previstos nas estimativas oficiais, que para já não são alteradas.

No cenário moderadamente pessimista, os preços médios de venda dos smartphones podem aumentar entre 3% e 5% em 2026. No cenário mais pessimista entre 6 a 8%. Para o mercado de PCs, antecipa-se que os preços podem ficar mais caros entre 4% e 6% ou, no cenário mais pessimista, entre 6% a 8%.

Nos smartphones, o sistema operativo Android deve ser o mais ameaçado em 2026. “A tendência de uma década da indústria de democratizar as especificações, trazendo recursos emblemáticos para smartphones acessíveis, está a reverter-se”, diz a IDC.

IDC - impacto crise memória em 2026
IDC - impacto crise memória em 2026 créditos: IDC

Marcas como a TCL, Transsion, Realme, Xiaomi, Lenovo, Oppo, Vivo, Honor ou Huawei, mais direcionadas para produtos de gama média e com margens mais pequenas, vão ser as mais afetadas. “Este aumento nos custos afetará substancialmente as suas margens, e as marcas não terão outra opção a não ser repassar o custo (ou parte dele) para os utilizadores finais”.

A memória tem um peso significativo na estrutura de custos dos equipamentos móveis, mas pesa mais nos smartphones de gama média: pode representar entre 15-20% dos custos de material, enquanto nos equipamentos de gama alta tem um peso de 10 a 15%, segundo a IDC.

Há mais uma revisão em baixa nas previsões de vendas de smartphones para 2025
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No segmento de gama alta, marcas como a Apple e a Samsung também estão pressionadas mas mais protegidas pelas suas “reservas de caixa e contratos de fornecimento de longo prazo”, que asseguram necessidades para períodos de 12 a 24 meses.

Nos modelos mais caros é possível por isso que os preços não subam tanto, mas também é provável que 2026 traga poucas ou nenhuma novidade em termos de modelos com atualizações de memória. O padrão de memória RAM deve continuar nos 12 GB para os modelos Pro, em vez de aumentar para 16 GB.

Com os preços a subir, as vendas também devem descer mais que o previsto. Nos telemóveis podem recuar entre 2,9% e 5,2%. No mercado de PCs, antecipa-se que as vendas possam contrair até 4,9% (no ano passado recuou 2,4%), ou num cenário mais pessimista até 8,9%.

“O momento da escassez de memória cria uma tempestade perfeita para a indústria de PCs, colidindo com o ciclo de atualização do fim da vida útil do Microsoft Windows 10 e o impulso de marketing dos PCs com IA”, lembra a IDC.

Na questão da disponibilidade de tecnologia, as marcas mais fortes vão ter mais capacidade de influenciar os fabricantes e suprir necessidades, podendo até ter margem para ganhar quota a fabricantes regionais e menos influentes. A outros níveis todos os fabricantes terão de refazer contas e é a inovação que pode sair prejudicada.

IDC - impacto crise memória em 2026
IDC - impacto crise memória em 2026 créditos: IDC

Os PCs com IA (equipados com NGU) precisam de mais RAM. Os PCs Copilot+ da Microsoft, por exemplo, exigem no mínimo 16 GB. “À medida que mais modelos de linguagem pequenos e grandes são transferidos para os dispositivos, a memória torna-se ainda mais importante, com muitos sistemas de gama alta a migrarem para 32 GB ou mais”, destaca a consultora.

A indústria vai conseguir responder a esta necessidade, mas as marcas vão pensar duas vezes antes de avançar, por causa dos custos proibitivos que irá representar essa evolução.

Como chegámos aqui?

Se durante vários anos os mercados de telemóveis e computadores foram os grandes consumidores de soluções de memória e a prioridade dos fabricantes, hoje já não são. A inteligência artificial e os enormes requisitos de memória que os centros de dados alocados a tarefas de IA exigem, baralharam as contas e assim deve continuar por algum tempo.

“O mercado de memória está num ponto de inflexão sem precedentes”, admite a IDC, explicando que isso não se deve apenas ao facto de a procura a ultrapassar significativamente a oferta, mas também a uma realocação da capacidade de produção disponível.

Essa capacidade deixou de estar orientada principalmente para as necessidades da eletrónica de consumo, para passar a ter como prioridade as soluções de memória usadas pelos centros de dados de IA, um mercado com margens mais elevadas.

“Em vez de expandir a DRAM e a NAND convencionais usadas em smartphones, PCs e outros eletrónicos de consumo, os principais fabricantes de memória mudaram a produção para a memória usada em centros de dados de IA, como HBM (alta largura de banda) e DDR5 de alta capacidade”, acrescenta a IDC.

Isto restringiu o fornecimento de módulos de memória de uso geral e elevou os preços em toda a linha. E como os servidores de IA e os ambientes empresariais exigem muito mais memória por sistema do que os dispositivos de consumo, a expansão da IA está a consumir uma parcela desproporcional da capacidade global e a criar escassez.

O problema é que esta não é “apenas de uma escassez cíclica impulsionada por um desequilíbrio entre oferta e procura, mas de uma reafectação estratégica potencialmente permanente da capacidade mundial de produção”, sublinha a análise. “Cada wafer alocado a uma pilha HBM para uma GPU Nvidia é um wafer negado ao módulo LPDDR5X de um smartphone de gama média ou ao SSD de um portátil de consumo”.

A IDC prevê que o crescimento da oferta de DRAM e NAND em 2026 fique abaixo das normas históricas, com 16% e 17% ao ano, respetivamente. Também admite que os efeitos deste desequilíbrio podem prolongar-se até 2027 e diz que, já se pode dizer que “tanto para os consumidores como para as empresas, isto sinaliza o fim de uma era de memória e armazenamento baratos e abundantes, pelo menos a médio prazo”. Enquanto isso, o fnal do ano deve ser animado porque as marcas e lojistas apostaram tudo no reforço de stocks, anted que os custos se agravem.

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