Um relatório publicado pelo Conselho do Consumidor da Noruega revela como a Google e o Facebook usam os chamados “dark patterns” para levar os utilizadores a concordar com configurações de privacidade que resultam numa maior partilha dos seus dados pessoais. O estudo afirma que também a Microsoft, através do Windows 10, está a usar esses métodos, ainda que em menor grau.

Os “padrões escuros” são interfaces de utilizador ou redação de textos especificamente criados para que os utilizadores tomem involuntariamente uma decisão, como a de concordar com determinadas configurações de privacidade que vão contra o RGPD.

E ao primeiro dia de RGPD já há queixas contra Facebook e Google
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O relatório, intitulado "Deceived By Design", explica como esses “dark patterns” estão a ser implementados pelas tecnológicas ao mesmo tempo que classifica essa atividade de “antiética”, questionando se o consentimento dado nessas circunstâncias é de fato explícito, informado e livre, conforme exigido pelo novo Regulamento.

Um dos exemplos descritos no estudo é o dos utilizadores do Facebook que, ao recusarem ter o recurso de reconhecimento facial, recebem um aviso a indicar que a rede social ficará impossibilitada de usar essa tecnologia para descobrir se um estranho está a fazer-se passar pelo utilizador em questão.

A pesquisa argumenta que “esse enquadramento e a forma como o texto está redigido leva os utilizadores a tomarem uma decisão” que à partida não iriam tomar, fazendo-os sentir que a alternativa é “eticamente questionável ou arriscada”.

Também as cores dos botões são usadas para fazer com que a mudança para configurações menos intrusivas seja mais incómoda. Enquanto que a opção “Aceitar e Continuar” do Facebook é um azul reconfortante, escolher "Gerir as configurações dos dados" aparece em um cinza menos desejável.

Além disso, o texto dá a entender que o utilizador que prefira gerir cuidadosamente as suas informações pessoais vai ver muito do seu tempo consumido. Ao passo que é apenas preciso um clique para aceitar e concordar com as condições de utilização dos dados das empresas, são necessários 13 cliques para desativar a autorização de recolha de dados.

As gigantes tecnológicas já reagiram ao relatório, com a Google a declarar à Fortune que “nos últimos 18 meses, em preparação para a implementação do novo regulamento de proteção de dados da UE, tomámos medidas para atualizar os nossos produtos, políticas e processos para dar a todos os nossos utilizadores um controlo direto em todos os nossos serviços”. A Microsoft reforçou à BBC que os seus serviços estão “em conformidade com o RGPD”.

Como resultado do relatório do Conselho de Consumidores da Noruega, oito grupos de defesa do consumidor estão a pedir que sejam investigadas “as táticas enganosas e manipuladoras do Google e do Facebook para convencer os utilizadores a consentir configurações padrão invasivas de privacidade”.