Em 2025, a corrida ao Espaço tornou-se ainda mais concorrida, com projetos de startups e empresas que prometem desafiar o domínio da SpaceX, não só na área dos foguetões reutilizáveis, mas também nas constelações de satélites de Internet na órbita baixa da Terra.

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A empresa espacial de Elon Musk continua a ser um dos grandes players da indústria espacial e, este ano, teve vários momentos altos, a começar pelo papel que desempenhou no regresso dos astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, da missão Starliner, que ficaram retidos durante nove meses na Estação Espacial Internacional (ISS).

Além da missão Fram2, que levou os primeiros astronautas a explorar os polos a partir do Espaço, e de transportar uma nova expedição privada da Axiom Space à ISS, a SpaceX alcançou novos marcos com o Falcon 9 com a Starship, com que Elon Musk está a contar para assegurar a missão Artemis III à Lua, mas também as futuras viagens a Marte.

Em agosto, a Starship embarcou no seu 10º voo, conseguindo colocar em órbita um conjunto de satélites de teste e, em outubro, concluiu o seu 11º teste com sucesso, atingindo todos os objetivos antes de “mergulhar” no Oceano Índico.

Veja o vídeo do 11º teste de voo

Mas nem tudo correu como planeado com a Starship: os testes anteriores foram marcados por avarias e explosões. Ainda em junho, por exemplo, um teste ao estágio superior do foguetão acabou numa explosão.

Em maio, a Starship conseguiu atingir a órbita terrestre, mas acabou por partir-se, caindo no Oceano Índico e, no início de março, o foguetão explodiu pouco depois do lançamento. Já em novembro, um “percalço” explosivo voltou a marcar os preparativos para o próximo teste de voo.

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Os sucessivos atrasos no desenvolvimento da versão que será usada para levar astronautas à Lua levantaram dúvidas junto dos  peritos da indústria, com a NASA a anunciar que poderia considerar outras opções para a Artemis III. "Vou deixar que outras empresas concorram com a SpaceX, como a Blue Origin”, afirmou Sean Duffy, administrador interino da NASA, em outubro.

A empresa espacial de Jeff Bezos tem vindo a afirmar-se como uma das rivais mais bem posicionadas da SpaceX. Ainda em janeiro, a Blue Origin conseguiu lançar o seu foguetão New Glenn, um passo importante para receber as certificações da NASA para realizar missões privadas.

O foguetão New Glenn voltou a voar para dar “boleia” à missão ESCAPADE da NASA e, pela primeira vez, a Blue Origin conseguiu recuperar o propulsor.

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O sucesso na recuperação do propulsor coloca a empresa em posição para competir diretamente com a SpaceX, que já tinha conseguido o mesmo feito há 10 anos com o foguetão Falcon 9, mas ainda terá agora de demonstrar que é, de facto, capaz de reutilizar o booster recuperado.

A Blue Origin não é a única que se quer destacar nos foguetões reutilizáveis. A Rocket Lab, por exemplo, continua a desenvolver o muito antecipado foguetão Neutron, tendo realizado vários lançamentos bem-sucedidos com o Electron ao longo deste ano.

A Firefly Aerospace, que se destacou este ano com a sonda lunar Blue Ghost 1, também quer estar na corrida com o seu foguetão Alpha, se bem que, o último teste tenha acabado numa explosão.

Na China, a LandSpace também tem vindo a dar cartas como uma das mais avançadas empresas privadas de foguetões, como noticia a Reuters. Apesar de uma explosão no último teste ao Zhuque-3, a empresa mantém a ambição de ter um foguetão reutilizável funcional até meados de 2026, avança a agência noticiosa.

Órbitas "congestionadas" e mais lixo espacial

Se a competição continua a subir de tom nos foguetões, propostas como a da Amazon Leo, que resulta do Project Kuiper, da constelação em desenvolvimento da AST SpaceMobile e do projeto europeu que junta Airbus, Thales e Leonardo, querem concorrer com a Starlink nos satélites.

Mas, à medida que o Espaço se torna cada vez mais “concorrido”, aumentam as preocupações. Ainda em abril, a Agência Espacial Europeia (ESA) realçou que, com o aumento do lançamento de satélites, a órbita baixa e mais próxima da Terra está a tornar-se cada vez mais atulhada de lixo espacial.

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Um recente balanço da ESA apontava para a existência de mais de 1,2 milhões de detritos com dimensões superiores a um centímetro a orbitar a Terra. Cerca de 50 mil têm mais de 10 centímetros, tendo uma dimensão suficiente para destruir um satélite funcional em caso de colisão.

Estima-se que existam cerca de 12.000 satélites ativos em órbita, num número que está a preocupar os astrónomos pelo impacto negativo que causam nas observações espaciais, com o seu brilho a deturpar a visão noturna do céu e a confundir-se com o dos objetos celestes.

Apesar dos limites máximos de brilho estabelecidos pela União Astronómica Internacional, quase todos os satélites excedem-nos, aponta um relatório publicado este ano, com os da AST SpaceMobile a serem os que mais se destacam pela negativa.

Mais recentemente, um incidente entre um satélite chinês e outro da Starlink reacendeu o  debate sobre a urgência de coordenação espacial.

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Apesar disso, continuam a ser reunidos esforços para tentar “limpar” o Espaço e para reduzir o impacto ambiental do sector. Em junho, Bruxelas apresentou a primeira proposta para uma legislação europeia nesse sentido com o EU Space Act.

A legislação introduz regras para a localização de objetos espaciais e a redução da acumulação do lixo espacial, assim como para reforçar a segurança dos satélites contra ciberataques.

Aposta reforçada para a Europa e Portugal

Este ano, a Europa regressou à corrida espacial com a primeira viagem comercial do foguetão Ariane 6, mas este não foi o único momento importante para as ambições espaciais do “velho continente”.

Em novembro, a proposta de orçamento para 2026-30 avançada pela ESA recebeu luz verde no Conselho Ministerial em Bremen, com um total de 22,1 mil milhões de euros para avançar nas missões-chave e com mais peso na área da Defesa.

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Portugal reforçou o seu compromisso com o Espaço, com um investimento de 204,8 milhões de euros, numa subida de 51% face a dotações anteriores, juntando também os contributos das áreas da Defesa. Como destacado por Fernando Alexandre, Ministro da Educação, Ciência e Inovação, a resiliência e o transporte espacial são as duas áreas mais relevantes no investimento feito pelo país.

O contributo da região dos Açores foi destacado por Fernando Alexandre. Em Bremen, a ESA e a Agência Espacial Portuguesa assinaram um acordo que prevê um investimento de 15 milhões no futuro Centro Tecnológico Espacial de Santa Maria, que, em 2028, vai acolher o primeiro voo do Space Rider em 2028.

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Ainda estão a ser dados os primeiros passos rumo ao futuro porto espacial em Santa Maria, mas, a partir dele, o Atlantic Spaceport Consortium (ASC), que está a trabalhar para o desenvolvimento de um porto espacial aberto, com lançamentos espaciais regulares a partir da ilha açoriana, já conseguiu lançar os primeiros foguetões atmosféricos Gama com recurso a plataformas móveis, tendo atingido altitudes a rondar os 5 km.

Depois dos primeiros lançamentos de rockets atmosféricos vão seguir-se os de foguetões suborbitais. Mais tarde, o objetivo passa por avançar para os lançamentos orbitais, que requerem estruturas físicas mais complexas.

O ASC já tem um contrato assinado com a polaca Space Forest para lançar o foguetão suborbital Perun a partir de Santa Maria, na Primavera de 2026. Ao que tudo indica, este poderá ser o primeiro foguetão a chegar ao Espaço a partir do porto espacial português.

De olhos postos na Lua (e mais além)

Com 2025 a chegar ao fim, cresce a antecipação para as próximas grandes missões espaciais que vão marcar o novo ano. Mais de meio século depois da primeira missão tripulada a pousar na Lua ultimam-se preparativos para uma nova missão. O regresso à exploração lunar está a acontecer com a missão Artemis, que teve a primeira fase em 2022 e que segue em 2026 para a fase II.

Veja as fotos da preparação da Artemis II

O calendário definido apontava para o lançamento até abril de 2026, mas, em setembro, a NASA admitiu que possa acontecer mais cedo, se estiverem garantidas todas as condições de segurança para os astronautas. A primeira data apontada é a de 5 de fevereiro.

Na Artemis II vão participar quatro astronautas: Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Koch da NASA, acompanhados por Jeremy Hansen, da Agência Espacial Canadiana (CSA).

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Ao todo, a viagem, feita numa cápsula Orion, também usada na Artemis I, vai demorar 10 dias e orbitar a Lua uma vez antes de regressar a Terra, numa missão que servirá para realizar várias experiências e testes, em particular, no que respeita às condições de segurança e ao impacto na saúde e bem-estar dos astronautas.

Além da segunda fase do programa de exploração lunar, 2026 promete ter um calendário “em cheio” para as missões espaciais, bem como para testes, a começar pelo próximo voo da Starship que, segundo as previsões da SpaceX, ainda se mantém para o primeiro trimestre do novo ano.

Ainda no que toca às missões destinadas a explorar o satélite natural da Terra, a Blue Origin tenciona levar o seu veículo Blue Moon Mark 1 para a lua ainda no início de 2026. Em meados no ano, a missão chinesa Chang’e 7 poderá chegar ao polo sul da Lua e, já mais para o final do ano, chega a vez da Firefly Aerospace, com a segunda missão Blue Ghost.

2026 poderá também ver o lançamento da Haven-1, a estação espacial comercial que está a ser construída pela Vast, concebida para ser um laboratório de inovação aberto tanto a astronautas como a missões governamentais.

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A Martian Moons eXploration (MMX) da Agência Espacial Japonesa (JAXA), que vai viajar até à lua marciana Phobos, está prevista para o próximo ano e espera-se também que a Hera da ESA chegue ao asteroide Didymos para estudar o impacto da histórica missão Double Asteroid Redirection Test (DART) da NASA.

Em 2026, os telescópios James Webb e SphereX podem ganhar uma nova companhia. Apesar das preocupações levantadas pela proposta de orçamento da Administração Trump para a NASA, que previam o cancelamento da missão, o telescópio Nancy Grace Roman pode avançar mais cedo do que o esperado para o Espaço.

Veja o vídeo

Em novembro, a construção do telescópio ficou completa e, após os testes finais, será transportado para o Kennedy Space Center, na Flórida, com as preparações para o lançamento a começarem no verão de 2026. Inicialmente, previa-se que o telescópio fosse lançado em maio de 2027, mas previsões mais otimistas apontam para o outono do próximo ano.

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