O Mobile World Congress (MWC) voltou este ano na aproximar-se da força máxima em Barcelona, com mais de 88 mil visitantes a matarem saudades das feiras “à moda antiga” e em formato pré COVID-19. Depois de ter sido cancelada quase em cima da hora em 2020, de uma edição híbrida e reduzida em 2021 e uma feira ainda a meio gás em 2022, a indústria aprumou-se para trazer novidades na edição de 2023 e retomar contactos presenciais que tinham ficado em confinamento.

Com 8 pavilhões bem preenchidos e 2.400 expositores, integrando agora a feira de startups 4YFN que antes estava relegada para outro espaço separado em Barcelona, o mote escolhido de “Velocity” está bem aplicado. Não faltou animação e novidades no MWC, com demonstrações de robots, realidade virtual e aumentada, ecrãs flexíveis, novos smartphone e casos de utilização de 5G, já a espreitar a implementação dos modos standalone e a antecipar o 6G.

O SAPO TEK acompanhou os principais anúncios e novidades em produtos de consumo e soluções de indústria e a equipa passou pelos vários pavilhões à procura dos gadgets e tecnologia mais interessante, assim como dos expositores portugueses que marcaram presença em Barcelona.

Pelo espaço da feira, e nos vários eventos paralelos, não faltaram também muitos visitantes portugueses que foram a Barcelona conhecer as novas tendências, fazer reuniões com fornecedores, parceiros e clientes, e até receber prémios, como aconteceu com o prémio entregue pela MedUX à cidade de Lisboa pela melhor rede 5G, e a distinção da Ookla à NOS pela rede 5G mais rápida em Portugal.

Mesmo assim há quem note diferenças para a fase “pré-pandemia”. Paulo Trezentos, CEO & co-founder of Aptoide, é presença habitual no MWC onde tem estado como expositor e visitante nos últimos anos, e admitiu ao SAPO TEK que este ano “a MWC 2023 marcou uma certa inflexão na quantidade e qualidade dos stands e participantes. A pandemia fez as empresas participantes desinvestirem, seja nos stands, seja no número de participantes”. Sublinha porém que “a edição de 2023 já revelou uma actividade que não está ao nível dos anos de pico mas que demonstrou vitalidade e marcação da agenda das comunicações móveis e IT”.

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Tecnologia a acelerar para ecrãs flexíveis e em todo o lado

Os ecrãs deslizantes da Lenovo e Motorola, os óculos de realidade aumentada da TCL e os novos topo de gama da Xiaomi que impulsionam a marca para novas categorias de tecnologia e preços estão entre alguns dos destaques de que fomos dando conta durante o Mobile World Congress.

A aposta nos smartphones com ecrãs dobráveis, muitos dos quais não devem chegar à Europa, e os encontros imediatos com robots em vários locais da feira fazem também parte das notas de reportagem da equipa do SAPO Desporto, com boas e más impressões.

E para quem olha para o futuro das telecomunicações, foi também interessante ver o "pai" dos telemóveis, que fez a primeira chamada em rede móvel há 50 anos nas ruas de Nova Iorque, e que subiu ao palco para contar as suas experiências. Aos 94 anos Martin Cooper é um optimista quanto à evolução da tecnologia, mas mostrou-se preocupado com a privacidade.

Prémio entregue a Marty Cooper
Homenagem a Marty Cooper, o inventor do primeiro telefone móvel

Muitas das novidades viradas para o consumo estavam concentradas entre os pavilhões 2 e 3, especialmente no mundo dos smartphones e eletrónica, enquanto alguns países apostaram em representações agregadas, em pavilhões “nacionais”, onde convidaram empresas e startups a mostrar as suas soluções. A Huawei e a Ericsson voltaram a rivalizar para ver quem tinha o maior stand, e a Google manteve a aposta numa presença ao ar livre, com um ar jovem e ecológico, que até funcionou com o frio mas bom tempo dos dias de feira.

Virtualização, 5G em todas as bandas e convergência TI/Telcos

Como seria de esperar numa feira de telecomunicações, o 5G e as soluções de utilização das redes de nova geração estiveram em destaque. A GSMA apresentou logo no início do MWC os números de adoção do 5G a nível mundial, indicando que 30 países vão avançar com redes de nova geração em 2023 e que há uma evolução para uma segunda onda de implementação, e a mudança para o modelo standalone e 5G mmWave.

Para Judite Reis, diretora de mobile engeneering network da NOS, a nova geração das redes 5G com o 5G standalone já é uma realidade, com aplicações nas empresas, com IoT e sensores, e benefícios em termos de sustentabilidade. “Estamos a conseguir ser mais eficientes para os mesmos volumes de dados”, explica, lembrando que o tema da sustentabilidade se estende ao ecossistema de aplicações de negócio que estão a ser usadas nas várias áreas das organizações e nas smart cities.

“O 5G é um catalisador, está no centro de tudo, da Inteligência Artificial, Machine Learning, optimização de vídeo, mexe com tudo”, defende Judite Reis.

A adoção de standards abertos é também destacada pela diretora da NOS, com o Open RAN, onde já estão a trabalhar também os fabricantes mais tradicionais.

Na mesma linha, José Pedro Nascimento, diretor de Engenharia e Operação de Rede da Altice, sublinhou a aposta na virtualização da RAN como uma das tendências do Mobile World Congress, num caminho intermédio para o Open RAN, e que identificou como dominante em muitas apresentações dos fabricantes.

Também a tendência para ter 5G em todas as bandas, com as fabricantes de rede de acesso rádio a investir em antenas multibanda para melhor aproveitamento do espectro, foram aspetos destacados.

Para o diretor de engenharia e operações da Altice a crescente convergência entre o mundo das telecomunicações e das tecnologias de informação é também uma das notas relevantes do MWC, em especial com o advento dos hyperscallers. “Pode ser visto como uma ameaça [para as telecomunicações] mas é preciso saber jogar com a situação, fazendo parcerias e não ignorando a evolução que existe”, sublinha.

Esta convergência, em vez de uma guerra entre dois mundos, foi aliás um dos temas que dominou as atenções com a presença do comissário europeu Thierry Breton que na semana passada lançou uma consulta pública sobre o uso justo das redes. O debate sobre o pagamento de uma taxa de utilização das redes pelos serviços Over The Top (OTT) e os hyperscallers, como a Google, Meta, Netflix ou AWS, já se arrasta há alguns anos e numa altura em que a Europa quer acelerar a chegada de redes de alta velocidade a toda a população, na visão Gigabit, é cada vez mais relevante perceber quem deve suportar os investimentos.

As próprias empresas de telecomunicações têm feito um esforço de transformação do seu negócio, integrando mais as soluções de tecnologia, uma mudança que o comissário europeu lembrou que é fundamental. Paulo Trezentos acredita que isso já está a acontecer e diz que “há um esforço grande das Telcos de participarem na experiência digital dos seus utilizadores, para além do mero fornecimento de voz e dados”, adiantando que se viu que existem diferentes abordagens, desde o desenvolvimento da sua própria tecnologia ou opção por parcerias estratégicas.

A data para o próximo Mobile World Congress de Barcelona já está marcada para 26 a 29 de fevereiro de 2024 mas antes disso a GSMA vai organizar eventos similares em Shanghai, no final de junho, Las Vegas em setembro e Africa em outubro deste ano.

Para o ano lá estaremos novamente a acompanhar o que de mais interessante se passa pelo mundo da tecnologia e das telecomunicações, e esperamos com continue connosco!