As fabricantes de automóveis elétricos aéreos, conhecidos como eVTOL (Electric Vertical Take-off and Landing) continuam numa jornada entre o desenvolvimento e afinação da tecnologia, ao mesmo tempo que investem milhares de horas em testes de voo. Tudo embrulhado num longo processo burocrático e legislativo. Têm sido anos de um longo processo, com uma pandemia pelo meio que atrasou os planos de muitas startups.

Recentemente, Dirk Hoke, CEO da Volocopter, esteve presente no Web Summit para falar sobre o estado atual da empresa e o futuro da mobilidade aérea autónoma. Para ele, o futuro em que os céus estarão repletos de automóveis voadores não será muito longínquo e atualmente mais de 300 empresas estão dedicadas a explorar o sector dos VTOL.

Um dos desafios presentes nas empresas é a capacidade de levantar voo e aterrar na vertical. Isso deve-se ao consumo elevado de energia nestas manobras, o que depois tem impacto na autonomia do veículo.

Mas quem vai colocar nos céus o primeiro serviço de táxis aéreos autónomos ou robotaxis? A pergunta ainda deixa dúvidas, mas existem empresas bem colocadas na indústria, que podem testar o negócio. A Volocopter queria estrear os testes durante os Jogos Olímpicos em Paris este ano, mas problemas burocráticos obrigaram o adiamento, ainda assim previsto para este ano. Também a chinesa Xpeng procura entrar em produção massiva durante 2024 e entregar em 2025. Mas outras empresas estão nesta corrida… aérea.

Conheça as principais fabricantes de eVTOL:

1 – Xpeng AeroHT aposta em mobilidade modular aérea e terrestre

A proposta da Xpeng AeroHT é um veículo aéreo modular, em que o módulo terrestre transporta o aéreo. Ambos podem separar-se ou combinar, um para circular no asfalto ou pelo ar. O módulo terrestre fica também encarregue de recarregar o aéreo. A parte terrestre (Xpeng X1) assemelha-se a um SUV com tração 6x6 e controlo no eixo traseiro. Já a componente aérea (Xpeng X2) é um puro eVTOL com dois modos de pilotagem: manual ou automática. O veículo conta com um cockpit panorâmico, com uma perspetiva de 270º e lugar para duas pessoas.

Quanto ao futuro, o Xpeng AeroHT está a trabalhar no veículo há vários anos, tendo angariado em 2021, 500 milhões de dólares de investimento. Tudo indica que a empresa chinesa possa começar a aceitar reservas no próximo trimestre e entregar os primeiros modelos aos clientes em 2026. A empresa já solicitou a certificação ao regulador chinês da aviação civil e pretende começar a produção massiva ainda este ano.

2 – Volocopter VoloCity quase voou nos Jogos Olímpicos

A startup alemã Volocopter tem vindo a trabalhar no eVTOL Volocopter nos últimos anos e tinham como objetivo disponibilizar o táxi aéreo durante os Jogos Olímpicos em Paris, com uma plataforma flutuante no rio Sena. Infelizmente a burocracia atrasou os planos, não tendo recebido a certificação da Agência Europeia para a Segurança da Aviação devido a um atraso relacionado com os motores do veículo, com falha de um subcontratado norte-americano que não cumpriu a sua parte.

Ainda assim a Volocopter quis fazer demonstrações de voo a 50 metros de altitude com o seu protótipo, mesmo sem passageiros. O veículo tem dois lugares, um deles o piloto, tendo recebido autorização do governo francês. Ainda assim, a Volocopter quer começar negócio de táxi aéreo em Paris ainda em 2024. Os bilhetes vão custar 10 a 15 euros por quilómetro.

Além do Volocity, que tem o objetivo de transportar passageiros, de forma silenciosa e sem emissões, entre comboios e aeroportos em curtas distâncias, a empresa conta ainda com dois outros modelos no catálogo: o VoloRegion é um upgrade do primeiro modelo para distâncias maiores e com maior capacidade de transporte que inclui o piloto e quatro passageiros. Tem autonomia de 100 quilómetros e velocidades máximas de 250 km/h. Já o Volodrone é um modelo não tripulado, que serve para transporte da carga, para trabalhos em quintas e no campo.

3 - Wisk Aero da Boeing à espera de autorização do regulador

Ainda sem data definida, mas com esperança que aconteça ainda esta década, depois de superadas as aprovações regulatórias em decurso, a Wisk Aero, que pertence à Boeing é um dos principais nomes atuais da indústria eVTOL. O Wisk tem capacidade para quatro passageiros e espera nas primeiras gerações ter versões com condução assistida por piloto humano, reduzindo os custos iniciais e ter uma oferta de transporte mais barata.

O projeto nasceu em 2019, num consórcio entre a Kitty Hawk, criado pelo cofundador da Google Larry Page. A empresa, anteriormente conhecida como Zee.Aero, nasceu em 2010, mas foi descontinuada em setembro de 2022, mantendo-se o consórcio Wisk Aero com a Boeing.

A empresa já apresentou a sua sexta geração de eVTOL, maior e mais espaçoso, com capacidade para quatro passageiros e respetiva bagagem. O táxi aéreo autónomo tem a capacidade de alcançar uma altitude até 1.200 metros de altura e uma autonomia de 144 quilómetros a uma velocidade de cruzeiro de 110-120 nós. Tem uma capacidade de recarregamento total em 15 minutos.

4 - Joby Aviation já passeou pelos céus de Nova Iorque

A Joby Aviation é uma das empresas mais avançadas no processo de eVTOL e já realizou testes nos céus de Nova Iorque, juntamente com a Volocopter. Este foi o primeiro teste em ambiente urbano da empresa. A demonstração serviu de ilustração ao plano anunciado por Eric Adams, mayor da cidade de Nova Iorque, para eletrificar este heliporto público, com vista a transformá-lo num hub sustentável para transportes e entregas.

A empresa corre no objetivo de tornar o heliporto da baixa de Manhattan no primeiro do mundo a ter uma infraestrutura capaz de suportar veículos aéreos elétricos. Em junho, a empresa obteve autorização da Federal Aviation Administration (FAA) para voar e afirma que o seu táxi aéreo foi concebido para produzir um menor nível de ruído, o que poderá ser uma opção a considerar para operações em zonas densamente populacionais, como cidades.

Com mais de 48 mil quilómetros somados desde 2017, a Joby Aviation pretende lançar o serviço comercial de transporte de passageiros em 2025.

5 – SkyDrive é o eVTOL apoiado pela Toyota

Quando foi anunciado em 2020, previa-se que em três anos o modelo da SkyDrive e da Toyota estivesse na linha de montagem para o início das operações comerciais. Este é considerado o eVTOL mais pequeno do mundo a conseguir executar as manobras de descolagem e aterragem verticalmente.

A empresa já tem algumas ideias bem concebidas para o seu negócio, pretendendo facilitar as reservas e check ins através do smartphone, tal como faria para qualquer serviço de TVDE. O automóvel tem um lugar para o piloto e dois para os passageiros atrás, destacando-se um interior com janelas grandes para uma visão panorâmica dos céus. O plano da SkyDrive é enquadrar o veículo de forma dissimulada com os restantes sistemas de transporte, em plataformas colocadas em locais estratégicos. A empresa diz que virtualmente qualquer local da cidade pode ser utilizado para levantar voo e aterrar.

O veículo da SkyDrive tem 12 unidades de motores e rotores, numa composição que tem como base alumínio para ser leve, máximo de 1.400 quilos. Atinge os 100 km/h a uma distância entre 15-40 quilómetros.

6 - Hyundai S-A2 já tem autorização para comercializar e uso de passageiros

A Hyundai fez um ponto de situação muito recentemente, durante a CES 2024 do seu modelo eVTOL S-A2, que está a ser construído pela Supernal LCC, a divisão de Mobilidade Avançada Aérea. O modelo tem a capacidade para um piloto e mais quatro passageiros. Segundo a fabricante, o veículo atingiu o marco do roadmap da Supernal para a comercialização do aparelho.

O objetivo é juntar a mais inovadora engenharia aerospacial da Supernal com o design estético da Hyundai, para criar um novo modo de transporte rápido e a curtas distâncias. Se tudo correr como nos planos da empresa, o S-A2 vai chegar ao mercado em 2028, depois de atingir os níveis de segurança necessários para a aviação comercial.

Com uma cauda em forma de “V”, o S-A2 foi desenhado para voar em modo cruzeiro a 190 km/h, a uma altitude de 1.500 a cerca de 457 metros de altura. O objetivo é fazer viagens com distâncias entre os 40 a 65 quilómetros. O veículo tem uma arquitetura de propulsão com oito rotores.

7 - Klein Vision AirCar não é ficção científica é um automóvel com asas

Imagine um automóvel convencional, mas quando necessário acelera, abre as asas e levanta voo. Esta é a visão da eslovaca Klein Vision para o seu AirCar. É literalmente um automóvel com asas, que foge aos restantes modelos eVTOL ao não ser um eVTOL. E se está a pensar se o modelo realmente voa, este já passou nos diversos testes. Em 2021 já realizava voos de 35 minutos, ligando os aeroportos de Nitra e Bratislava, na Eslováquia.

A empresa explica que o AirCar é composto por diversas unidades funcionais. A sua fuselagem aerodinâmica permite espaço para os passageiros e uma melhor experiência a levantar voo. Além das asas retráteis, o veiculo conta com uma cauda dobrável e um sistema de paraquedas. Os componentes juntam-se para oferecer estabilidade, comportando-se como um avião convencional. Mas no modo carro, este tem um tamanho mais compacto e pode circular nas estradas.

A empresa já pensa em outras utilizações para o veículo e tem quatro modelos. Tem uma versão de dois lugares e outro de quatro. Tem ainda um terceiro com dois motores gémeos que é mais potente. Por fim, a família fecha com uma versão anfíbia, que o transforma numa experiência próxima de um hidroavião. Como curiosidade, o conhecido músico Jean-Michel Jarre serviu de cobaia, tornando-se o primeiro passageiro do mundo a levantar voo neste veículo.

8 – Pop.Up Next, o táxi aéreo da Airbus e Audi em fase conceptual

O automóvel conceptual Pop-Up Next, que está a ser construído pela Airbus e a Italdesign, que pertence à Audi, destaca-se por ser mais um modelo modular. Foi construído para ser utilizado na estrada, assim como no ar. É a contribuição do consórcio para lidar com os problemas de tráfego e permitir deslocações rápidas citadinas.

O veículo ainda é um conceito, mas irá utilizar diferentes tecnologias de interação, incluindo reconhecimento facial e voz, rastreamento ocular e ainda funcionalidades táteis através de um ecrã de 49 polegadas. Já a cabine do automóvel permite levar dois passageiros. A empresa prevê o lançamento do Pop-Up Next em 2030, recorrendo ainda a uma plataforma de inteligência artificial, que através de indicações do utilizador gere o percurso, oferecendo caminhos alternativos quando necessário.

Um dos aspetos interessantes do seu design é a cápsula do veículo, integrado num chassis de fibra de carbono que o transforma num automóvel convencional. Mas este módulo pode ainda ser integrado num comboio ou eventualmente num sistema de hyperloop.

9 – Pivotal Helix quer juntar pilotos experientes e iniciantes

Com um design algo diferente de outras propostas, o Helix é um eVTOL leve construído pela Pivotal. É um modelo de uso pessoal, com apenas um lugar e promete ser fácil de controlar tanto para pilotos experientes como iniciantes. O modelo tem ainda capacidades anfíbias, pelo que deverá ser utilizado tanto no ar como na água. O objetivo é oferecer uma viagem segura, confortável, mas também agradável ao utilizador.

A Pivotal já começou a aceitar encomendas, com um preço de 190 mil dólares, para um veículo que circula a baixas altitudes e percursos curtos. Todos podem conduzir este veículo, mesmo quem não tenha licença de piloto, embora seja necessário fazer uma formação básica e conhecer as questões de segurança.