Por Pedro Serra (*) 

Não é fácil pensar na indústria dos transportes sem considerar o papel que o software tem na mesma. Desde o início dos tempos modernos, são múltiplas as evoluções neste setor que foram desenvolvidas essencialmente a partir de software com o objetivo de melhorar a eficiência e a segurança. Dos airbags aos sistemas de travagem antibloqueio (ABS), à telemática ou aos sistemas anticolisão, há um mundo de inovações ligadas ao desenvolvimento de software que transformaram a indústria e influenciaram profundamente o seu futuro.

Especialmente na área da segurança e eficácia, há um claro antes e depois do software como parte integrante da “linha de montagem”. Olhando para o futuro, continuará a ser mais importante do que nunca e será uma arma crucial na eletrificação da indústria dos transportes, com a área dos camiões e autocarros a não ser exceção. Naquela que será uma das maiores batalhas que enfrentaremos nas próximas décadas, a de diminuir as emissões desta indústria que contribui, segundo a Agência Internacional da Energia, para cerca de 9% do total de emissões totais globais de carbono, o software terá um papel central a desempenhar.

A transição do diesel para os veículos elétricos no mundo dos transportes envolve várias variáveis e, acima de tudo, coloca várias questões. Os responsáveis por frotas de camiões ou autocarros perguntam-se: “Será que os percursos que faço agora com o meu camião a diesel podem ser feitos com um elétrico? Se precisar de carregar o meu autocarro, terei um lugar para o carregar? Quanto tempo vou ter de estar parado para fazer este carregamento? E, acima de tudo, quanto é que vou gastar (ou poupar) ao aderir a esta tecnologia?”.

E é aqui que o software, através de, por exemplo, aplicações de gestão de frotas e carregadores, ou aplicações móveis para a gestão de carregamentos, pode fazer a diferença, ajudando a indústria a responder a estas perguntas, com que antes, contando apenas com veículos a diesel, os negócios não se deparavam. Para os utilizadores destas soluções, o software será valioso nesta transição ao permitir a automatização dos processos e o acesso simplificado a uma visão global - algo especialmente valioso dado estarmos perante operações que seriam complexas ou impossíveis de realizar manualmente.

A integração é a chave do uso de software na mobilidade elétrica, unindo veículos, estações de carregamento e utilizadores num só ecossistema. No entanto, essa integração enfrenta desafios. A conectividade e a integração com outros sistemas, especialmente de hardware, apresentam obstáculos significativos. A validação desses sistemas é complexa e dispendiosa, especialmente no que diz respeito à automatização, devido à necessidade de utilizar hardware, como camiões ou carregadores, para testes.

Do lado dos utilizadores, surgem preocupações sobre a autonomia dos veículos elétricos, a disponibilidade de pontos de carregamento e práticas de condução adequadas. Superar essas barreiras exige uma abordagem criativa e colaborativa entre os principais intervenientes da indústria, onde o software pode ser crucial, fornecendo aos utilizadores as informações necessárias para manter ou melhorar suas operações, agora de forma mais sustentável.

O debate em torno da mobilidade elétrica representa uma oportunidade para repensar e redefinir os padrões da indústria dos transportes. Reduzir custos e emissões, enquanto tornamos operações mais eficientes e lucrativas não tem de ser um sonho longínquo. Ao promovermos a inovação e a sustentabilidade nesta área, veremos que o papel do software será mais vital do que nunca, rumo a uma era de mobilidade inteligente e sustentável

(*) Engineering Manager na tb.lx