Por Ivo Morais (*)
Nos dias que correm muito se tem ouvido falar de transformação digital, robotização, machine learning e inteligência artificial. Estas têm sido expressões muito utilizadas no nosso dia-a-dia, associadas a qualquer profissão, setor ou indústria, e a auditoria não é exceção.
A verdade é que a transformação digital é uma realidade e a evolução tecnológica vai continuar a forçar essa transformação. Não nos podemos esquecer que esta necessidade não é apenas gerada pelo setor de auditoria face à necessidade de resolver desafios atuais, mas também pelo facto dos clientes ou potenciais clientes deste serviço estarem sujeitos a esta transformação para darem resposta às necessidades impostas pelos mercados em que atuam, cuja resposta de auditoria aos riscos subjacentes a novos ambientes de negócio e de organização não pode ser feita sem recurso a novas tecnologias que tenham capacidade de acompanhar esta evolução.
Nesta temática verificamos que existe uma tendência para vaticinar uma disrupção abrupta ou para encarar a disrupção como uma ameaça, e não, como uma oportunidade que nos permite obter vantagens desta transformação. No recente estudo divulgado pela Mazars (The future of audit: market view. myths, realities and ways forward), foi abordado o tema da tecnologia no setor de auditoria e o seu impacto na perspetiva dos utilizadores deste serviço.
“Tecnologia importa: dá mais capacidade aos auditores, mas não os substitui”
Uma das conclusões mais interessantes deste estudo é a seguinte, “Tecnologia importa: dá mais capacidade aos auditores, mas não os substitui.” Conforme referido anteriormente, a evolução tecnológica nem sempre é vista como uma oportunidade, mas sim como uma ameaça, sobretudo porque muitas vezes é referido que a tecnologia irá substituir as pessoas, e também em auditoria essa referência tem surgido. Porém, o estudo revela que 96% dos entrevistados são a favor do uso de novas tecnologias no processo de auditoria, apesar de não consideram que exista uma substituição por esta via. Os benefícios mais citados pela incorporação de tecnologia são: 1. Time saving (93%); 2. Permitir que o auditor se concentre em tarefas de maior valor acrescentado (92%); 3. Dar aos auditores mais tempo para analisar e desafiar os dados (92%).
“A tecnologia é importante para o processo de auditoria e sua qualidade, mas os profissionais atrás dos ecrãs importam ainda mais”
Um dos outros resultados destacados e que acaba por estar interligado com a questão anterior, reforçando assim a perspetiva mencionada, é que a tecnologia é importante para o processo de auditoria e a respetiva qualidade, mas, os profissionais atrás dos ecrãs importam ainda mais. Ou seja, a capacidade de integrar novas tecnologias no processo de auditoria é um critério fundamental para a seleção de uma empresa de auditoria, mas as empresas valorizam mais outras qualidades dos auditores para além da tecnologia, nomeadamente, o conhecimento do negócio, a capacidade de entender o ambiente da empresa e trabalhar com as suas equipas, e por fim, a estabilidade das equipas envolvidas e a consistência da qualidade do serviço prestado. Estas qualidades foram destacadas por 77% dos entrevistados, seguidos de perto por “conhecimento técnico", "reputação", "objetividade e julgamento" e "forma de lidar com a cyber security". Este resultado reflete a tendência de seleção das qualidades mais comumente valorizadas que não podem ser replicadas facilmente pela tecnologia e este é um aspeto muito relevante a ter em consideração neste processo evolutivo.
Principais benefícios das tecnologias em auditoria sobre as quais os entrevistados concordam
Os principais benefícios identificados foram: 1. Reforço da eficiência, considerando que a tecnologia ajudará os auditores a economizar tempo; 2. Gestão de riscos e recomendações, pois existirá maior capacidade dos auditores para incrementarem a qualidade do processo de avaliação de riscos e para se concentrarem em tarefas e recomendações de valor acrescentado; 3. Confiabilidade: os entrevistados concordam que a tecnologia garante uma melhor confiabilidade ao processo de auditoria.
Usar a tecnologia para aperfeiçoar competências, e não substituí-las
Em resumo, podemos concluir que a tecnologia em auditoria tem um papel fundamental no reforço da eficiência e da qualidade, colocando ao dispor dos auditores ferramentas que lhes permitam ter maior concentração em tarefas e recomendações com valor acrescentado, e mais tempo e espaço para recuar, analisar e desafiar os dados obtidos. Contudo, há uma componente que não pode ser descurada neste processo de transformação, que é a importância das competências que devem ser garantidas num perfil de auditor, nomeadamente a capacidade de ouvir e entender, analisar e desafiar dados, usar o julgamento crítico e, em última instância, usar a tecnologia para aperfeiçoar essas competências, e não substituí-las.
A tecnologia emerge como um investimento que as organizações precisam fazer, mas isso deve ser feito em simultâneo com planos de desenvolvimento das pessoas para garantir conhecimento e competências críticas. Efetuado de forma correta, isso promete elevar significativamente a qualidade do processo de auditoria, bem como, a um reforço na capacidade das empresas em conseguirem atrair a próxima geração de auditores que procura incorporar valor acrescentado nas tarefas que executam, mas também que valoriza ambientes organizacionais focados nas pessoas e não, apenas, nas máquinas.
(*) Audit & Assurance Manager, Mazars Portugal
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